Dirijo o carro. Não sei qual cidade é. Não sou daqui. Os nativos falam uma língua que não conheço, mas eu a entendo perfeitamente. O trânsito está complicado. Decido deixar o carro.
Caminho por uma rua estreita e inclinada. Tem calçamento de pedras. Desço-a. A via está tomada por pedestres e tem muitas lojas pequenas. Parecem lojas para turistas.
Sinto uma sensação estranha. Vislumbro a rua estreita à minha frente. Sinto vontade de correr. Devo percorrê-la. Preciso chegar até o seu fim. Parto. Corro. Corro bem rápido. Devo chegar ao fim da rua.
O tempo está nublado. Há muitas nuvens escurecidas. Corro. Começo a ver o mar, as nuvens sobre o mar. Ainda é dia, há sol também, mas a noite já começa a surgir. Ainda corro. Estou chegando perto do mar, estou chegando. Vejo um pequeno píer. Não há embarcações. Do lado direito, uma montanha.
Vejo um imenso cilindro vermelho no céu acima do mar, ao longe. Ele surgiu do nada. Cresce em direção à terra, enquanto corro — ainda corro. Aproxima-se rapidamente e me atinge, me engole. Fico cego pela luz avermelhada e tudo some.
Não pude chegar ao mar.
Estou em casa. A casa está cheia. Converso com pessoas que moram ali. Por que outras pessoas moram na minha casa?
Estamos conversando. Uma mulher, que havia visto o que me acontecera, começa a contar a todos a história do cilindro. Todos a ouvem atentos. Nada se fala.
Está tarde. É hora de dormir. Todos dormem, menos eu.
Estou de novo na rua estreita. A noite começa a surgir. Mesmo assim, ainda há sol e nuvens no céu. Devo correr novamente?
Começo a correr. Corro. Corro muito rápido. Uso todas as minhas forças. Serão suficientes?
Tenho de vencê-lo. Quero vencê-lo. Corro muito, muito mesmo. Começo a ver o mar. Há muitas nuvens sobre o mar. Estou correndo e não o vejo. Vejo o píer. Estou correndo, estou correndo, aproximando-me do mar.
Vejo-o. O cilindro vermelho. Penso: “Estou muito perto, ele não vai me atingir.”
Corro. Acelero as passadas. Alcanço a areia, ao lado do píer. Um, dois, três, cinco, oito passos. Meus pés afundam na água salgada. Estou ofegante. Devo respirar. Onde está o cilindro? Não o vejo. Consegui vencê-lo?
Nada sinto de diferente. O que terá ocorrido?
Olhos as nuvens no céu sobre o mar. São tantas as nuvens. Um exército embranquecido sob o céu. Fecho os olhos e mando que se dispersem.
Um vento forte aparece e as nuvens começam a mover-se. Digo: “Vão, rápido!” Elas se vão e o céu se abre. Vejo o céu azul sobre o mar. Estou feliz.