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Motivos de conversão religiosa

Só uma minoria muito reduzida se converte a uma religião — ou ao ateísmo — por achar que ela detém a hipótese mais verdadeira sobre a criação do universo, a natureza de Deus, do homem ou do que quer que seja. A imensa maioria se converte, não porque busque a verdade e a encontre numa determinada religião, mas simplesmente porque espera obter um benefício com a conversão.

Na juventude o homem (o homem e a mulher, obviamente) deseja o sexo sem o peso dos compromissos conjugais, deseja desobedecer aos pais, para fazer suas próprias descobertas, deseja experimentar o álcool e as drogas, porque todo mundo diz que é legal. Então surge uma conversão ao ateísmo ou a alguma espécie de religião pessoal, na qual beber e fazer sexo sem compromisso não sejam pecados. Nem sequer passa pela cabeça do jovem a idéia de examinar filosoficamente as religiões em busca da mais verdadeira. O ateísmo é escolhido porque lhe permite satisfazer seus desejos e não por motivos filosóficos. Estes, se existem, são como justificativas canhestras e improvisadas depois da decisão e não o resultado de uma investigação séria e sincera feita antes dela. É importante frisar que nessa fase, se o jovem diz que é ateu, não está dizendo que Deus não existe. Na verdade, a questão da existência de Deus pouco lhe importa. Ele se considera ateu apenas porque não concorda com a moral — e não com a doutrina, a qual na maioria das vezes ele nem conhece — das religiões. Sua conversão ao ateísmo serve unicamente a seus desejos e não à sua razão.

Na maturidade, se uma entrega ao sexo sem compromisso e à vida desregrada trouxe ao homem dificuldades físicas e sociais, ele busca a religião como forma de restaurar a saúde e a aprovação social. Afinal, Deus é misericordioso (tanto no cristianismo quanto no islamismo) e Deus tem o poder da cura, tão desejável quando uma vida desregrada deteriorou nossa saúde. Se fosse feita uma pesquisa séria a esse respeito, suponho que se descobriria que a imensa maioria das pessoas se converte a determinada religião porque espera obter algum tipo de cura. Não quero com isso dizer que esse tipo de conversão seja ilegítima. Ressalvo apenas que ele corrobora a tese de que as pessoas se convertem com vistas a um benefício específico e não propriamente movidas pelo resultado de suas investigações filosóficas.

Nessa perspectiva se vê claramente que não é necessário lutar contra o ateísmo. É preciso apenas conservar a religião. No momento certo (normalmente quando acometido de grave doença ou de um medo terrível da morte) o ateu vai ouvir alguém dizer que Deus pode curar seu sofrimento, e vai se converter. É desse momento que nos falam os belos versos de Oscar Wilde:

Por onde mais pode Cristo entrar

Senão por um coração partido?

É também comum que haja conversões tardias, quando, no fim da vida, um homem começa a suspeitar que existe mesmo o inferno e talvez seja este o seu destino. Platão nos fala desse tipo de conversão no início da República. No Brasil temos o exemplo de João Cabral de Melo Neto, ateu convicto que morreu abraçado a uma imagem de Nossa Senhora. Certamente, por medo do inferno, mudou de idéia na última hora.

Enfim, é dispensável buscar exemplos. Nos momentos de dor e sofrimento mais graves, o homem vai buscar ajuda em Deus, quando médicos e economistas o desenganam.

Mas é sobretudo nas mulheres que a conversão com vistas a um benefício se torna mais visível. Também não conheço uma pesquisa séria sobre isto, mas é fato que, quando São Paulo começou a pregar em Roma, as primeiras pessoas a se converterem eram mulheres. Ora, nós sabemos que as mulheres em geral detestam discutir religião e filosofia. São muito apegadas à vida prática e repudiam uma discussão filosófica com a mesma intensidade que os homens repudiam os afazeres domésticos. Então nos surge a pergunta: o que fez que as mulheres, tão infensas a debates teológicos, acorressem em massa ao Cristianismo?

