Ao chegar lá pela página 100 de O Coração das Trevas – cerca de 3/4 do livro – com o próprio coração já saindo pela boca, chega o inevitável momento de tomar um banho, porque é preciso sair de casa. A vida. O cotidiano. Busco, pois, um CD para trilha sonora de chuveiro e nada, nada satisfaz, nada à altura daquele primeiro encontro com Kurtz. Até que me cai na mão o CD que ganhei de aniversário do Rodrigo Lustosa – Arnold Schoenberg – e a faixa A Noite Transfigurada é simplesmente perfeita. E tomo o banho ainda n’O coração das trevas.
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O grande trunfo de J.J. Benítez, enquanto ficcionista, foi ter sido o primeiro a se inspirar no Livro de Urântia para escrever seus livros, principalemente a série Operação Cavalo de Tróia e a Rebelião de Lúcifer. E o irônico é não haver versões desses livros em inglês, já que a Fundação Urântia, segundo li por aí, ameaçou processá-lo por plágio. (Veja na Amazon, não há traduções desses livros para o inglês.) É como o Papa querer processar Kazantzakis, Norman Mailer ou Saramago por seus respectivos “evangelhos”. Puro absurdo.
“A maioria das peças modernas se refere às relações de homem para homem, porém isso não me interessa absolutamente. Estou interessado apenas nas relações entre o homem e Deus.”
“Cumpre ao dramaturgo, hoje em dia, cavar até às raízes do mal moderno tal como o sente – a morte do antigo Deus e o fracasso da ciência e do materialismo em apresentar um outro Deus que satisfaça ao primitivo instinto religioso sobrevivente, a fim de que nele o homem encontre um sentido para a vida, com o qual se conforte dos temores da morte. Qualquer pessoa que atualmente tente realizar uma grande obra, parece-me, deve ter este magno assunto por detrás de todos os pequenos assuntos de suas peças e novelas, ou estará simplesmente arranhando a superfície das coisas, não pertencendo senão à categoria dum proporcionador de divertimentos de salão.”
(Eugene O’Neil em carta dirigida a um amigo.)
“Muitas coisas deste mundo nos são dissimuladas, mas em compensação Deus nos concedeu a misteriosa sensação do laço vivo que nos une ao outro mundo, o mundo celeste, superior; e, aliás, as próprias raízes dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos não estão em nós, porém em outra parte. E é por isso que os filósofos dizem que não se pode conhecer na terra a essência das coisas. Deus tomou sementes que pertenciam a outros mundos. semeou-as nesta terra e cultivou o seu jardim. O que podia germinar cresceu, mas tudo que se podia desenvolver não viveu senão graças ao sentimento do seu contato com outros mundos misteriosos; se esse sentimento enfraquece ou desaparece da tua alma, tudo o que floriu dentro de ti morrerá.”
(Staretz Zossima em Os Irmãos Karamázovi.)
“Tudo vai bem com George Russel. O seu fantasma não se comunicará porque não tinha relações humanas e apaixonadas que o chamassem para trás. Minha mulher disse-me uma destas noites: ‘George Russel era a pessoa mais próxima de um santo. Tu és melhor poeta, mas não és santo’. Suponho que cada um tem de escolher na vida o seu caminho.”
(William Butter Yeats em carta dirigida a Dorothy Wellesley, em 1935, por ocasião da morte de George Russel.)
“James Joyce e D.H.Lawrence… quase restauraram para nós a simplicidade oriental, nunca romantizando os seus textos com palavras como ‘fogo essencial’, ‘escuridão’, etc., e Joyce nunca se afasta do sentido católico do pecado, do qual Rabelais parece escapar pela sua vasta energia. E, no entanto, por que não seguimos Swedenborg literalmente e pensamos que atingimos, em contato parcial, aquilo que os espíritas sabem por si próprios? Em certo passo o filósofo descreve-nos o encontro de dois espíritos que, ao tocarem-se, se transformam numa comunhão. As suas visões podem ser verdadeiras. As de Newton, não.”
(William Butter Yeats em carta dirigida a Olívia Shakespeare.)
Ainda não assisti a Kill Bill 2 porque apenas anteontem assisti ao primeiro filme. Ri muito no início, quando a filha da “vilã” volta da escola no meio da briga da mãe com a “mocinha”, e estas duas fingem, em meio a cortes, hematomas e destroços da sala, que estavam apenas conversando. Puro Tarantino. Depois acabam as contorções do roteiro – especialidade do cara – e o filme fica no visual, o que é entediante. Quase dormi na luta de espadas do restaurante. Matrix 2, 3, Tigre e o Dragão, ai, que sono. Certamente é um filme melhor de rodar que de assistir. De tirador de sarro de narrativas triviais Tarantino corre o risco de virar um narrador de trivialidades. Bonitas, fashion, mas trivialidades. Vamos ao segundo episódio para conferir.
O método de atuação de Stanislavsky realmente funciona. Buscar uma experiência pessoal análoga à do personagem… Eu ainda não havia compreendido o tamanho da decepção dos Democratas com a vitória de Bush. Aí me lembrei do dia 28/10/2002 e entendi tudo.
Enquanto isso, na Colômbia, os culturaholics de Medellín assistem a uma retrospectiva da obra de Glauber Rocha.
