O Garganta de Fogo

blog do escritor yuri vieira e convidados...

Capital

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Capital Inicial, em show de fim de ano da Folha. Clique na foto

Novelo de Teseu

Gore

Embora voltado para a realidade do cinema independente americano, o “Ultimate Festival Survival Guide”, escrito por Chris Gore, traz informações bastante interessantes também para o nosso mundo aqui embaixo. Entre outras coisas, ajuda a pensar uma estratégia coerente e realista para a busca de festivais adequados a seu filme e propósitos, economizando grana e maximizando as chances de sucesso. Quem já tentou, sabe que enorme labirinto é a infinita miríade de festivais aqui no Brasil e no exterior. Catorze dólares na Amazon, fora o frete.

Vai para a nossa Biblioteca do Cineasta Digital , no Olho de Vidro, blog de nossa produtora, a Sertão Filmes.

Efeitos Especiais

Queimadura de Terceiro Grau

Pesquisando sobre maquiagem (cortes, tiros, etc.) para o curta que rodaremos neste domingo, descobri o MSFX, excelente site sobre efeitos especiais.

Casa de Ferreiro…

MS

Sou Geógrafo. Desta forma, evidentemente deveria ter lido Milton Santos durante a graduação. Para quem não o conhece, Milton Santos é o nome mais importante da Geografia no Brasil e um pensador respeitado nos meios acadêmicos do mundo todo. Santos foi o único não anglo-saxão a receber o Prêmio Vautrin Lud, uma espécie de Nobel da Geografia.

Confesso que, em meus anos de faculdade, não tinha muito saco para seus livros. Dada minha preferência pela mesa de sinuca do DCE às aulas de Metodologia e de Geografia Urbana, não posso opinar sobre a validade e importância da contribuição do Doutor Milton Santos à Ciência do espaço, mas creio poder afirmar que suas reflexões políticas não são lá grande coisa, sobretudo após assistir ao documentário “Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá”, dirigido por Silvio Tendler.

Silvio é comunista de carteirinha. Apesar disso, fez pelo menos um documentário muito bom, claro que sobre um tema menos político: o obrigatório “Glauber – Labirinto do Brasil”. (Aliás, dessas coisas risíveis, pois à época de sua morte Glauber apanhava tremendamente da esquerda por sua aproximação com a ditadura, coisas como “Golbery é gênio da raça”, etc. Davam-lhe pau que só. Foi o cara morrer e estavam todos lá no enterro dele, como aí estão até hoje a incensá-lo. Hipócritas).

Sobre Milton Santos, cabe contar uma hilária anedota verídica: meu pai, certa vez, compôs a banca de entrevistadores do programa Roda Viva, cujo centro era o professor Milton Santos. Findo o programa, hora de ir embora, calhou terminarem os dois, meu pai e Milton, no mesmo carro da TV Cultura, pois iam para a mesma direção.

Meu pai deu ao motorista a indicação de seu hotel e o geógrafo informou que morava em uma travessa da Rua São Gualter, nas proximidades da Praça Panamericana.

Passa o carro a referida Praça e começa a subir a São Gualter. Chegam ao final, e nada do professor indicar sua casa.

“Professor”, o motorista o chama olhando pelo retrovisor, “já chegamos ao final da São Gualter. O senhor não disse que sua casa era por aqui?”

O Dr. Santos parecia confuso olhando à volta o bairro de Pinheiros. Pediu que retornassem em direção à Praça, onde chegaram sem que o geógrafo localizasse sua rua. Pediu então, para espanto de meu pai e do motorista, que parassem, e desceu do carro. Durante alguns minutos, ficou olhando ao redor, tentando se localizar.

Meu pai por fim perguntou: “O senhor mora aqui há pouco tempo?”.

“Há 20 anos”, respondeu ele, e completou: “É que é minha mulher quem dirige”.

Finalmente, depois de alguns minutos, pareceu se encontrar e conseguiu, não sem mais algumas voltas, chegar à sua residência.

O grande teórico da ciência do espaço não sabia onde ficava sua casa… Casa de ferreiro, espeto de pau.

