blog do escritor yuri vieira e convidados...

O Garganta em erupção

As sincronicidades são mesmo fabulosas. O vulcão equatoriano Tungurahua (Garganta de fogo, em quechua) começou a vomitar cascalho, cinza e lava novamente. (Veja no Google Maps.) Aliás, ainda não expliquei o porquê de eu ter usado o nome e a foto desse vulcão no blog, mas qualquer dia o farei. (Há algumas fotos da minha escalada ao dito cujo no meu perfil. Fotos com mais de dez anos.) Pois é, o cume do vulcão, onde estive sentado (veja a foto) e em cuja neve enterrei um papel com uma citação de Nietzsche, já não existe desde 1999, quando explodiu. (A erupção anterior havia sido em 1925.) O fato é que, em 1999, alguns anos depois da minha escalada, eu também sofri algumas explosões internas que não vêm ao caso. Assim como estou novamente prestes a entrar em erupção: “Não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.” (Ah, essa raça irritável dos homens de letras! Tão cheia de frescuras…)

Enfim, eis os versos nietzscheanos que viraram fumaça:

“Vós outros olhais para cima quando aspirais elevar-vos.
Eu, como estou alto, olho para baixo.
Qual de vós podeis estar alto e rir-vos ao mesmo tempo?
O que escala elevados montes ri-se de todas as tragédias da cena e da vida.”
Zaratustra

No alto do vulcão, pensei com os zíperes do meu anorak North Face que Nietzsche certamente nunca subira ao cume dum “elevado monte”. Ao menos não nos Andes. (Enquanto o Tungurahua tem mais de 5000 metros, o Monte Branco, ponto culminante da Europa, não passa dos 4800 metros.) Do contrário, conheceria o microclima dessas montanhas, que as enche de nuvens, justamente no ápice da aventura, e não nos deixa ver ninguém lá de cima, muito menos rir das cenas da vida. A gente, tanto quanto o vulcão, fica é a ponto de explodir…

Que Deus ilumine o caminho daqueles que ali morreram esta semana. Hermanos, oiga lo que les digo, vivir cerca de un volcán es como vivir con una espada colgada sobre la cabeza… de toda la gente.

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3 Comments

  1. Vin

    Yuri,

    Também não precisava levar a filosofia estéril de Nietzsche ao pé da letra, né?!

    Zaratustra não passa de um blefe pueril para os ácefalos do nosso tempo.

    Bela aventura!

  2. Ola!!!

    Gostaria de saber como faço para incluir um link no site?

    Aguardo.

    Jéssica Amaral – Mypod
    jessica@midiadigital.com.br
    (41) 3356-5683

  3. Pois é, Vinicius, minha aborrescência mental não foi nada fácil. Vc precisava ver minhas tentativas de provar a doutrina do Eterno Retorno com o auxílio de chá de cogumelo. Sim, Nietzsche quase me matou. De várias formas…
    Abraço!

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