Coube a mim fazer o panegírico, de improviso, diante de parentes, amigos e desconhecidos, à minha avó materna, em seu funeral. Eu nunca havia discursado ao lado de um caixão, quanto mais do caixão de uma pessoa amada. O Espírito baixou e, ao contrário dos demais, já nem me lembro do que disse. Foi uma experiência metanóica.
Categoria: Religião Page 17 of 30
Já que a Lu ET anda me fazendo certas perguntas via email, vou sugerir a leitura deste texto dos mais interessantes: O Governo em um Planeta Vizinho. Claro que meus amigos que pregam o uso do Estado como remédio para todos os males iriam gostar desse texto mil vezes mais do que eu, que sou ligeiramente anarquista (na verdade, libertarian). Mas como ter certeza disso se são tão preconceituosos com a fonte desse texto?
(Ainda sobre a entrevista publicada na Der Spiegel, “Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África!“)
Eu conversei em duas ocasiões com o Bruno Tolentino sobre a África – onde ele esteve várias vezes – e tentei empurrar a idéia de que o problema era a educação. Ele então me falou de dois países africanos (não me lembro quais), que receberam ajuda de grupos ligados a Oxford para melhoria de seus colégios e instituições de ensino. Segundo ele, todas as vezes que as tribos se levantavam umas contra as outras, a primeira coisa que, juntas, destruíam eram os tais colégios e instituições. O Bruno me dizia não ver qualquer solução identificável para a África. Já o explorador e escritor inglês Richard Francis Burton dizia que a única coisa capaz de tornar os nativos africanos confiáveis, trabalhadores e dignos de respeito era o islamismo, segundo ele, uma religião mais condizente com a natureza tosca daqueles povos, uma vez que não respeitavam e costumavam deitar e rolar sobre os caridosos cristãos, os quais achavam ingênuos. (Temiam – perceba, temiam e não respeitavam – apenas os cristãos de fachada, aqueles que se impunham pela força, uma “linguagem” comum entre as tribos.) Pois então: islamismo… Já pensou? A solução para a África poderia ser uma ameaça para o Ocidente…
Esses ataques terroristas perpetrados por membros de fato e/ou postiços da Al Qaeda não tem, na minha opinião, nada a ver com o famigerado “Choque de Civilizações”. Primeiro porque a Civilização Árabe/islâmica (Spengler), na qual esses terroristas teriam origem, já não existe há séculos. O que existe são fragmentos dessa extinta civilização remexendo-se feito rabo cortado de lagartixa. É gente desesperada lutando pelo leite derramado e desejando o impossível: o estabelecimento de um califado mundial. Sua força diante do Ocidente reside no fato de haver um local chamado Meca, uma certa Caaba – em torno da qual se reúnem os “pares” – e um livro chamado Corão. Possuem, pois, uma “cola” espiritual que ainda une tais pedaços e, não fosse ela, há muito teriam sido absorvidos pelo Ocidente. O Islã é um software demasiado pesado para um hardware – leia-se, estrutura sócio-política – dos mais ultrapassados.
Puts, o conceito de “esfera pública” da Hannah Arendt dá muito pano pra manga. Já fiz mil e uma relações e ainda não me decidi sobre qual delas escrever primeiro. Talvez a mais, digamos, conspícua seja a do papel de espaço público que a área em torno da Caaba, em Meca, tem para os islâmicos. Os que ali chegam tornam-se “pares” e entram para uma cidadania totalmente diferente daquela dos Estados Nacionais de que se originam. Os cidadãos da antiga Atenas buscavam se imortalizar através das “grandes palavras e ações”. Era sua forma de emular os deuses olímpicos. Embora os islâmicos não tenham lido Homero, senão o próprio Alá, assim que adquirem sua cidadania metafísica de peregrinos – hadji – também saem atrás de “grandes palavras e ações”. A maioria dá ao termo grande um sentido de profundidade ou, diria o Mário Ferreira dos Santos, de intensidade. Mas há esses radicais terroristas que só o interpretam enquanto extensidade. Quanto mais vistosas, espetaculosas e monumentais forem suas ações, tanto melhor. Assim crêem. O Ocidente, que não possui senão uma esfera pública fragmentada e vazia – sendo a dos campos de futebol um bom exemplo -, que espere por ainda mais pedras no caminho. Não temos a unidade transcendente que uma peregrinação a Meca dá. E, sem unidade, não há resistência possível. A tradição ocidental jamais aceitará o Corão. E o Islã jamais engolirá os livros dos cristãos e judeus. Logo, a solução para o impasse só se dará ou através da força – com mais guerras e mortes – ou através da união pacífica, que é impossível sem um pretexto. Sem um pré-texto, entenda, sem um texto que lhes dê forma, um texto de inspiração não-humana. Assim como a Bíblia formou o Ocidente e o Corão, o Islã. (Alguém precisa ir a Meca dizer de que texto se trata.) Os que me conhecem já entenderam onde quero chegar…
