blog do escritor yuri vieira e convidados...

Mês: janeiro 2006 Page 7 of 9

A Cópula, de Manuel Bandeira

Carol, uma amiga do Rio, me enviou “este surpreendente soneto de Bandeira, com nítida influência de Bocage, que faz parte da coleção de Obras Raras da Biblioteca da Universidade de Brasília. Foi publicado pela primeira vez na revista Bric a Brac, Brasília, 1986″.

O Pai Universal

Será que meus colaboradores haviam esquecido que eu, o editador deste blog, continuarei urantiano mesmo com a presença deles? (“Yurantiano”, dirá o Daniel.) Pois é, fiquem eles sabendo que o HAL9000 retornou dos confins do espaço e, após passar por uns maus bocados, também ele veio proclamar, de cima dos telhados digitais, o amor do Pai Universal por seus desencaminhados filhos terráqueos, quero dizer, urantianos.

Escutem só.

Para saber (em português) o que foi que o HAL9000 aprendeu após sofrer um boot da parte do Dave – não há nada como uma experiência de quase-morte – clique no link abaixo. (Por favor, amigos, respeitem a minha loucura e eu respeitarei as respectivas.)

Barra do Superagüi

Visão de 270 graus: as ilhas, um vão – através do qual o imenso Atlântico se revela para além de um farol – a longa restinga, a vasta Serra do Mar em sucessivas camadas de montanhas – do preto ao cinza embaçado. Contra esse céu largo, o vôo de um biguá solitário, o mar, o mar, o mar e a luz amarela densa desse fim de dia deixando mais existentes as madeiras desse barco que singra as águas dessa baía, cortando esse ar frio e intenso. E essa mulher de sombrancelhas grossas do outro lado do convés me instilando sentimentos e fantasias de me largar no mundo, sem tempo, nem dia.

Uma carta de amor por Rubem

Num certo momento da conversa, Rubem Braga olhou para mim e disse: “Você sabe escrever uma carta de amor?” Hesitei um pouco. Eu nem sou escritor! Pensei em silêncio e respondi: “Olha, já escrevi algumas, mas não sei bem se realmente sei escrever uma boa carta de amor…”

Eu o tinha encontrado por acaso em Ipanema. Foi em 1987. Talvez 1988.

De certa forma foi engraçado. Ele já era uma pessoa de idade. A conversa foi breve. Começou quando eu me apresentei, dizendo que gostava muito de suas crônicas, etc. Mas, como disse, meio assim de repente, ele olhou para a minha acompanhante e veio com essa pergunta da carta de amor para mim. Foi algo inesperado.

O Cachorro de Fogo

Quando encontrei o Sérvio Túlio Caetano em sua rápida passagem pelo Brasil – o cara não abandona a França nem que a vaca tussa com a fumaça dos carros incendiados- enchi seus ouvidos com minha ladainha: “cara, você precisa partir pra animação, quando o fizer, irá arrebentar, começa com o flash, depois você vai avançando pra lá do Maya” e tal. E ele, que é um dos artistas do excelente site francês Coconino World – veja parte do louquíssimo portfolio dele aqui – e ele então fez uma cara como quem diz: “puts, vou ter de dominar mais uma ferramenta a partir do zero, saco…” E parecia que a coisa iria demorar, que ele continuaria por muito tempo ainda trabalhando “apenas” com ilustração e quadrinhos. Os meses passaram e, de repente, na virada do ano, não é que recebo uma animação de ano novo do cara? É esta aqui abaixo, o Cachorro de Fogo. (Clique sobre a imagem com o botão direito do mouse e selecione “play”.)

Aposto que o cara fez tudo numa sentada. Claro que ele agora irá contribuir com o Garganta de Fogo, publicando aqui, por conta própria, mais animações em flash. O bicho vai pegar, esse cachorrinho aí é só a pontinhinha do iceberg criativo dele.

Valeu, Sérvio!

Juliette & The Licks

Juliette LewisSe eu ainda tivesse a cabeça que tinha quando, nos anos 80, acompanhava o movimento punk – inclusive indo a shows dos Inocentes, Garotos Podres, Replicantes, Cólera, etc. – se eu tivesse essa cabeça, estaria loucamente apaixonado pela fase vocalista da Juliette Lewis, aquela lolita que conhecemos no filme Cabo do Medo. Pena que essas garotas doidinhas já não me assustam mais. (A gente sempre se apaixona por quem nos causa temor y temblor. Ultimamente a Teresa de Ávila me parece infinitas vezes mais espantosa.) Juliette Lewis & The LicksMas até que a banda Juliette & The Licks faz, dentro de seu estilo podreira, um bom som. Lembra realmente a minha aborrescência. E a figura, claro, é das mais performáticas. E gata.