A resposta não está nos debates sobre a unidade de Deus e Jesus, ou sobre a verdade histórica da ressurreição, mas simplesmente no fato de que o Cristianismo foi a primeira religião a pregar a igualdade de direitos no casal. Roma vivia um clima de enorme liberdade sexual, e nós sabemos que liberdade sexual em geral significa exploração sexual da mulher. Era muito fácil obter um divórcio e por isso pode-se imaginar que a mulher acabava sendo tratada como objeto de satisfação sexual. Um homem contraía matrimônio, dez anos mais tarde se divorciava e voltava a se casar com uma mulher mais jovem, dez anos mais tarde buscava outra mais jovem, e por aí ia, mais ou menos como acontece hoje.

Num ambiente desses era natural que a mulher ficasse seduzida pela possibilidade de um casamento monogâmico indissolúvel. Aliás, o casamento monogâmico certamente é um dos maiores e mais potentes atrativos para a conversão das mulheres ao Cristianismo (vamos lembrar que o judaísmo e o islamismo admitem a poligamia, o primeiro na forma de concubinato, o segundo na forma de casamentos plurais mesmo).

Coisa semelhante acontece hoje. Depois de lutar pelo direito ao trabalho, a mulher descobriu que trabalhar pode não ser uma idéia tão boa assim, e está querendo voltar à família tradicional, na qual o homem sustenta o lar. Também depois de lutar pelo direito ao divórcio, descobriu que ele pode ser um péssimo negócio, já que o homem que se divorcia aos quarenta tem grande chance de encontrar nova esposa, ao passo que com a mulher a coisa não é tão fácil. A mulher também lutou pelo direito à liberdade sexual, mas está começando a perceber que liberdade sexual, na prática, acaba significando a liberdade de um homem fazer sexo com uma mulher e não olhar para a sua cara no dia seguinte — isso quando não significa coisa pior: a liberdade de um homem fazer filhos e não os sustentar.

Nessa conjuntura, a idéia de um casamento monogâmico, com o homem sustentando o lar, volta a ser extremamente atraente para as mulheres. E quem tem essa idéia para oferecer é o Cristianismo e somente ele. É interessante notar que nas diversas utopias do ocidente o casamento ou não aparece ou é explicitamente abolido, como na República de Platão. Aliás, Platão entendia muito pouco de mulheres, porque queria que elas trabalhassem tanto quanto os homens e que seus filhos fossem educados por um suposto Estado, que tiraria as crianças das mães tão logo elas completassem sete anos. É dispensável comentar o quanto as mulheres odeiam idéias como essas.

Em todas as outras utopias que chegaram ao meu conhecimento, o casamento monogâmico também foi abolido (a comunidade das mulheres fazia parte do projeto dos primeiros comunistas e é expressamente mencionada no Manifesto Comunista de Marx e Engels). É certamente por isso que nenhuma delas vingou. Uma vida sem casamento pode ser atraente para os homens, mas, para a mulher, nada é mais atraente que a idéia de um homem que tenha o dever de cuidar dela para o resto da vida. Diante disso fica fácil entender por que o Cristianismo é a religião preferida das mulheres. E, quando vemos que a mulher que a ele se converte continua acreditando em coisas como reencarnação e legitimidade da conduta homossexual — idéias francamente contrárias à doutrina cristã — fica mais claro que sua conversão se deu por motivos práticos e não filosóficos.

Mas, segundo essa tese, não seria normal o crescimento mundial do islamismo, já que essa religião admite a poligamia, tão execrada pelas mulheres. No entanto um exame mais cuidadoso mostra que o islamismo também lhes traz benefícios consideráveis. Em primeiro lugar, no islamismo o dever de o homem sustentar o lar é mais explícito que no Cristianismo. Jesus não se pronunciou a esse respeito, portanto deixou subentendido que essa questão está sujeita a um acordo do casal. Em segundo, a exposição sistemática do corpo da mulher, tão praticada no ocidente, pode trazer a ela mais malefícios que benefícios, que vão desde problemas com a própria imagem ao fato lamentável de ser transformada em mero objeto de satisfação estética do homem. O islamismo, com sua proibição da exposição do corpo da mulher, pode parecer a solução para esse problema. Além disso, muitas mulheres têm esse sonho romântico de “se guardar para o marido” e conseguem enxergar beleza nesse negócio de andar completamente coberta e ter um adorador particular em casa.