Outro livro excelente, que li semana passada, foi O Penitente, de Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de 1978. Toda a trajetória de seu protagonista-narrador, com suas devidas críticas ao mundanismo e ao secularismo, fazem coro com os pensamentos de qualquer pessoa deste planeta que tenha a alma sã. Muito embora, assim como o próprio autor o confessa na introdução, eu tampouco concorde com a solução abraçada por ele, narrador. Alguém deveria lhe dizer: não odeie o mundo, não fuja dele, já foi feito o upgrade da Revelação…
Tenho um amigo – professor de filosofia e chefe do departamento de jornalismo de uma universidade – que sempre cita Hanna Arendt em nossas conversas sobre política. Cheguei a pensar, maldosamente, é claro, que ele não pensava com a própria cabeça, mas com a dela. Eu jamais poderia lhe dizer tal coisa, pois ele teria um leque de autores para me acusar de haver roubado o cérebro: Allan Watts, D.T.Suzuki, Spengler, Nietzsche, Goethe, Dostoiévski, Henry Miller, Pauwels e Bergier, Olavo de Carvalho, Fernando Pessoa, Hilda Hilst, etc. Poderia até me chamar de urantiano. Mas a questão é que, ao ler A Condição Humana, de Hannah Arendt, vou observando o que me chama a atenção e, de quebra, o que – pelas conversas que tivemos – parece ter chamado a atenção dele. (Mas isso é algo a ser discutido pessoalmente.) Por enquanto ressalto o que atraiu meu interesse:
“Sempre que a relevância do discurso entra em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do homem um ser político.” (O que prova que, em nossas discussões, quando falávamos de política, cada qual entendia algo completamente distinto. Daí a necessidade de definir os conceitos previamente.)
“A condição humana não é o mesmo que a natureza humana, e a soma total das atividades e capacidades que correspondem à condição humana não contitui algo que se assemelhe à natureza humana.”
“(…) literatura de ficção científica, tão destituída de respeitabilidade (e à qual, infelizmente, ninguém deu até agora a atenção que merece como veículo dos sentimentos e desejos das massas.” (O que confirma a boa idéia que estou tentando levar adiante num livro que venho escrevendo.)
“(…) se temos uma natureza ou essência, então certamente só um deus pode conhecê-la e defini-la; e a condição prévia é que ele possa falar de um ‘quem’ como se fosse um ‘quê’.” (Daí eu concluo também que, se não adianta especular sobre o que é Deus, necessário é aceitá-Lo – como um quem – e lidarmos com Ele.)
“A mudança mais radical da condição humana que podemos imaginar seria uma emigração dos homens da Terra para algum outro planeta.” (Disso também já estou tratando…)
“A inversão hierárquica na era moderna tem em comum com a tradicional hierarquia a premissa de que a mesma preocupação humana central deve prevalecer em todas as atividades dos homens, posto que, sem um único princípio global, nenhuma ordem pode ser estabelecida. Tal premissa não é necessária nem axiomática; e o uso que dou à expressão vita activa pressupõe que a preocupação subjacente a todas as atividades não é a mesma preocupação central da vita contemplativa, como não lhe é superior nem inferior.” (Concordo. Mas devo dizer também que o único princípio global que nos une é aquele que chega por revelação – daí não ser axiomático – a saber, nossa filiação divina e conseqüente fraternidade humana, já que a fraternidade, sem paternidade, é impensável. Tampouco há paternidade impessoal e paz duradoura sem fraternidade. Logo…)
“A queda do Império Romano demonstrou claramente que nenhuma obra de mãos mortais pode ser imortal, e foi acompanhada pela promoção do evangelho cristão, que pregava uma vida individual eterna, à posição de religião exclusiva da humanidade ocidental. Juntas, ambas tornavam fútil e desnecessária qualquer busca de imortalidade terrena; e conseguiram tão bem transformar a vita activa e o bios politikos em servos da contemplação que nem mesmo a ascendência do secular na era moderna e a concomitante inversão da hierarquia tradicional entre ação e contemplação foram suficientes para fazer sair do oblívio a procura da imortalidade que, originalmente, fora a fonte e o centro da vita activa.” (Bem, a própria Hanna Arendt admite: Jesus não negava a ação e foi Paulo quem colocou a salvação como centro da doutrina. Aliás, o cristianismo não é a religião que Jesus, enquanto homem, seguia e ensinava. É o que dela restou. Quanto à dicotomia imortalidade/eternidade, Ernest Becker discorreu muito bem a respeito. Escrevi um artigo sobre o tema.)
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E Oriana Fallaci está sendo processada por difamar o islamismo.
Esta mulher acredita ser 100% vagina.
(Uma campanha do Faith Freedom International.)