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Brasil Dividido

Eu estava ensaiando escrever algo que havia mencionado em outro post, sobre a preocupação de ver o país cada vez mais dividido, receita para o desastre, mas aí me deparei com este ensaio do Robeto Pompeu Toledo na Veja, que evidentemtente coloca esta questão de uma maneira muito mais lúcida e clara do que eu seria capaz, de modo que reproduzo abaixo um pequeno trecho seu.

Eu sei que é duro aguentar o petismo e a pobreza de espírito da esquerda, mas os que se colocam do outro lado precisam ter mais serenidade e grandeza de espírito para não cairem na armadilha do divisionismo. O ódio se inflou a tal ponto que os do outro lado já não são mais que o reflexo da esquerda raivosa do lado de lá – todos sedentos de sangue. A mesma postura com o sinal ideológico trocado. Todos quase prontos a lançar o Estado de Direito às favas, desde que sejamos nós quem mande.

Eu acho que a responsabilidade do petismo por este estado de coisas é maior. Foram eles que começaram. Mas os outros, do lado de cá, não podem responder caindo nessa armadilha.

“Devagar com o andor. Assim como se impõe desarmar a árvore, depois do Natal, impõe-se desarmar os espíritos, cumprido este outro marco do calendário que são as eleições. A divisão é uma praga que leva as nações à perdição. Fidel Castro não se recuperou, quase cinqüenta anos passados, do erro de ter dividido o país. Contra ele e seu regime, aguardando a melhor oportunidade, velam inimigos sedentos de vingança. Hugo Chávez foi pela mesma trilha envenenada. Que neste período pós-eleitoral não se venha com a conversa do impeachment ou do ‘fora’ este ou aquele. Não há país que resista a um impeachment a cada temporada. Também não há vantagem, só mais uma manobra de quem cultiva o esporte do tiro no próprio pé, em destronar um presidente para criar a figura ainda mais poderosa do mártir.

Os perdedores devem se consolar com o pensamento de que os governos não podem ser tão diferentes uns dos outros. Fora do sistema não há salvação. Fora do sistema é condenar-se ao atraso, como Cuba ou Coréia do Norte, quando não à fome. Dadas as condicionantes, internas e externas, não sobra tanta margem de manobra. Fora do capitalismo não há salvação. Desejável é que o capitalismo seja temperado pelos ideais de justiça e eqüidade. E pronto. Eis no que se resumem as balizas entre as quais embicar o Estado, na presente quadra histórica. Esperar grandes transformações na passagem de um governo para outro é cair na mesma ilusão de imaginar, na noite do réveillon, que no ano que vem será tudo diferente.

Que o próximo governo não roube, ou roube menos. Que não atente contra esse bem precioso, embora negado pelos cegos e mal-intencionados, que é o estado de direito. E que nossos ouvidos sejam poupados (este é um pedido especial) da hórrida retórica do ‘jamais visto neste país’, ou ‘pela primeira vez em quinhentos anos’. O Brasil não está aí para ser inaugurado toda hora. Nenhum país está. Achar o contrário é fruto da ilusão, da ignorância ou da má-fé. Que sejamos poupados, inversamente, da idéia de que se avizinha o fim do mundo. Também não é assim tão fácil chegar ao fim. Apenas cumprimos um rito, como o do Natal, para o qual se arma a árvore, e depois se desarma, e no outro ano se arma de novo, e depois se desarma. O Brasil continua.”

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3 Comments

  1. Paulo Paiva

    Pedro, é justamente em função do estado de direito que o Lulla deve ser impichado, pois todos são iguais perante a lei. Eu, vc ou o presidente da república. O Collor, por muito menos, foi defenestrado! Em uma democracia avançada, o voto não é um bálsamo que cura câncer moral (e estou usando de um eufemismo, claro). Mas quem disse que estamos numa democracia avançada? Rárárá! (E tome mais 4 anos de Lulla!).

    Paulo, representando o lado de cá, babando na faca entre os dentes…

  2. Paulo,
    Eu acho engraçado que vc é um cara super pragmático, mas seu pragmatismo só vale pra algumas coisas. Eu acho que teoricamente o Lula deveria ser “impeachado”. É assim na democracia, afinal. Cagou no pau, dançou. Mas ,pragmaticamente, não acho que o impeachment faça bem à democracia. Ele é uma salvaguarda. Uma coisa que está lá por obviedade, dizendo: “olha, senhor político, se fizer bobagem, dança”. Mas a necessidade de recorrer a ele é uma prova de que todas as salvaguardas anteriores não funcionaram e que a democracia está bem fraquinha. Mais ainda, o impeachment é um julgamento político, e não um julgamento que se dá efetivamente com base em fatos e provas de crimes de responsabilidade. O recurso a ele neste momento, com o país dividido dessa maneira, contém um risco imenso, que vc como defensor do Estado de Direito e da democracia que sei que é, não quer correr. Believe me. A facilidade com que nossos políticos, petistas e oposição, lançam mão da idéia de impeachment é uma tristeza para a nossa democracia. O impeachment deve ser uma entidade que fica lá, um cacete pra nunca ser usado.

  3. Pedro, estava preparando para lhe responder, quando eu vi este texto do Rodrigo Constantino. Recomendo a leitura, pois ele esclarece bem o ponto em questão. Sei dos custos políticos de um impichamento, mas a alternativa é compactuar com o demo (hehe, demo, sacou?). “Democracia deve ser mais que dois lobos e uma ovelha votando sobre o que terão para jantar” (tá no texto indicado). abs.

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