É claro que, para a mulher que já está no Cristianismo, o islamismo parece apenas uma sandice injustificável. Mas, para a mulher que vive num mundo moralmente desregrado, é vítima de exploração sexual e muitas vezes tem de trabalhar para sustentar a si mesma e aos filhos, o islamismo aparece como a melhor solução.

Enfim, escolher uma religião por motivos filosóficos é coisa de uma minoria. A maioria — sobretudo das mulheres — escolhe a religião com vistas a um benefício específico. O sucesso ou insucesso de uma religião depende dos benefícios que ela promete, para esta e para a próxima vida.

Mas não creio que isso seja motivo para julgar ilegítimo esse tipo de conversão. Todos nós queremos benefícios, e é óbvio que entre um Deus bom e um cruel, escolheremos o primeiro, mesmo que o segundo muitas vezes nos pareça mais verdadeiro.

Há ainda, como já disse, um reduzido número de pessoas que escolhe uma religião por razões filosóficas e não pelos supostos benefícios que ela promete. No entanto, recentemente me ocorreu que quem busca a religião mais verdadeira já tem uma religião e não sabe: sua religião é a verdade.

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20 Comments

  1. A mulher SÓ tem esse sonho de “se guardar para o marido” por ser exposta a vida inteira à lavagem cerebral promovida pelas religiões, ser submetida desde muito jovem às novelas e aos filmes que retratam situações “religiosamente aceitáveis”.
    Querer se guardar para o marido não é algo que nasce com a mulher. É algo incutido nela, com o passar dos anos. É cultural, não genético.

  2. E só para esclarecer um erro crasso…
    Há mais ou menos 1000 anos, um grande rabino alemão, Rabbi Gershom “a Luz da Diáspora”, baniu a poligamia. Essa proibição foi aceita por todos os judeus Askenazi e apenas não foi aceita por algumas comunidades Sefaradi.

    Ou seja: dizer que o judaísmo, como religião, aceita a poligamia como concubinato é, no mínimo, ignorância.

  3. alfredo strosser

    Mas a Georgia aí vai ter de concordar que as mulhres hoje só se revoltam com isso antes dos 30 de idade. Depois dos 30, se nao tiverem filhos, pode apostar que estarão looooucas pra se casar, antes que seja tarde…

  4. Ronaldo

    O Alfredo tem razão. Muitas mulheres mudam completamente seus critérios sobre o homem ideal quando chegam perto dos trinta. A vontade de ter filhos fala mais forte, e as esquerdistas revoltadas começam a olhar os capitalistas bem sucedidos com outros olhos. Vou falar sobre isso no meu próximo texto,
    Alfredo.

    Georgia,
    o meu erro crasso não é tão crasso assim. Até hoje existem nos EUA comunidades
    judaicas que admitem a poligamia na forma de comcubinato de um homem casado com uma segunda exposa. A revista Marie Claire publicou um artigo sobre isso, se não me engano, no ano passado. Infelizmente não tenho a revista em mãos, senão eu lhe mandava as referências.

    Mas, quanto a querer ou não querer um casamento monogâmico, isso é uma questão
    que só se pode responder no plano pessoal. Só vc sabe se vc quer um casamento monogâmico ou não. Eu não queria, mas, depois que conheci a Danielle (minha atual namorada) passei a querer. Aliás, ela era a peça que faltava para eu aceitar plenamente o catolicismo. Antes eu não acreditava no dogma da indissolubilidade do matrimônio. Agora eu acredito. Se for para me casar
    com a Danielle, quero que seja indissolúvel, sim. Mas confesso que os melhores comentários que já li sobre o casamento monogâmico não vieram de cristãos tradicionais, mas de um cristão nada ortodoxo, chamado Swedenborg. Procure por esse nome na net. Acho que dá para baixar o livro “Amor Conjugal” gratuitamente. Esse livro fez minha cabeça no que diz respeito
    ao casamento.

    Obrigado pelos comentários, e obrigado ao Yuri por me dar a oportunidade de expor minhas idéias.

    Abraço,
    Rbr

  5. Marcela

    Tudo isso é muito absurdo. Este blog, pelo que estou vendo, é formado por um bando de machistas de direita. Em que século vocês vivem?
    Marcela.

