blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Arte Page 79 of 112

O Rio de Janeiro, segundo Wordsworth

Ralph Waldo Emerson, a respeito do poeta Wordsworth, que reencontrou durante uma viagem à Inglaterra em 1848:

“Julga o Rio de Janeiro o melhor lugar do mundo, para uma grande capital…”

Contos vingativos

Meus amigos mais próximos – e principalmente duas ex-namoradas – conhecem as circunstâncias em meio às quais se desenvolveram os contos d’A Tragicomédia Acadêmica. Esta semana, ao ler a entrevista concedida por Monteiro Lobato ao jornalista Silveira Peixoto, de uma certa Gazeta Magazine, dou com o seguinte trecho:

Meus contos foram quase todos vingancinhas pessoais, desabafos. Quando eu sentia necessidade de vingar-me de um sujeito qualquer, não sossegava enquanto o não pintasse numa situação ridícula ou trágica, que me fizesse rir.

É exatamente isso. Daí eu dizer a um webamigo, num debate via email, que a raiva pode ser muito bem aproveitada na criação artística. E ele veio com o papo de que isso é feio, de que o que vale é o amor… Claro, há o amor e o frenesi pela palavra, mas não sei se uma ostra tem lá todo esse amor pelo grãozinho de areia invasor que cobre de nácar…

Livro esgotado

Depois de a página do meu livro, neste site, ter sido visitada 764 vezes desde Julho e a página da Livraria Cultura, referente ao mesmo livro, ter recebido outras tantas visitas, o dito cujo se esgotou. Obrigado aos que o adquiriram. Infelizmente, não sei quando sairá uma nova edição d’A Tragicomédia…, pois estou sem editora no momento. (E portanto sem nenhum exemplar aqui comigo.) Vou acender uma vela pro Monteiro Lobato e ver o que rola.

Vai tocar, Wagner Tiso!

O músico Wagner Tiso, em entrevista ao jornal O Globo, provou que como pensador político é um ótimo músico, muito embora eu, com meu quê de João Cabral de Melo Neto, que não gosta de música (gosto sim), não saiba citar sequer uma de suas composições. Imagino que o cara seja na verdade um entrante, isto é, o Wagner original desencarnou e cedeu o porco, digo, o corpo para a falecida Velhinha de Taubaté, que hoje o habita. Do contrário, como explicar que, após tantas denúncias e testemunhos (incluindo o do governador de Goiás), o cara ainda acredite que o PT não se envolveu com corrupção e ainda tenha a manha de afirmar que voltará a votar no Lula? E chega a defender o governo alegando que nosso grande estadista aumentou a distribuição de renda, diminuiu a fome e todas essas mentiras que a publicidade petista tenta nos impingir. Incrível, chega a ser hilário. Ele só admite que o PT tenha manuseado – eu diria encuecado – R$55 milhões para molhar a mão de partidos aliados durante a campanha, o que para ele é perdoável, já que se tratava de verba com “destinação política”.

A Colorsplash da Lomo

http://www.lomography.comHoje à tarde, aqui no Pulse Studio, troquei uma idéia com o Henri, diretor de arte da agência Leo Burnett, e ele me falou a respeito dessa câmera Colorsplash, da Lomo, uma espécie de Lada das câmeras fotográficas. Sim, uma máquina russa que sobreviveu ao ocaso da União Soviética. Segundo ele, a onda agora é comprar uma dessas geringonças – que contém flash colorido intercambiável – e colocar as fotos no fotolog da própria Lomo. É uma idéia das mais interessantes uma câmera com diversas cores de flash. Deve ser ótima para registrar nossas baladas vampirescas de cada “dia”. Mas infelizmente ela ainda usa película, o que dificulta um pouco a logística de um fotolog. Mas tá valendo.

Amigos e bibliotecas

Sempre que me hospedo com meus amigos acabo por também visitar e revirar suas bibliotecas. No apê do Rodrigo Fiume “bati um papo” com o Caio Fernando Abreu, com o Nélson Rodrigues e, principalmente, com o Rubem Braga, que muito me agradou. Fiz questão de ler esse último – do qual conhecia muito pouco – depois que o Alex Cojorian e o Bruno Borges me disseram que sou um bom cronista. Se o sou, devo me remeter a um mestre, pensei, para voltar a me sentir ruinzinho e ter um motivo para continuar melhorando. Dei muita risada com o Rubem Braga, principalmente com as crônicas da borboleta amarela (dica do Rodrigo) e a da viagem a Casablanca. É como ler um irmão mais velho cheio de gênio e humor. É o tipo do cara que, num futuro que fatalmente virá, valerá a pena encontrar do outro lado para saber das novidades do universo.

