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A Culpa é do diretor, parte II

Tenho insistido que o maior problema de nossa cinematografia digital, e sobretudo dos curtas que são feitos no Brasil, está na precariedade da direção de atores e no pouco caso com um trabalho mais embasado de preparação de elenco e construção de personagens.
A verdade é que a maioria toma a função do diretor cinematográfico como algo simples e que qualquer um com uma boa idéia pode exercer. Afinal, trata-se meramente de definir enquadramentos e movimentos de câmera, e de dar ordens aos atores, não é verdade?
A função do diretor é dificí­lima. É preciso ser acrobata e conseguir manter dezenas de pratos girando ao mesmo tempo, com a diferença de que, no circo, se um prato cai, só ele se quebra, enquanto, no cinema, se o mesmo ocorre, todo o conjunto naufraga.
Uma má fotografia pode até sobreviver a um filme com ótimas atuações, mas um filme com excelente fotografia e performances ruins é um desastre. Sem atuações críveis, nada se sustenta.
Mas nada me parece mais difí­cil e delicado do que a direção dos atores. Primeiro, porque a direção é quase um casamento, depende de confiança absoluta. O diretor coloca seu bem mais precioso nas mãos do ator – o seu filme – e o ator tem que se abrir e jogar de cabeça no território das emoções, crendo que o diretor saberá guiá-lo neste lamaçal, rumo aos sentimentos corretos para uma boa atuação.
Segundo, porque dirigir atores demanda principalmente intuição e disposição para o risco e o mico. Tem pouco de intelectual e muito de tentativa e erro, de processo, de experiência. Nada nos ensina a fazê-lo, a não ser tentar.
Eu ainda me sinto quase absolutamente desarmado neste território. Ainda não sei fazer pouco mais que pedir resultados – o pior tipo de direção -, mas vou tentando perder o medo.
Apesar de que só a prá¡tica ensina, um pouco de teoria pode apontar o rumo certo e também nos fornecer o impulso de buscar. Daí­, como prometido, a tradução da introdução do livro de Judith Weston “Directing Actors”, um excelente começo sobre este tema.

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2 Comments

  1. filipe

    bicho,

    eu não consigo ouvir esse papo de “qual o papel do diretor?” ou “como deve se comportar um bom diretor para tirar o máximo da sua equipe?” ou ainda sobre como deve ser o processo de formação de um bom diretor, sem me lembrar (imediatamente) de duas coisas:

    a forma como lars von trier se relaciona com “seus atores”;

    a idéia do milos forman, durante a gravação de one flew over de cuckoo´s nest, de confinar os atores num manicômio antes de começar as gravações. aliado a isso, suas longas tomadas sem informar aos atores aonde, como e quando as câmeras os enquadrariam, produziram resultados memoráveis.

    existe alguma apostila pra aprender essas coisas?

  2. bruno costa

    Concordo plenamente com você. No cinema nacional, praticamente não existe direção de ator (ou ela é ruim). Por outro lado, uma boa direção de ator ainda depende muito de bons diálogos para que se alcance um resultado, outro problema nunca resolvido pelo nosso cinema: os diálogos são um fiasco! E não se diga que os diálogos dependem do roteiro, não dependem. Hoje em dia é comum nas grandes e médias produções um, dois, três sujeitos para cuidar apenas dos diálogos. Assisti outro dia ao São Paulo S.A, do Person. Movimentos interessantíssimos de câmera e uma boa fotografia são soterrados por uma das piores, mais medíocres e lamentáveis atuações de toda a nossa história; a do Walmor Chagas, o protagonista. PQP! QUE MERDA! E assim, o que poderia ser um bom filme, acaba escorrendo pelo ralo…

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