  6. Não, Marcela, vc está enganada. Este blog é escrito por mim e por meus amigos, sendo que sou o único que conhece pessoalmente a todos. Aqui vc encontrará direitistas, esquerdistas, apolíticos, ateus, agnósticos, religiosos, engenheiros, cineastas, professores, vagabundos e poetas. Ou seja, gente que só aceitou escrever no mesmo site por conta da amizade que tenho por todos. O que manda aqui é a tolerância. Não seja intolerante com os demais porque vc não tolera um suposto “machista de direita”. Procure mais e vc encontrará alguém com quem tenha afinidade. Muito embora creio que Nietzsche tenha razão ao afirmar que:
    “A melhor forma de corromper a juventude é ensiná-la a manter aqueles que pensam como ela em mais alta estima do que aqueles que pensam diferentemente”.
    Forte abraço
    Yuri Vieira

  7. Me fala quem é o esquerdista desse blog pra eu dar um pau nele!

  8. Bom, Pedro, segundo a definição do Facundo Cabral – “ambientalistas e ecologistas são marxistas reciclados” – creio que o mais à esquerda aqui é você mesmo. (O Daniel, por exemplo, se considera left-liberal.) Logo, acho que vc pode dar vazão a seu extremismo (“dar um pau nele!”), batendo a cabeça na parede… 🙂

  9. Yuri,

    Por esta sua definição eu tb sou esquerdista, e portanto, como vc me conhece bem, o Facundo Cabral está errado.

  10. Tati

    Ronaldo e Alfredo, não sou esquerdista. Um pouco feminista? Acho que sim. Tenho o meu lado machista. Quem não tem? Por outro lado confesso que adoro os homens.
    Bem, vou completar 31 anos e sinceramente, não penso em me casar e tampouco ter filhos. No momento tenho outras prioridades, acho que sou bem resolvida nesse assunto. No meu ponto de vista não existe o tarde, o que existe é o agora. Então Alfredo descordo com o seu tarde demais. Se por algum acaso decidir casar com 40 ou 50 anos. O que tem de errado nisso? Claro que para se ter um filho nessa idade é complicado, mas não impossível.Seria preconseito, achar que uma mulher mais madura, não pudesse constituir uma família (seria um pensamento machista).
    Agora, não me vejo abrindo mão de um amor. Já vivi vários e espero viver muitos outros.

    Bijinhos
    Tati

  11. Henrique Silvanyar

    Li, de cabo a rabo, o seu artigo, e o acheio um artigo religioso típico: pedante, preconceituoso e tendencioso. Você simplifica fenômenos profundamente complexos para “adaptar” a realidade às suas idéias preferidas. Por exemplo, você não sabe nada sobre ateus.
    Eu sou ateu, e te digo que você disse bobagens violentas. Ateísmo é tão somente a descrença em divindades. A descrença em si não é uma religião. Considere, por exemplo, que toda criança pequena é atéia. Porque não se pode esperar que crianças acreditem em um conceito que não tem condições de compreender.
    Em adultos, os motivos da descrença podem variar, de fato, mas você se engana quando diz que é para ficar livre para fazer o que bem entende. Primeiro, porque continuamos limitados por nosso conceito de moral. E, sim, cada ateu tem o seu, mas ele existe. Segundo, por que ficar livre de algumas bobas restrições religiosas não é uma troca tão deliciosa como você fantasia.
    Não compensa. Seria muito melhor se realmente houvesse uma outra vida eterna após a morte e não valeria a pena jogar isso fora por alguns anos de “depravação”. Quando você falou em ateus, atribuiu ao meu time gente que não está conosto. Ateísmo é ar de montanha, meu caro, é puro, mas é rarefeito e não deixa muito com que se sustentar. Por isso, pouca gente vem aqui. Esse pessoal que simplesmente parou de ir na igreja e não dá bola para a bobajada bíblica, mas ainda usa as formas religiosas quando tá no aperto, é gente indecisa. Geralmetne não são ateus. Ainda acreditam em divindades, e no fundo gostariam de ser mais religiosos. Mas, infelizmente para eles, o cristianismo está muito engessado para acompanhar o mundo moderno.
    Pode ser que algum dia venha a haver uma grande massa de ateus se a população tiver uma formação acadêmica e filosófica boa, mas é improvável.
    Os principais motivos da religiosidade e consequentes conversões são emocionais. Não é um juízo de valor que pese religião A em comparação com religião B. Por isso mesmo, a resistência e persistência da religião, ainda que de modo residual neste mundo de luzes, onde a ciência expulsou as sombras dos deuses de quase todos as questões importantes da humanidade.
    E as mulheres, como se deixam levar por uma boa emoção mais do que os homens, são mais religiosas do que nós. O trabalho que eu tenho para encontrar uma boa atéia por aí, nem te conto.

