Quem passou pela adolescência física e mental – isto é, o período que vai dos 14 aos 25 anos de idade aproximadamente – antes do advento da internet, entenderá o título desta entrada. Nesta fase de intensa ebulição interior, é muito fácil – falo daqueles que sempre se interessaram por literatura, filosofia, ciência e arte – é muito fácil acreditar que se é um tipo de gênio, uma luz em meio à escuridão massificada. Principalmente se, aos dezesseis, enquanto vivia ilhado numa província da província Brasilis, devorou “Homens representativos”, de Ralph Waldo Emerson. Aliás, ainda bem que não havia internet entre 1985 e 1996. Talvez eu até tivesse ficado “famoso” – como muitos blogueiros hoje acreditam ser – com o registro de minhas especulações, viagens e surtos (hoje muito bem guardados), e , no entanto, nos dias que correm, com a chegada desses lampejos de maturidade que ora me assediam, eu estaria envergonhado comigo mesmo e certamente passaria mais tempo deletando textos e entradas de blog que propriamente escrevendo… Sim, embora a Vontade de Criar possa nos aproximar muito da Vida, na medida mesma dessa aproximação, mais e mais vamos nos sentindo como que elevados diante dos demais. E tudo, claro, não passa de vaidade, vaidade das vaidades. Antes da internet eu achava que meus, digamos, pares ou já estavam mortos ou muito próximos de morrer. Com uma única exceção, que não vem ao caso, praticamente não tinha interlocutores. Claro, possuía amigos e professores cuja inteligência admirava, mas nunca encontrava “pretensões de criar” tão grandes quanto a minha. Depois, com a internet – e já morando com a Hilda Hilst – descobri que esses pares não constituem dezenas, senão milhares de pessoas espalhadas pelo mundo, a maioria muito mais disciplinada e produtiva do que consigo ser. E os maiores dentre eles, percebi, não são os que se colocam mais ao alto, junto a seus ídolos, e sim exatamente aqueles que, em sua sabedoria escrita, demonstram a verdade da fraternidade de todos os homens, isto é, que somos todos nós, terráqueos, pares no sentido mais universal do termo. Enfim, obrigado, internet, por não me deixar enlouquecer (de novo), obrigado por ajudar a provar a mim mesmo que não sou nenhum suprassumo da humanidade, mas um mero contador de “causos”. (Adeus, aborrescência!!) Se Nietzsche tivesse um blog à sua disposição, teria certamente trocado idéias com Dostoiévski – cujo livro “Notas do subterrâneo” ele leu – e o grande romancista russo o teria então alertado sobre o maior (e talvez único) de seus erros. Qual? Amadureça e descubra. (Até lá medite sobre o arcano 16, A Torre, do tarô…)