Grandes metropoles dao uma certa preguica, quando se e estrangeiro. Sao quase todas cada vez mais iguais, cheias de bilboards da Nokia, da Loreal e do HSBC, vias expressas, juventude com visual descolado, turistas atrapalhados e um Hard Rock Cafe, que e o suprassumo da pasteurizacao da cultura global, em que a gente acha bom poder sair de casa sem sair. Ca entre nos, why the fuck? alguem vai a um Hard Rock Cafe, toma uma cerveja a precos extorsivos pelos parametros locais e compra um camiseta ridicula, cujo motivo e uma competicao infantil por quem tem aquela com a localizacao mais exotica. Bangkok deve estar no topo desta lista, eu imagino. Uma camiseta do HRC Bangkok vale 10 vezes o preco de uma do HRC Cape Town, que vale 20 vezes o preco de uma HRC Miami, que e a coisa mais mane que alguem pode ter. Acho que funciona mais ou menos assim.

As boas cosmopoles sao aquelas que conseguem mesclar tradicao e modernidade em sua paisagem, o peso de uma historia rica e as conexoes e fluxos informacionais da modernidade. E o caso da maioria das capitais europeias. Mas duro mesmo sao essas metropoles do Terceiro Mundo, tipo esta Bangkok onde me encontro, onde a tradicao, na paisagem, esta preservada essencialmente pra gringo ver, ja nao e parte viva da vida e cultura da cidade.

Sim, eu estou resmungando um bocado porque ja tinha me prometido que nao passaria mais que dois dias neste tipo de cidade como turista, a menos que tivesse um anfitriao local. Essa e uma regra do viajante sabido. Por mais que se seja descolado, curioso e perguntador, e muito dificil entrar na cidade de verdade, conseguindo sair da cidade do turismo. Estou me sentindo um pouco Lost in Translation, filme que nao me agradou muito, mas que acho que vou ter que rever e reavaliar quando voltar, se nao por outros motivos, que seja so pra admirar a Scarlet Johanson.

Ta bom, agora o lado legal. Eu nao tinha expectativas de nenhum tipo em relacao ao Palacio Real. Sobretudo depois de ver o casebre que e o Palacio de Buckingham, todos os meus mitos sobre a monarquia haviam caido por terra. Agora, aqui nao, o nivel e outro. O Palacio da Realeza Thai e o complexo de templos anexo, onde se encontra o famoso Buda de Esmeralda, o mais venerado do pais, e de cair o queixo pela sua suntuosidade e riqueza de detalhes. Destas experiencias que nem a turba de turistas consegue diminuir.

E o cotidiano sempre me agrada: observar as pessoas no seu dia a dia, correndo no metro, nos mercados, a loucura do transito. Imperdivel a experiencia de uma carreira arriscada num Tuk-Tuk – os taxis triciclos – em meio ao monoxido de carbono das avenidas de Bangkok, assim como uma viagem de barco expresso, um dos meios de transporte de massa nesta capital, pelos canais poluidos, oportunidade para se ver a bunda da cidade e as criancinhas nadando na agua negra. Soa cinico, mas e o lado vivo da cidade que, como turista, se consegue acessar. E eu prefiro ele aos outdoors da Apple e da Intel.