  12. Ronaldo Brito Roque

    Meu amigo,

    vc falou tanta asneira que fica impossível responder a tudo em um comentário. Vou me concentrar em dois pontos. Vc não entende nada de (1) filosofia, muito menos de (2) psicologia feminina.

    1. A filosofia não compete com a religião. Filosofia é uma forma de organizar os conhecimentos, não é um conhecimento em si. Por isso tanto existem filósofos cristãos como filósofos ateus – ou vc acha que São Tomás de Aquino não era filósofo?

    A relgião, ao contrário, não é um modo de organizar o conhecimento, mas um conjunto de conhecimentos específicos, sobre Deus, sobre céu, inferno, vida após a morte, etc. O que caracteriza esses conhecimentos – e portanto os faz partes de um mesmo conjunto – é o fato de eles não poderem ser obtidos pela razão natural. De fato, se um sujeito diz que depois da morte há céu, inferno ou sei lá o quê, ele tem de ter obtido esse conhecimento por meio sobrenatural, pois, por meios naturais, não é possível morrer e depois voltar para contar o que há do outro lado. É por isso que as religiões são fundadas por revelações sobrenaturais. Moisés conversou com Deus, Maomé conversou com o anjo Gabriel, e Jesus Cristo era o próprio Deus que se encarnou em ser humano e disse o que esperava da gente. Pouco importa se vc acredita nisso ou não, o fato é que isso é totalmente coerente. Só é possível obter informações sobre o que há depois da morte, se vc conversar com um ser sobrenatural, que já vive no “depois da morte”. Por isso é totalmente lógico que as relgiões sejam fundadas em revelações sobrenaturais.
    Mas veja bem: do ponto de vista da religião, tanto faz se esses conhecimentos vão ser transmitidos por meios filosóficos ou por meios simbólicos, metafóricos e literários. A Bíblia os transmite por meios simbólicos, São Tomás os transmite por meios filosóficos, mas do ponto de vista da religião, transmiti-los de uma forma ou de outra é acidental. O essencial é o reconhecimento de que esses conhecimentos não podem ser obtidos por meios naturais. Por meios naturais é impossível fazer uma experiência tipo: vou morrer, dar uma olhada lá, depois eu volto para dizer como é. A religião responde a uma pergunta específica: o que há depois da morte? Essa pergunta a filosofia por si só não pode responder. Por isso sua idéia de que um ensinamento maciço de filosfia substituiria a religião é simplesmente ridícula. Vc pensou nisso porque não sabia o que era filosofia. Agora vc sabe e não tem mais desculpa.

    2. Vc diz que é difícil encontrar mulher atéia. Muito pelo contrário. Quase todas as mulheres do mundo são atéias. A religião da mulher é o casamento. Ela está pouco se lixando se existe vida após a morte. Aliás, vc já notou como as mulheres são preocupadas com dinheiro e questões práticas? Elas não se interessam nem um pouco pelo sentido da vida, muito menos por debates como este que estamos tendo. Então, por que elas vão tanto à missa? Para pedir um carro, para pedir a cura de uma doença, etc. Elas procuram a religião por motivos práticos. E o maior desses motivos é o casamento. Elas querem se casar, elas querem um cara preso a elas para o resto da vida. Então elas pensam: se eu for atéia, vou defender o casamento em nome de quê? A ciência não nos dá motivos para ficarmos casados para sempre com a mesma mulher. Quem nos dá motivos para isso? É a religião. Então elas se tornam religiosas porque essa é a única forma de obter um casamento indissolúvel. Quando uma mulher está numa igreja, ela está pedindo um carro, pedindo a cura de alguma doença, pedindo para o filho passar no vestibular, ou pedindo um marido. No fundo ela nem sabe o que é religião. Deus para ela é apenas um cara bonzinho que vai lhe dar o que ela quer.

