“Me dêem licença para um comentário rápido. Saiu o resultado da autópsia do corpo de Terri Schiavo. A canalha respirou aliviada. ‘O cérebro dela estava imprestável.’ Logo, o marido não a matou. Em primeiro lugar, matou, sim. E com a ajuda da Justiça americana. A causa mortis foi desidratação. Cortaram-lhe até a água. Em segundo, parabéns, gente boa! Primeiro matam para depois concluir, sem sombra de dúvidas (para eles), que a morte era a melhor solução. Método Mengele de pôr o empirismo a serviço da convicção científica. Em terceiro lugar, os pais queriam cuidar de seu vegetal. Não vejo por que matar de sede uma erva daninha num vaso desde que haja alguém disposto a regá-la. Por último, observo que há mais gente que protesta contra a morte de bebês focas e baleias ou contra o tratamento dispensado aos touros na novela de Glória Perez do que contra o assassinato de Terri. E ela não era um touro, uma foca ou uma baleia. Nem gritar ou se debater ela podia. A morte tem hoje mais defensores articulados e organizados do que a vida. Algo está fora da ordem em nossa civilização.”
(Reinaldo Azevedo, no Primeira Leitura.)