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Por Baixo da Correnteza

Foi quando descobriu que havia sempre uma outra conexão com as coisas acontecendo. Uma segunda troca por baixo da primeira, cotidiana, com os olhos e a fala. E era uma corrente febril, tormentosa – como rio inchado depois da tempestade, que ruge e tropeça em paus e folhas num afã descontrolado de seguir em frente. Dava medo submergir nessa corrente ruidosa e violenta, mas lá embaixo reinava uma paz grande porque se deu conta de que podia ser observador de si mesmo sob a corrente febril, onde tocava, envolvia as coisas e se deixava envolver por elas com o corpo – uma corda lhe saía do estômago e do intestino. Arqueado, a barriga espichada, ele subia como um balão no meio da correnteza, que era calma lá embaixo, puxava as coisas e era puxado por elas. E, súbito, individualidade dissolvida, só havia o meio, o turbilhão tranqüilo, o encontro, o interagir.

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2 Comments

  1. Tati

    Pedro no meu entendimento e opinião, você conseguiu fazer um texto poético e bastante envolvente, descrevendo sensações e a importância de se arriscar no interagir com tudo ao nosso redor. De viver coisas novas, de vencer nossos medos e fraquezas, acreditando que depois disso tudo alcançaremos as alegrias, os sonhos e quem sabe o sentido de viver (pra alguns, claro). Pois no final, teremos como mérito a tranqüilidade desse turbilhão de emoções, que nos mantém vivos a busca de mais oxigênio , paus e folhas que sugiram pela frente.
    Beijinhos
    Tati

  2. Tati, obrigado pelo comentário (meu primeiro…)
    De fato, para além da verborrágica ansiedade cotidiana com que nos relacionamos com o mundo, há outra(s) possibilidade(s). No começo, dá medo do caos e o mundo parece ameaçador, mas depois pode ser uma paz só. Às vezes consigo ir lá. Um beijo. Pedro.

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