Na casa do Dante, voltei a curtir um Emerson – seu Homens Representativos, seu relato do encontro com Wordsworth e Carlyle – e as Obras Completas do Monteiro Lobato, da qual escolhi um volume de entrevistas e introduções que ele escreveu para livros alheios. Eu não tinha noção da importância do cara para a indústria editorial brasileira. Antes dele, não havia edições com mais de mil exemplares e as livrarias de todo o país não passavam de quarenta. Essas edições levavam anos e anos para escorrer por aí, num ritmo de conta gota. E o Monteiro Lobato, indignado com essa situação das mais primitivas – sua editora não conseguia crescer – teve uma idéia das mais cibernéticas: escreveu para quase duas mil agências de correio de todo o Brasil, a solicitar endereços das respectivas casas comerciais locais, não importando se fossem livrarias, papelarias, quitandas ou açougues. Redigiu então uma carta (quase um manifesto) na qual propunha a consignação de livros, sublinhando o aspecto de mercadoria do mítico objeto. Assim, em menos de dois meses, as livrarias passaram de quarenta para mil e duzentas e ele chegou a publicar uma tiragem de cinqüenta mil exemplares de “Reinações de Narizinho”, que esgotou em menos de um ano. Daí para frente, o mercado livreiro, no Brasil, nunca mais foi o mesmo.

As pin-ups de Garv

Acho que todos conhecem as clássicas pin-ups do desenhista Alberto Vargas. Mas e as pin-ups de Garv – na minha opinião, seu sucessor – vc conhece?

www.GarvGraphx.com

www.GarvGraphx.com

Artistas: os únicos que trabalham?!

A Hannah Arendt sempre aparece com um “detalhe” conceitual para mudar nossa ótica das coisas. Hoje descobri que os únicos humanos que ainda trabalham, segundo ela, são os artistas, o que deve chocar muita gente. (Vide A Condição Humana.) Os demais ou estão na atividade do labor (a maioria, incluindo os profissionais liberais) ou da ação. Bem, o labor seria a atividade humana condicionada pela necessidade, tendo, portanto, como finalidade única a manutenção da nossa vida biológica. O trabalho seria a atividade que cria o mundo “artificial” em que vivemos, ou seja, a atividade propriamente humana. Já a ação seria a atividade mediada pelo discurso, aquela que ocorre entre humanos sem mediações de ordem material. Para Arendt, depois que a esfera social engoliu a esfera privada e a pública, o consumo – característica própria do nosso corpo, cujo metabolismo é um perene consumo de recursos – o consumo tornou-se regra e, hoje, consumimos bens e serviços tal como um corpo absorve e metaboliza água e comida. Daí a maior parte das atividades humanas estarem representadas pelo labor. Já a arte é, digamos, um luxo, não é necessária à manutenção da vida material. Segundo essa lógica creio que se poderia afirmar que arte não é profissão e que quem tem por ofício “produzir” arte não tem nada de artista. Rilke certamente concordaria com ela. (Bom, poderia entrar em outros aspectos, mas estou viajando e esqueci o livro em casa…)

Karlheinz Stockhausen

Eu pensei que já havia escrito sobre Karlheinz Stockhausen, mas não o encontrei no arquivo. Estranho. Tinha certeza de que já havia iniciado um artigo a respeito. Bem, já que no dia 22 de Agosto ele completou 77 anos de idade, farei ao menos um pequeno comentário.

Stockhausen é um dos pioneiros da música eletrônica, tendo passado pelas pouco palatáveis músicas serial, indeterminada e eletroacústica – aliás, muito interessantes para trilha sonora. (Que me desculpem os fãs.) Conversando com o compositor Paulo Guicheney, aluno do José Antônio de Almeida Prado, fico sabendo que o cara é considerado por seus pares um maluco, já que compõe óperas ou sinfonias que duram uma semana – que poderiam ser acompanhadas numa rave, imagino, de dentro de uma barraca – em geral baseadas na cosmologia do Livro de Urântia. Aliás, é o primeiro artista consagrado a utilizar o livro como tema. Há uma entrevista com ele neste site. A propósito: parece que ele anda dizendo por aí que veio de outro planeta…

A morte do MASP

Recebi o texto abaixo – de Mário Cesar Carvalho – da amiga Anna Christina de Oliveira. Trata daquele assunto bastante conspícuo: nossa elite é jeca, daí o Brasil ser o que é. Concordo com esse ponto. Mas não vejo nada de errado numa torre e, por outro lado, vejo tudo de em hospedar alguém como Marighela. {}`s

A morte do Masp

O Masp (Museu de Arte de São Paulo) não recebeu nem um centavo de doadores privados neste ano. Talvez por isso sejam reveladoras as fotos em que Julio Neves, o presidente do museu, aparece sorrindo na inauguração da Daslu, cujo prédio foi projetado pelo arquiteto. As fotos são reveladoras porque expõem cruamente o muro que separa os novos ricos do universo da arte: os que pagam R$ 4 mil por uma saia ou R$ 8 mil por um terno acham que não vale a pena dar um centavo para o Masp ou para qualquer outro museu. A ascensão meteórica da Daslu e a morte lenta do Masp parecem fazer parte de um mesmo fenômeno: aquele em que a elite paulistana abandona completamente a esfera pública, o espaço de convívio com os diferentes, para se isolar em bunkers como o que abriga a Daslu.

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