Que onda é essa de documentário experimental? A coisa virou até categoria agora em festivais e editais públicos. Me desculpem e me chamem de careta, mas tenham paciência. É o cúmulo da falta de bom senso e critério estético pra julgar as coisas. Qualquer otário com uma câmera digital, ou até a câmera do celular que ganhou da mamãe, sai gravando imagens tremidas da vó assistindo novela, mescla com uns takes desfocados do cachorro cagando, coloca uma trilha sonora destorcida, uns guinchos da namorada e temos um filme digno de ser aceito em festivais e do meu tempo para assisti-lo? Me poupem.

E o pior é que basta olhar a lista do que anda sendo premiado por aí, e não encontrarão nada tradicional, do tipo um documentário sério que entrevista pessoas. Me chamem de burro, ignorante e insensível, mas não há nada mais sonífero e irritante do que câmeras que passeiam ao léu, mostrando o céu e pés de pessoas desfocados. Para que nossos diretores de fotografia estudaram tanto? Para que um Walter Carvalho e um Dib Lutfi, se agora qualquer mané pega a câmera e sai fazendo o que quer? Para que aprender a dirigir? Para que técnicas de roteiro?

Eu, na verdade, estou tendo uma idéia que vai me deixar rico. Vou comprar um belo HD de alguns terabytes, onde armazenarei várias horas de imagens de toda sorte, efeitos sonoros mil e trilhas sonoras de música também experimental. Depois, com uma rotina simples ligada ao software de edição, deixarei meu computador produzindo sozinho centenas de vídeos experimentais, buscando imagens e sons aleatoriamente na memória e colando-os. Serei expositor assíduo em bienais e festivais de cinema e provavelmente ficarei muito famoso.