Mensagens de secretária eletrônica

As mensagens de secretária eletrônica mais hilariantes que já ouvi são as criadas pelo Beto Hora. Já falei sobre isso aqui, mas é que ouvi-las novamente, num dia cinzento, é como tomar mais um chope num dia quente. (Ou como tornar a assistir, num dia de dor de cotovelo, àquele DVD do Friends.) Eis as minhas prediletas:

Sinceramente, se alguém não der risada de pelo menos uma dessas mensagens, é porque, noutra encarnação, passou veneno nas bordas da Comédia de Aristóteles…

Libertários vs. Libertários

Eu não tenho dúvida de que aprender a julgar as pessoas com base em seus atos, e não em suas idéias, é um dos grandes desafios que todos nós temos. Possuímos toda uma retórica sobre a importância e o valor da democracia, mas, infelizmente, e aqui me incluo, somos virtualmente incapazes de verdadeiro respeito pelas opiniões e preferências das pessoas. Julgamos e condenamos, muitas vezes perpetuamente, com base em duas palavras e, pior, mas nessa não me incluo, volta e meia estamos prontos a querer calar o outro, cerceá-lo em suas idéias.

É muito difícil manter uma postura realmente aberta e de genuína curiosidade diante das pessoas e do mundo porque isso pressupõe, em alguma medida, manter sempre em questão nossos valores e nossas próprias idéias, o que dá um medão. Mas é um trabalho que vale à pena. Aliás, talvez o único que realmente o valha porque fora dele é pura perdição. Não é à toa que nosso mundo ande tão mal das pernas, eternamente de TPM.

A tela

Uma coisa curiosa tem me acontecido praticamente todos os dias. É uma bobagem, reconheço, mas não consigo deixar de reparar. Talvez seja um bom exemplo do poder da mídia. Já chego lá.

Tem coisa mais sem graça do que papo de elevador? Puxa, aquela conversinha mole que a gente escuta meio com a orelha de lado naqueles poucos segundos que parecem não passar é de lascar. Tem sempre alguém dizendo como seu fim de semana foi chato ou detalhando uma receita culinária ou contando uma piada meio preconceituosa.

Mas existe algo que empata. Silêncio de elevador. Eu entro e sempre topo com aquele sujeito com cara de bobo que, claro, não tenho a menor idéia de quem seja. Mas o fulano toda vez me cumprimenta. E sabe meu nome! “Bom dia, Rodrigo! Como vai?” E eu ali, sorrisinho de lado, botando os neurônios para processar, mas eles sempre travam antes de me dizer quem é o cara. Morro de medo de o sujeito perceber que não tenho a menor idéia de quem ele seja. Resta-me ficar em silêncio.

E não é que descolei um elevador à prova de papo furado e de silêncio constrangedor? É no prédio onde fica o escritório da Reuters, colado à Ponte João Dias, em São Paulo.

Cada elevador do edifício tem uma tela LCD conectada ao Portal Terra. Ou seja, você viaja até seu andar acompanhando as últimas notícias e, naturalmente, alguma publicidade.

Controle, controle, controle…

Este post pretende complementar o post do Yuri sobre a necessidade dos Estados – acho que até meio independente dos partidos a navegá-los – de manter controle sistêmico sobre seus cidadãos. Niklas Luhman (que o pessoal da sociologia deve conhecer bem) gostava de comparar o “sistema” Estado ao “sistema” indivíduo, afirmando que ambos deveriam chegar a um eqüílibrio necessário: se há Estado demais, o indivíduo desaparece e estamos sob um regime totalitário; se há indivíduo demais, o Estado desaparece, e estamos na barbárie.

Pois é, agora os Estados Unidos, bastião do liberalismo (se anárquico ou não eu deixo pro Paulo falar) mundial, estão querendo controlar o que dizem e escrevem seus cidadãos e, pasmem, com a aquiescência dos mesmos. Segundo notícia do Estadão, “mais da metade dos americanos se mostraram favoráveis a que o Governo conte com uma ordem judicial para obter informações secretas de seus cidadãos”. Em que medida uma ordem judicial poderia garantir a liberdade individual do cidadão é um mistério, mesmo assim é uma barreira formal que acabará caindo. Se quisermos ser um pouco mais sofisticados em qualquer análise política, não convém identificar atores reais com valores morais rígidos (bem e mal), ou perderemos a heurística dos conceitos.

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