Em 1997, um relâmpago de indignação cruzou o céu nublado da vida universitária brasileira. No Rio de Janeiro, Pedro Sette Câmara quase foi linchado (leia aqui) ao divulgar seu artigo onde provava que os politicamente corretos da Semana da Consciência Negra é que se comportavam como racistas. Em São Paulo, Julio Daio Borges publicava seu desabafo-manifesto “A Poli como Ela é“, causando polêmica entre seus colegas e professores e o reconhecimento quase solitário do jornalista Luis Nassif. Quanto a mim, em Brasília, eu finalizava o livro A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau, iniciado em Outubro de 1996, que não foi senão minha vingança literária contra a modorra e a alienação que nos são incutidas pelas universidades (estudei em três delas).

Ainda em 1997, a EdUnB, editora da UnB, mesmo com a indicação e apoio da decana de assuntos comunitáriosThérèse Hofman, rejeitou meu livro por não ser um “trabalho acadêmico”. Da mesma forma, o artigo de Pedro Sette só teve alguma repercussão junto a uma pequena parcela da imprensa carioca, tendo recebido também o apoio moral do escritor Olavo de Carvalho, o mesmo que, após ler meu livro, me escreveu: “Prezado amigo Yuri, raras inteligências perceberam tão bem quanto a sua o vácuo atormentado da sua geração”. E, nessa época, o Olavo sequer me conhecia…

Hoje, Julio é editor do Digestivo Cultural e Pedro, d’O Indivíduo, sites imprescindíveis que me fazem ter vergonha do meu. Porque sou apenas alguém que, toda vez que tenta ser algo mais que um escritor, só se torna mais vadio e pedinte do que antes. Em todas nossas manifestações, Julio, Pedro e eu, com a exceção de um professor ou outro, só recebemos algum apoio significativo de fora da universidade, cujo sistema é muito confortável exatamente para a pior parte da classe docente. Graças a isso, “a aprendizagem que me deram, desci dela pela janela das traseiras da casa”.A falta de um diploma, por exemplo, apesar dos meus seis anos de ótimas notas (tudo bem, em cursos diferentes, o que na Alemanha me proporcionaria no mínimo o diploma duma universidade livre), essa falta, embora não me permita fazer um mestrado ou doutorado, não me impediu de morar dois anos com a escritora Hilda Hilst, esta sim, uma verdadeira mestra – que nunca fez mestrado.

Podem anotar, se não os três ao menos um de nós ainda irá fazer muito barulho neste país. E isso não porque, na universidade, fomos melhores ou mais inteligentes – existem muitos outros com os quais estou sendo injusto aqui – mas simplesmente porque, em vista daquele estado de coisas, não nos limitamos a nos calar ou baixar a cabeça, como a maioria, ou a partir para o movimento estudantil, tal como os politiqueiros em sua fase larval. Nós botamos a boca no trombone. E, se Deus quiser, continuaremos a fazer isso por muito tempo. Ainda somos muito jovens…

P.S.: Antes de nos considerar simples metidos a besta – quem pode pode, não é? – siga os links e leia nossos textos, ok.