    Agora, se liga numa coisa: não fique procurando atéias para se casar. A mulher quer que vc suba num altar e diga a ela que quer ficar com ela para o resto da vida. Além disso ela quer gravar o casamento para mostrar para as amigas, quer casar para mostrar aos pais, etc. Não seja bobo, rapaz. A mulher não busca um homem, busca uma promessa. Dê-lhe essa promessa, e ela te dará a satisfação afetiva e sexual que vc busca.

    Abraço,
    Rbr

  13. Para mim, a maior bobagem que o Henrique escreveu aí acima – e só me concentrarei nela – foi dizer que toda criança é atéia. (!!!!) E ainda acrescentou que “não se pode esperar que crianças acreditem em um conceito que não tem condições de compreender”. Ou seja, ele refutou a si mesmo, afinal, dentro deste raciocínio, também é o ateísmo um conceito além da compreensão infantil. É como se ele achasse o ateísmo um estado do ser e não um conceito que se abraça ou não. Até hoje, nunca vi uma criança com menos de cinco anos que não tivesse uma atitude de devoção para com todo o mundo, como se houvesse divindade em tudo. Até um pequeno delinqüente adora o chefe de sua gangue como a um semi-deus. Como escreveu Mallarmé: “Vivemos num mundo secular. Para adaptar-se a ele a criança renuncia ao seu êxtase”. Eis tudo. É a lavagem cerebral secular que retira o caráter mágico da vida e o sentido transcendental do existir. Essa idéia de substituir a religião pela ciência é justamente a viagem na maionese da Nova Ordem Mundial, essa turma totalitarista que não crê na soberania espiritual do indivíduo e que, exatamente por isso, pretende imiscuir-se em todas as nossas crenças, pensamentos e decisões. Se o cara tivesse lido Spengler, saberia que cada cultura tem uma ciência totalmente dependente de sua visão de mundo cósmica, enfim, de sua religião. Nunca me esqueço da discussão entre Werner Heisenberg e Niels Bohr a respeito de Deus. Nenhum deles duvidava de que Ele existe. Discutiam apenas se Ele possuía ou não uma personalidade. O segundo achava que não, o primeiro que sim. O que é logicamente pensavél é também possível. A imaginação é a base da consciência – vide Aristóteles e os Quatro Discursos (Olavo de Carvalho) – e é nela que a religião age. O pathos religioso é o maior impulso para uma vida plena. Nunca me esqueço de como a Hilda Hilst via um ateu puro e simples: alguém de imaginação paupérrima, uma pessoa de mente simplória. Ateus são apenas pessoas na sala de espera – com o detalhe de que não sabem disso, não conseguem concebê-lo. Da última vez que passei por esse mundo, avisei a respeito desse tipo de comportamento bobo e da desgraça que adviria. (Este último comentário é só pra pentelhar um pouquinho, hehe.) Enfim, a imaginação é o que a criança tem de mais fértil. E é nela que devem ser plantadas as sementes corretas. (É por conta desse ateísmo que o islã está dominando a Europa. A imaginação não se satisfaz com gravetos secos.)
    Abração
    Yuri

  14. bruno costa

    Olá, pessoal, meu nome é Bruno e eu fui um agnóstico ‘espiritualizado’ crônico. Hoje faz alguns anos que eu estou limpo, mas ainda tenho recaídas ciclotímicas. Vim aqui partilhar minha experiência com vocês. Francamente: na atual disjuntura política e econômica, Deus é a menor das minhas preocupações. Às vezes assaltam-me alucinações de um futuro não muito distante no qual todos nos preocupamos mais uns com os outros e menos com Deus, “esse animalúculo que nos corrói internamente”, como dizia Artaud. E se o Lula se reeleger amanhã significará que Ele está irado conosco? Nessas horas eu sempre me lembro da resposta do meu querido amigo Tulius à pergunta “Deus existe?”: “Existe sim, e é uma bicha velha e vingativa.” Vote Alckmin
    P.S.: Tudo o que foi dito acima sobre “as mulheres” não passa da mais deslavada sandice fanfarrônica, não obstante divertida e instrutiva (por contraste), segundo um exemplar dessa espécie que eu pude coletar e tenho mantido (em condições de dar inveja a muita cobaia boa por aí) em observação para estudos.

