Eu quero um homem
que faça versos
que me mostre o quanto eu não sei
fazer versos
e me deixe subitamente feliz por não precisar mais
fazer versos.
eu quero um homem que seja
um menino
magro, desamparado
rejeitado por todas as mulheres
e ainda assim tenha no peito
um amor quente e inquestionável
úmido e salgado como lágrima
espesso como sêmen
explosivo como sêmen.
Ou um homem velho, bruto,
fatigado das mulheres.
Um homem que diga “mulheres,
mulheres, ah, essas mulheres!”
E ainda assim se apaixone
bestamente como um colegial.
Um homem que depois do sexo
durma nos meus braços
como um gorila derrotado.
Um homem que, entre dois ou três
olhares ríspidos, me revele sem querer
a criança triste
que ele sempre foi
malgrado tantos charutos, tanta bebida,
tanto riso de escárnio.
Uma espécie de marujo
que às vezes parta para bem longe
e me deixe suspirosa e indefesa como uma grávida,
amarga como uma velha,
estúpida como uma fêmea.
Mas desses homens não há mais
e eu sigo torta e cabisbaixa.
Eu olho para a lua com ar de quem
vai fazer uma confissão
mas eu não confesso nada!
Eu tenho meu caderninho
e nele faço versos
para maldizer esse homem fugidio
que não os faz para mim.