No post sobre o Islamismo, mencionei o Ottón Solís, candidato derrotado à presidência da Costa Rica em 2002, que conheci num seminário em Salzburg, Áustria. Descubro agora, com alegria e surpresa, ao pesquisar para este post, que Ottón é novamente candidato nas eleições agora em curso naquele país. O primeiro turno aconteceu anteontem e trata-se do pleito mais concorrido nos cem anos daquela democracia. A contagem segue voto a voto e o resultado só deve sair dentro de 15 dias, conforme noticiam os jornais locais. Seu adversário é o ex-presidente e Nobel da Paz, Oscar Arias Sanchéz. É bastante possível que meu ensandecido e querido amigo se torne, de forma inesperada, presidente de seu país – as pesquisas indicavam vitória de Arias.
A Costa Rica é um dos países com maior Índice de Desenvolvimento Humano na América Latina – atrás apenas de Argentina, Chile e Uruguai -, e uma de suas democracias mais antigas e estáveis. Fato interessante e único no continente, o país não tem exército. O alto nível educacional da população, o ambiente econômico estável e incentivos fiscais transformaram a Costa Rica, nesta última década, em um pólo de indústrias de alta tecnologia, aumentando a participação do setor industrial na composição do PIB, ao lado do turismo – sobretudo ecoturismo nas ricas florestas tropicais e ecossistemas marinhos do país – e da agricultura. A pobreza, ainda relativamente elevada, o endividamento e o déficit público seguem, entretanto, sendo problemas nacionais.
Aparentemente, a adesão ao CAFTA, tratado de livre comércio entre os países centroamericanos e os EUA, parece ser uma das questões centrais neste processo eleitoral. A Costa Rica é o único dos signatários que não ratificou o acordo. Oscar Arias manifesta-se plenamente favorável a ele, enquanto Ottón, embora se diga também favorável, defende sua renegociação. Arias acusou-o de receber financiamento do Governo da Venezuela. Ottón responde à acusação nesta carta.
Ottón é dessas pessoas que fazem a gente acreditar que a espécie humana pode servir para alguma coisa e que a política por ela inventada pode, um dia, vir a se tornar algo em benefício dessa mesma espécie e não de seu desvirtuamento e quiçá eventual extinção. Ele é fundador do Partido de Acción Ciudadana (PAC), em seu país, que se propõe um rigoroso código de ética e princípios de conduta, pautados pela transparência, combate ao clientelismo, lisura no uso de recursos públicos e despersonalização do processo político.
Mais importante que tudo isso é o que a gente vê quando olha nos olhos das pessoas e o que sentimos em seus gestos. O Ottón é um grande piadista, companheiro de boemia e canta com o coração. Eu o vi dançando como um alucinado nas madrugadas de Salzburg. Também foi um hilário ator no teatrinho que fizemos para apresentar os resultados de nosso grupo de discussão. Curiosamente, eu fazia o papel de um presidente corrupto e ele o da imprensa marrom.
Por último, não resisto à piada (espero que ele não se aborreça), mas o slogan de sua campanha é “Con las madres vamos”, o que – perco o amigo, mas não a piada – parece em boa sintonia com a idéia de votar nas putas, porque os filhos até agora só pioraram as coisas…
Rezo e torço para que o eventual poder não o desvie de suas idéias.
yuri vieira
Dizer “política do bem”, na minha humirde opinão, é o mesmo que dizer “faca do bem”, ou seja, trata-se de qualificar um instrumento sem levar em consideração quem o utiliza. Mas não é o que vc faz no restante do texto… A vida do político é realmente uma caminhada sobre um fio de navalha muito mais conspícua do que a de qualquer outro. Você faz bem em “rezar” pelo cara. Só espero que ele faça o mesmo porque, se depender de alguém ser “gente boa” para ser um bom político, estaríamos muito bem com o Lula. Aliás, o Olavo faz ótimas considerações sobre dois políticos americanos de mesmo nome, um super gente boa e o outro um “um grosseirão e um pinguço turbulento”: McCarthy.
()’s
pedro novaes
É claro que a questão não é o cara ser gente boa. Já conversei com alguns políticos muito safados e eles foram “super gente boa”. A questão é o cara ser do bem. O que eu quis dizer que vi nos olhos do Otton, foi que ele era do bem. Não que ele era “gente boa”. Mais que isso, que ele era um portador da “boa loucura”, como creio que, de certa forma, todos neste blog somos. Aliás, permita-me discordar, eu não acho o Lula nem gente boa. Imagino que ele deva ser um pé no saco pessoalmente – ignorante, machista, bronco e pedante. Abraços.