Agora é a IBM que anuncia entrar nesse esquema de “gráfica inteligente”: um equipamento que permite a impressão de livros de acordo com a procura, sem aquela chateação de ter de encontrar um editor que só publique o livro numa edição de mil, três mil ou, sei lá, dez mil exemplares, o que, claro, implica grande investimento e risco. Não vejo a hora de entrar numa livraria e, num monitor, poder selecionar o livro de um autor pouco conhecido – tipo myself – e ter o livro impresso ali, diante dos meus olhos. Futuramente, uma editora já não precisará se preocupar com gráfica e distribuição, mas apenas com a seleção do texto, revisão, diagramação, layout, arte da capa, enfim, com a versão digital do livro que ficará arquivada numa dessas máquinas. Ou seja, até eu poderei ser meu editor…
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“Sim, há que endurecer-se. Temos de fuzilar essa gente que acabamos de fuzilar em Cuba, porque não merecem viver. São pessoas que tiveram oportunidade, trabalho, e escolheram o mau caminho, matar gente inocente, sabotar o turismo.”
Palavras do Señor Alberto Granado, amigo de infância de Che Guevara e autor do livro no qual Walter Salles se inspirou para realizar seu filme, “Diários de Motocicleta”. Quanta ternura, não?
Observando “noveleiros” da minha família e amigos — a própria Hilda Hilst adorava uma novela — percebi que, no fim das contas, para eles novela não é senão um jogo de futebol mais longo e complexo. Mesmo quando a novela vai mal das pernas, quando as reviravoltas e peripécias são inverossímeis, continuam lá, firmes, assistindo e torcendo para uma melhora do enredo. Reclamar reclamam, mas não arredam pé da frente da TV. (Hilda, por exemplo, fazia críticas e comentários impagáveis. Por conta disso cheguei não exatamente a assistir com ela uma novela, mas a assisti-la assistindo uma novela.) Enfim, reclamam, criticam, mas continuam cheios de esperança. Não é este exatamente o comportamento dos torcedores de futebol?
Sempre que revejo “De olhos bem fechados”, do Kubrick, me lembro da primeira vez que, em Brasília, li Arthur Schnitzler. Seus contos são excelentes, sempre indicando a decadência moral através de uma narrativa que mistura realidade e sonho, lucidez e embriaguês, sanidade e loucura. (“De olhos bem fechados” é a adaptação de um de seus livros, TRAUMNOVELLE ou “Romance de Sonho”.) Freud foi amigo e fã desse médico e escritor austríaco, Schnitzler. Quem ainda não o conhece não sabe o que está perdendo.
Segundo o psicólogo Otto Rank, a dinâmica do mal é a tentativa de fazer o mundo ser diferente do que é, de fazer dele o que ele não pode ser, um lugar livre de acidentes, um lugar livre de impurezas, um lugar livre da morte.
“Alguma coisa grave aconteceu ou está para acontecer. Os falsos padres são tão numerosos quantos os falsos escritores.” Vintila Horia
“Há, então, casos onde um fato não pode vir de todo a não ser que exista uma fé preliminar em sua vinda. E onde a fé em um fato pudesse ajudar a criar o fato, seria um lógico insano quem dissesse que a fé correndo adiante da evidência científica é ‘a mais baixa espécie de imoralidade’ na qual um ser pensante pode cair.” (William James, Desejo de acreditar.)
“É melhor arriscar a perda da verdade do que a possibilidade de erro: essa é a posição exata de quem veta a fé.” (idem.)
Rimbaud, numa carta de 1871:
“Digo que se deve ser um visionário – que é preciso tornar-se um VISIONÁRIO. (…) O poeta se torna um visionário através de uma longa, imensa e refletida desordenação de todos os sentidos. Ele busca todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura…“
Eu diria que os poetas conseguem essa “desordenação de todos os sentidos” exatamente por tentar ordená-los. É alguém que busca e, no caminho dessa busca, esbarra em amores, sofrimentos e loucuras. O poeta é alguém que teve o azar — acredite, neste nosso mundo é um azar — de ter uma percepção privilegiada.
“O Anticristo é o fantasma de toda a humanidade, gerado durante toda a sua evolução histórica. Ele é o ‘super-homem’ que domina a consciência de todos os que procuram elevar-se apenas pelo esforço próprio, sem a graça.” (Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô, autor anônimo.)
Taí uma descrição que se encaixa bem na personagem Grace (Graça!), do filme Dogville. Ela é o Anticristo.
No jornal O Globo, a colunista Cora Rónai anuncia o show de Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede, no Canecão. Assisti a esse show em Goiânia, meses atrás. Pirei a cabeça. Principalmente porque, em todas as suas intervenções, o Ney só cantou músicas dos Secos & Molhados. Para mim, não existem bandas nacionais que chegam aos pés dos Mutantes, da Legião Urbana e dos Secos & Molhados. Nos anos 90 me perdi pelas Raves, não sei se surgiram bandas tão boas quanto. (A não ser a dos meus amigos de Brasília, a banda Os Cachorros das Cachorras.)
