De vez em quando releio alguns clássicos da crítica literária brasileira. Coisa fina. É obrigação moral de qualquer escritor desencorajado tornar-se o melhor leitor que conseguir. Sem ressentimentos ou protestos às musas. Se não deu, não deu. Acostume-se, mas nunca abandone a Arte. Há escritores por aí sedentos por leitores acima da média, capazes de estabelecer um diálogo inteligente e honesto. Portanto leia os clássicos, meu amigo. Não sou o Jucelino, mas prevejo – com 10% de margem de erro – interpretações canhestras e desvios hermenêuticos graves no seu futuro, caso ignore o aviso. Eis uma palhinha do Alfredo Bosi em “Dialética da Colonização” para você sentir o drama (humm…):
As Luzes não se apagaram pelo fato de as terem refletido criticamente o pensamento hegeliano-marxista, a sociologia do conhecimento e uma certa fenomenologia avessa ao racionalismo clássico. E, se me for permitida uma comparação como o que aconteceu com o idealismo neoplatônico no seu encontro com o cristianismo, diria que, assim como o Logos precisou “fazer-se carne” e “habitar entre nós” para manifestar-se de modo pleno aos homens, também a razão contemporânea saiu à procura da encarnação e da socialização no desejo de superar o já velho projeto ilustrado, salvando-o do risco de involuir para aquela “filosofia estática da Razão”, de que se queixava o insuspeito Mannheim, ou de pôr-se irresponsavelmente a serviço do capitalismo e da máquina burocrática. A inteligência dos povos ex-coloniais tem motivos de sobra e experiência acumulada para desconfiar de uma linguagem ostensivamente neo-ilustrada que se reproduz complacente em meio às mazelas e aos escombros deixados por uma pseudomodernidade racional sem outro horizonte além dos próprios lucros.
Depois volto com um pouco de José Guilherme Merquior.
fulanodetal
Grunf!
Rosa Maria
É, Daniel, a aceitação de ser-leitor nem é assim tão dramática, mas necessária. Poupa o mundo de tanta mediocridade!
Lá se vão bons anos desde que me aceitei nessa condição e, desde então, vivo bem, sem traumas ou frustrações, e em muito boa companhia. Confesso que sinto muita falta dos meus livros, principalmente do bom e velho português, mas me descobri feliz lendo os Dickens mofadinhos dos tempos de infância do Marc…E que venha o mundo novo!
Beijos muitos