Feito o parêntese, o filme de Sílvio Tendler tem encontrado boa acolhida em festivais aqui e fora. Ganhou o Prêmio do Juri Popular, no Festival de Brasília. É o de se esperar, diante do pensamento anencéfalo de esquerda reinante.

Para não me alongar, cito a frase de um amigo à saída do cinema: “Entre um delírio e outro fico com ‘Estamira’“, refererindo-se ao ótimo documentário de Marcos Prado sobre a psicótica habitante do lixão de Gramacho, na Baixada Fluminense, todo construído em cima do discurso esquizofrênico da mulher. O filme de Silvio Tendler é um panfleto delirante. Não perca seu tempo. Só o Yuri aguentou até o fim a enfiada interminável de imagens de protestos na Bolívia, em Davos, em Seattle, e as inserções do finado Dr. Milton desfiando seu catecismo sobre a perversidade da globalização.

Ou há algo muito errado com a Geografia, ou o homem era esquizofrênico: brilhante pra falar do espaço, delirante pra falar de política. Que Deus o tenha.

A logomarca das Olimpíadas de Beijing

Recebi esta imagem do Diogo Chiuso:

Venezuela e as FARC

Do Ex-Blog do César Maia:

NARCO-CONEXÃO VENEZUELA!

EL PAÍS
El narcosantuario de las FARC

La guerrilla colombiana de las FARC ha encontrado su santuario en La Venezuela de Hugo Chávez. Cuatro desertores y varias fuentes de los servicios de inteligencia y diplomáticos detallan a EL PAÍS la extensa y sistemática cooperación que determinadas autoridades venezolanas brindan a las FARC en sus operaciones de narcotráfico. Las autoridades venezolanas dan protección al menos a cuatro campamentos de La guerrilla colombiana. “La Guardia Nacional y el Ejército ofrecen sus servicios a cambio de dinero”. “Todo eso es verdad”. “El Ejército colombiano no cruza la frontera, y la guerrilla tiene un pacto de no agresión con los militares venezolanos. El Gobierno venezolano deja a las FARC operar libremente porque comparten el mismo pensamiento bolivariano, y también porque las FARC pagan sobornos a su gente”. Se trata de un negocio ilegal gigantesco. Transita por Venezuela el 30% de las 600 toneladas de cocaína que se mueven anualmente por el mundo, y con un valor de mercado en las calles europeas por encima de los 10.000 millones de euros al año. Un caso notable fue el del pesquero venezolano Zeus X, que fue interceptado por la Agencia Tributaria española en septiembre, a 1.050 millas de Las Palmas, con seis venezolanos a bordo y un cargamento de 3.200 kilos de cocaína com precio de venta en Europa estimado en 190 millones de euros.

O cinema americano, do Vietnã ao Iraque

Interessante artigo de Amir Labaki no Valor desta semana mostrando a diferença na resposta do cinema americano à guerra no Iraque, quando comparada à dificuldade em aceitar e retratar a derrota e tragédias no Vietnã no passado.

Neste caso, segundo ele, o primeiro documentário de peso veio apenas em 1974. O cinema de ficção demoraria ainda um pouco mais a tratar seriamente do tema. Hoje, diferentemente, com a ocupação em pleno curso, grande parte dos filmes que disputaram a indicação ao Oscar de melhor documentário deste ano tinham como foco o Iraque, e a coisa para o ano que vem não deve ser diferente. As obras de ficção não têm ficado atrás.

A grande dica, entretanto, segundo ele, é “No End in Sight” (veja o trailer aí acima), dirigido por Charles Ferguson, um documentário de US$ 2 milhões que reconstitui minuciosamente todo o processo entre a guerra de Bush pai e a de Bush filho, acompanhando a última invasão e o processo de reconstrução do país. Tomara que chegue por aqui.

