blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Índios

Anarco-indigenismo

Vamos voltar ao tema suscitado pelo Paulo ali embaixo com seu amigo David D. Friedman. Eu li alguns dos textos do cara e até achei legais, mas todos, sem exceção, são uma elocubração teórica só. Coisa típica de economista, embora ele não seja um.

E, não se enganem comigo, eu adoro Economia. No meu trabalho acadêmico e sobre políticas públicas, grande parte das minhas referências vem de economistas que eu admiro muito, como, do lado da Economia das Instituições, o Prêmio Nobel Douglass North, e, nos estudos do desenvolvimento, outro Nobel, o indiano Amartya Sen (aliás, motivo de grande revolta contra o Microsoft Word, que insiste em sempre corrigir automaticamente o nome dele para “Sem”).

Meu propósito é tentar chegar exatamente ao que nos une e desune aqui nesse blog em relação à sociedade ideal. Acho que isso é importante porque esses pontos de discordância estão exatamente ao redor de alguns dos grandes nós da modernidade.

Cuma?

Deixa ver se eu entendi: os índios de Roraima querem reservas na forma de pequenas “ilhas”, objetivando não expulsar fazendeiros, cidades e escolas próximas. Um de seus representantes afirma que eles, os índios, “não querem voltar à idade da pedra”, querem manter o contato com a civilização, prosperar. Mas o governo federal enviará o exército para garantir que a reserva será uma enorme área apenas com índios, sem essa história de ilhazinhas… Humm… O governador do estado é contra essa atitude do governo federal, o prefeito do município local também e, segundo consta, idem os fazendeiros e demais habitantes não-indígenas. Ou seja, apenas o governo federal tem voz nessa história toda, e a imporá pela força, isto é, o povo X ESTADO. Significará isto que o totalitarismo, após invadir certas almas, começa a agir pelas bordas?

Sem livre-arbítrio?!

Em conversa com amigos “relativistas absolutos” percebi um detalhe que, não sei por que, nunca me havia ocorrido: há gente que não acredita que exista, em nível algum, o livre arbítrio da alma humana. Eu sabia que muita gente achava a tal “alma” um mero emaranhado de sinapses, um complexo e, por que não?, ordinário “processo” eletroquímico que finda com o corpo. Mas daí a ter de ouvir que não há livre arbítrio algum, mesmo enquanto materialmente ativo… puts, foi uma novidade. Para eles, o livre arbítrio – a liberdade de decisão! – é um mito, uma aparência que varia da mais enganosa e falsa liberdade à absoluta ausência de alternativas. E, detalhe, me deixaram entender que a medida é: quanto mais pobre for a pessoa, menor será seu nível aparente de livre arbítrio, até a miséria, onde a pessoa é absolutamente prisioneira das circunstâncias. Marxistas, claro. E tiveram a falta de simancol de me dizer que um garimpeiro nunca decidiu ser um garimpeiro, mas que a vida, a sociedade, o empurrou até o garimpo. (Discutíamos sobre o assassinato, por parte de índios, de um grande grupo de garimpeiros. Eles diziam que ambos não tiveram alternativas: os garimpeiros de ir fazer outra coisa, os índios, de não matar!!)

Mas – peraí!! – não é que eles, em certo ponto, têm alguma razão? Sim, têm, embora não percebam a arapuca em que se metem com isso. Se fôssemos somente esse sistema mecânico, eletroquímico ou sei lá eu, não poderia haver realmente livre-arbítrio. Seríamos como computadores a esperar o toque de dedos extrínsecos a nós que nos impulsionassem para lá e para cá. Mas o que eles não percebem é que já fomos “digitados” – vide o teto da Capela Sistina. Sem a alma não haveria livre-arbítrio e eles sequer poderiam decidir a tomar uma opinião distinta.

As besteiras que a gente tem de ouvir…

Papo de índio

Este texto é da Primeira Leitura: “PAPO DE ÍNDIO: a matança foi só um “aviso”, disse o cacique Pio Cinta-Larga, numa ameaça velada de que novas mortes podem acontecer na reserva Roosevelt, em Rondônia. Ele é um dos líderes dos cintas-largas, que promoveram a chacina de 29 garimpeiros, no último dia 7. Deve ser um dos primeiros a depor no inquérito da PF. O chefão já responde a quatro processos por formação de quadrilha e ligações com o tráfico de diamantes. O cacique posa para a foto de arco e flecha, mas é pouco pio em se tratando de hábitos indígenas: sua “oca” é uma amplíssima casa em Cipoal. O presidente da Funai, Mércio Pereira, ao falar sobre as mortes, disse que os índios estavam se defendendo. E como o (ím)Pio se defende bem: tem televisão, DVD, forno de microondas, sala de áudio, piscina, dirige uma caminhonete Mitsubishi L-200 cabine dupla e dispõe de um séquito de seguranças. Ah, é também um dos comandantes do garimpo ilegal na reserva que tem a proteção legal da Funai. Imaginem só: o homem é dono de um dos maiores latifúndios improdutivos do Brasil, explora uma reserva de diamantes, deixa matar, se for preciso, para tocar em paz o seu negócio e ainda tem em seu favor o governo, as ONGs e os contrabandistas. E sabe que o MST jamais vai baixar por lá. Pio, o imperador do Brasil!”

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