blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Economia

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Fim de semana passado, tive uma dessas discussõezinhas de bar com um amigo que trabalha no governo. Assunto: leis de incentivo ao Cinema. Ele me dizia que não tínhamos – eu e minha namorada, que é da Associação Brasileira de Documentaristas – por que reclamar dessas leis, uma vez que o papel delas é tão somente o de dar um empurrãozinho no Cinema, o de educar os empresários, fazendo-os perceber que apoiar a Cultura vale a pena. Meu Deus, eu dizia, como é que isso é possível? Se eu fosse empresário – e eu seria um empresário inteligente – e, sob o pretexto de me ensinar a apoiar a cultura do meu país, chegasse alguém com uma das seguintes propostas: a) reverter parte dos impostos da minha empresa para a produção do filme; ou b) dar uma grana do meu próprio bolso em troca de uma série de vantagens junto a regulamentos e/ou a tributos estatais X, eu abriria um bocão e diria: “guerapááááááá…” (Sabe, né, o guerapá daquele idiota da propaganda que ouvia “guerapá” ao invés do “Get up” do James Brown.) Ôrra, meu, além de o governo andar estrangulando cada dia mais o empresariado com mil impostos – daí a origem do desemprego -, ainda faz com que inocentes úteis, como eu, saiam por aí achando que é legítimo esse tipo de proposta indecente. Não seria mais fácil seqüestrar a esposa do cara, com permissão do governo, claro, e exigir como resgate que ele banque um filme? (Olhaí o argumento, já dá um roteiro.) Dito isto, meu amigo me pergunta, então, o que é que eu queria que o governo fizesse. Ora, em primeiro lugar o trabalho desses caras, desses empresários, não tem nada a ver com cinema, o negócio deles é sapato, rapadura, cuecas, camisinhas. O que a gente precisa é de gente nova, de gente que se tornasse empresário ao decidir se meter no babado, na produção de filmes. Para tanto o governo deveria fazer, não no mínimo mas no máximo, apenas o seguinte:

Crítica à mensagem anterior

Meu amigo Daniel Christino – professor de filosofia com quem ainda mantenho construtivos “arranca-rabos” – me enviou uma crítica bem interessante a respeito do que falei sobre a lei 10.454. O que eu disse, apesar de escrito de supetão e com certas incorreções, pode se resumir nesta minha opinião: os capitalistas brasileiros – esses ocultos detentores da bufunfa – morrem de medo de arriscar sua grana em nosso cinema. Quando digo arriscar quero dizer isso mesmo: tentar obter lucro sob o risco de não consegui-lo. Não estou falando de filantropia, e muito menos extrapolei a área cinematográfica. Aliás, num país com impostos tão elevados como o nosso, qualquer empreendimento torna-se um risco elevado ao cubo em comparação com outros países onde a tributação é racional.

Também sei que o governo realmente gasta muito com publicidade. Aliás, uma ex-namorada minha de São Paulo – que trabalhou na campanha do Fernando Henrique – me contou como a produção do comercial sobre Itaipú teve de se virar com computação gráfica para aplicar “fios de alta tensão” nas nuas torres de transmissão filmadas, dias antes, numa tomada aérea. Tudo para mostrar aquilo que o governo havia… feito. Sim, o governo gasta muito com publicidade. Mas não são os únicos clientes.

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