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Negócio da China: como funciona

Antônio C. Veloso, irmão do meu cunhado, é empresário do ramo de autopeças. Recentemente participou de um encontro, em São Paulo, com representantes de indústrias chinesas interessadas no mercado brasileiro. Passadas as formalidades e o grosso da reunião, sentou-se a conversar com um desses negociantes. A certa altura veio à tona a observação, corrente entre nós, a respeito da baixa qualidade dos produtos importados da China e o impacto destruidor de seus baixos preços.

“Uma esferográfica chinesa, por exemplo”, dizia Antônio, “não custa sequer 10% de uma caneta Bic, mas tampouco dura 10% do tempo desta última”. (Cá entre nós, ele quis dizer que as canetas deles são vagabundas mesmo.) O corolário desse processo é que, mais cedo ou mais tarde, a Bic e demais similares nacionais irão quebrar e nós só teremos canetas chinesas de meia tigela para consumir. (Aliás, tudo isso foi previsto por Oswald Spengler em O Homem e a Técnica, livro este que previa a quebra geral das empresas ocidentais pela inundação de produtos orientais e terceiro-mundistas muito mais baratos.)

Mas o chinês retrucou: “Não é assim que nós vemos as coisas. Nossa política não é a de empurrar produtos baratos de baixa qualidade para vocês. Nós fornecemos apenas o que nos é solicitado. Não damos preços. Muito pelo contrário. Vocês é que ditam o preço. Perguntamos: ‘Quanto vocês querem pagar por uma caneta?’ Se vocês disserem dez reais, tudo bem, fabricaremos canetas que valem dez reais. Mas se vocês disserem dez centavos, não esperem que lhes entreguemos canetas de dez reais no lugar delas…”

Huuummm. Então é isso. Os figuras são muito espertos mesmo. Nunca perguntam: “Vocês querem canetas ótimas, boas ou ruins?” Não, porque assim não funciona, isto é, não funciona para eles, pois não venderiam tanto. A essa pergunta a resposta seria: “Ora, queremos produtos excelentes!” A questão é que bons produtos made in China iriam lutar no mínimo de igual para igual com os autóctones. A invasão vermelha seria refreada. No entanto, qual seria a resposta a essa outra pergunta: “Querem produtos caros, baratos ou baratíssimos?” Pô! Quem é que quer pagar caro pelas coisas? Ninguém. Pelo menos ninguém que pare pra pensar uma só vez antes de comprar.

Enfim, a gente acha que é brincadeira mas eles realmente leram a Arte da Guerra do Sun Tzu: o melhor general é aquele que vence a guerra sem disparar um único tiro. Afinal, cem toneladas de canetas ordinárias não são vistas como agressão. Ao menos por enquanto…

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1 Comment

  1. Bruno Costa

    Espertinhos! Ainda bem que nos alertaste, Yuri.

    (Estou, no entanto, muito satisfeito com meu diminuto mp3 ‘sony’ chinês comprado pela bagatela de 190 na sta. ifigênia. Enquanto muita gente ‘esperta’ por aí tá pagando milão num manéIpod (eu não pude)…
    Sério, pessoal, o treco funciona bem, FM, idtag ‘flúor’, gravador de voz, o escambau, agora posso ouvir as sonatas para viola da gamba do Bach enquanto espero na fila do banco… estou com o bagulhinho há meses e ainda não estragou!!! incrível…

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