Grafite — 16

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Porque eu não escreveria Virgínia Berlim

VB

Conforme prometido, li anteontem o Virgínia Berlim, último livro do Biajoni, autor do já incensado Sexo Anal. Servi-me de um copo de uísque e deitei no sofá. O primeiro detalhe bacana é o CD que acompanha o livreto, que conta ainda com as letras, originais e traduzidas, das canções prensadas no disco: uma trilha sonora para a própria história, que tem Bing Crosby, Lou Reed e outros. Uma linda seleção, perfeita para acompanhar o affair de um camarada imobilizado em seu apartamento por um pé cortado e a escriturária Virgínia que irrompe em sua vida e dá título ao livro.

A leitura transcorre fácil, menos de 50 páginas, ao longo de meia hora ou pouco mais. Que não se espere outro Sexo Anal porque VB é bem diferente. Como já se disse por aí, é como se nos fosse permitido espiar um fragmento de uma vida durante algum tempo. É bonito e impactante. Termina-se a leitura com uma tristezinha. Enquanto o Sexo Anal mexe com a gente pelo que tem de cru, violento e libidinoso, Virgínia Berlim emociona de verdade por uma outra crueza, relacionada ao sentido e à banalidade de nossas vidas e das vidas dos outros, e por falar de arrependimento e de falta de respostas. Sexo Anal é irônico e de um excelente humor negro. VB é composto de notas tristes e meio perplexas.

Eu não escreveria VB porque sou idiota e volta e meio tenho uma estúpida tendência à idealização e ao melodramatismo, à autocomiseração e para colocar nos personagens a pena que sinto de mim mesmo, vítima do mundo. O Bia, ao contrário, não tem pena dos seus personagens: eles são feios, têm espinhas e hemorróidas, estrias, peitos caídos, trabalham em repartições e têm vidas comuns e tacanhas. Se isso soa meio Bukowiskiano, o Biajoni se separa do mestre californiano porque suas histórias não passam qualquer rancor. Não há ressentimento com a humanidade. Estão mais pra Almodóvar.

Compra lá.

A cordialidade do garção carioca

Waiter

Nasci no Rio e me mudei pra Goiânia com oito anos. Com orgulho, sou mezzo carioca, mezzo goianiense. E amo de paixão o Rio de Janeiro, apesar das balas perdidas, do mau cheiro de certos locais e do chiqueiro que vira o Baixo Gávea em dia de agito. (Aliás, o Meirelles nem precisava de cenografia pra fazer o filme do “Ensaio sobre a Cegueira”, se o pessoal da O2 tivesse lembrado do BG nos domingos de madrugada. Era só ligar as câmeras e filmar. O odor também remete ao livro de Saramago).

O Rio é maravilhoso e eu volto pra lá sem qualquer crise de consciência se as circunstâncias profissionais conspirarem para tanto, apesar da merda que é a qualidade do atendimento, consequência, ao menos em parte, me parece, da falta de civilidade generalizada. No Rio, não existe bom dia, boa tarde, nem boa noite. A resposta a qualquer desses cumprimentos é invariavelmente um muxoxo ou um olhar confuso. Na melhor das hipóteses, um “e aí?” ou “beleeeza?”. O ápice – ou fundo do poço – são os garçons. Em lugares chiques, a coisa é um pouquinho melhor, mas nos bares e restaurantes comuns, o serviço é um lixo: garçons mal humorados, demora, desatenção e cara feia. São Paulo, neste quesito, é outro universo.

Falo isso pros meus conterrâneos e quase todos me olham espantados. Minha hipótese é a de que o Rio é tão bonito que as pessoas nem notam ou, pior, já se acostumaram.

Na verdade, tem um jeito de ser melhor atendido no Rio. O negócio é, de saída, você já tirar um sarro da cara do garçom e demonstrar que tem malandragem no sangue. Via de regra (tinha um velho editor que sempre repetia pro me pai que “via de regra é boceta”), o cara dá logo uma risada e aí já se formam aquela intimidade forçada e camaradagem tão típicas de nossa cordialidade tropical. Não se consegue nada pela via da civilidade e pelas regras comuns, só forjando uma relação de cunho privado. Assim o explicava Sérgio Buarque de Holanda. De “Raízes do Brasil” para os botecos e ruas cariocas. Verdadeira sociologia de botequim, nevertheless true.

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