  15. Ronaldo Brito Roque

    Olha, Yuri, vc vai me desculpar mas nesse ponto eu não concordo nem com vc nem com o Henrique. As crianças não são nem religiosas nem atéias. Elas simplesmente não se interessam por essa questão. Se vc disser a uma criança que existe um Deus, e ele é bom, ela pode até começar a rezar para pedir uma bicicleta ou coisa parecida, mas isso não é ser religioso. E, se ela não ganhar a bicicleta e disser que Deus não existe, isso também não é ser ateu.

    Só lá pelos 14 anos, quando um padre disser que o menino não pode se masturbar porque é pecado, e o menino começar a se perguntar se Deus e pecado são coisas que existem mesmo ou apenas papo-furado do padre, aí sim é que podemos falar em menino religioso ou ateu, dependendo da escolha que ele fizer.

    Agora veja bem: mesmo que as crianças fossem atéias, isso não seria um argumento em favor do ateísmo. Crianças são ignorantes em absoltumente tudo. Se vc não lhes ensinar, elas não aprender nem a cagar na privada. Se uma criança não crescer entre adultos, ela nem sequer aprende a falar. Então por que usar os pensamentos de uma criança como base para compreender alguma coisa? Não podemos usar os pensamentos da criança nem para compreender a própria criança. E é justamente nesse ponto que o Henrique fala a maior besteira. Se a criança não sabe que Deus existe, nem por isso Deus se torna menos existente. Seria o mesmo que dizer: Nova Iorque não existe, porque as crianças não sabem que Nova Iorque existe. Ridículo, não?

    Agora me explica uma coisa: O que é logicamente pensável é também possível. Até aí tudo bem. Mas como é que disso se pode concluir que a imaginação é a base da consciência? Isso é que não deu para entender. Me ajuda aí, vai.

    Abraço,
    Rbr

  16. daniel christino

    Deus: meu amigo imaginário!!!

  17. Ronaldo, em momento algum eu disse o oposto do Henrique, a saber, que a criança crê naturalmente em Deus. Se isso fosse verdade, não haveria necessidade da Revelação. Eu só disse que a imaginação é tão dominante nessa primeira fase da vida, que a criança vive numa espécie de êxtase intermitente, no qual qualquer elemento do mundo pode adquirir de uma hora pra outra uma aura de divindade. O papel do adulto é aproveitar essa oportunidade para ajudá-la a ver Quem realmente merece sua devoção. Só isso. Do restante, já não me ocupo mais. Cansei desse tipo de discussão. Minha fé me basta.
    Abração!

  18. Aaaaaaaaaaaah!… Tive um verdadeiro orgasmo ao apagar o último comentário desse tal de Henrique Silvanyar. Não foi censura, foi só sacanagem mesmo. Se o cara quer tripudiar em cima de mim, que o faça em seu próprio site, isto aqui não é fórum. 😛

  19. Henrique Silvanyar

    Típico, e nem um pouco inesperado. Pelo visto, acertei meu diagnóstico precisamente. Não se preocupem não escrerei mais para vocês.
    Adeus.

  20. Ótimo, agora que, conforme o esperado, o figurinha deu as caras para dizer que não dará mais as caras – ahahahaha, sei – devo lembrar que, além de partir pro insulto pessoal, o cara, em seu comentário deletado, chegou ao ridículo de afirmar que é óbvio que toda criança, dessas minúsculas que não sabem ainda nem falar, é atéia. Como se o ateísmo fosse um estado natural (da psique ou do ser, sei lá) e não uma visão de mundo resultante de um conjunto de princípios, conceitos e até, ou principalmente, crenças, todos sem excessão transmitidos apenas a quem é capaz da linguagem. Se ele tivesse se limitado a fazer esse comentário bobo, se abstendo das ofenças, não teria sido deletado. Mas, vcs sabem, neguinho é cretino a ponto de sair cagando nas homepages dos outros, como se fossem todas espaços públicos. No meu lar (home) só abrem a boca eu, meus amigos e as pessoas que sabem o que é respeito.
    []’s

    P.S.: Agora, cá entre nós, que foi uma delícia apagar um comentário enorme e cabotino como aquele, feito como se a “salvação” intelectual do autor dependesse dele, ah, isso foi.

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