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Borat e o primeiro filme de Carlitos

Algo me fez sentir que o maluco sem-noção do Borat é uma espécie de Carlitos do século XXI. Eu sei que certas situações criadas por ele – no filme Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan – causam mais constrangimento que risos. Mas, vários dias após assistir a seu longa-metragem, é impossível parar de pensar no cara. E de dar risadas com as lembranças. Alguém pode afirmar que o personagem é um amoral idiota (de fato, segundo Aristóteles, a personagem da comédia está sempre fora da virtude) e que Sacha Baron Cohen, seu criador e intérprete (um cara nascido exatamente 11 dias antes de mim), não passa de um imoral filho-da-mãe. Pouco importa, as gargalhadas são garantidas. A questão é que ele simplesmente levou ao extremo a mesma idéia de Chaplin ao criar seu famoso personagem, o Carlitos. Como Borat, o primeiro filme em que Chaplin interpretou o Vagabundo não era senão uma pegadinha.

Chaplin foi com o diretor Henry Lehrman até uma corrida de carros sem motor – carros impulsionados pela força da gravidade ao descer uma rampa – e ali fez, como diria a turma do Pânico na TV, o papel de Robert. Enquanto o próprio diretor do curta-metragem finge que só quer filmar a corrida dos garotos (Kid Auto Races at Venice), o vagabundo fica invadindo a cena, tentando aparecer. O público da corrida obviamente nunca vira aquele doido antes e, por isso, não percebe que se trata de algo combinado. É ótimo ver a reação das pessoas na tela grande, suas expressões de espanto diante do maluco exibido. Pena que no You Tube não se vê as tais tão nitidamente. Mas tá valendo. (Veja abaixo.)

Quanto a essa gente que insiste em dizer que Borat expõe a babaquice dos americanos, me desculpe: os babacas que aparecem no filme são os mesmos babacas de qualquer canto do mundo. Mesmo assim, a maioria dos americanos com quem ele interage são tolerantes e amigáveis ao extremo. Tudo bem, a polícia foi chamada 91 vezes durante as filmagens para dar um jeito no cara. Mas pense bem: fazendo o que ele faz, em outros países teria sido apedrejado, enforcado, linchado, esquartejado, etc., etc. Mas Borat é como Carlitos. Por mais escroto que seja, o personagem continua com sua aura de inocência. Pena que o sacana do Sacha Baron Cohen tenha necessitado sacanear tanta gente para atingir o efeito desejado. (Eu tenho mania de sentir pena das vítimas do humor. Das vítimas alheias mais exatamente, já que alguns dos meus contos foram o estopim para que alguns leitores também me tachassem de cruel. Mas, enfim…) Pelo que me lembro da autobiografia do Chaplin, descontando Hitler, e após seus primeiros filmes como Carlitos, ele se limitou a sacanear pessoas reais apenas pelos bastidores, fora do olhar das câmeras. Principalmente as mulheres…

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4 Comments

  1. Antônio

    Me desculpe Yuri, mas não gostei desse filme. Realmente, ele tem umas piadas muito boas no começo, mas experimente assistir a esse filme com a família inteira reúnida. É muito constrangedor. O que não acontece com os filmes do grande Carlitos.

  2. O filme foi realmente detestável, por um lado, porque o Sacha foi bem FDP em trapacear as pessoas daquele jeito. Todas as cenas que ele fez usando e enganando pessoas bem intencionadas poderiam ter sido feitas com atores.

    Por outro lado, ainda há cenas engraçadíssimas, como a da briga dos pelados.

    Os episódios de Borat no programa do Sacha na HBO foram muito melhores do que o filme.

    Esse filme provavelmente será o fim do personagem Borat (a menos que Sacha decida fazer novos episódios com 100% de atores) pois quem vai se deixar enganar por ele agora?

  3. Antônio

    Achei a briga dos pelados ridícula, nojenta.

  4. seu documentario é imteressante mas vc precisa melhorar nos textos. vc é d+ e fez um otimo trabalho.

    bjs e abraços

    o de sempre zé

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