Preguiça! Meu amigo Paulo Paiva enviou-me e-mail perguntanto se não iria à manisfestação “vaia Lula” na praça Cívica. Eu fiquei com vontade de responder com um texto sobre movimentos em cardume e coisas do tipo, mas me deu preguiça. Já esgotei minha cota de manifestações. Quando era estudante secundarista do Colégio Agostiniano, fizemos uma manifestação contra o aumento das mensalidades nas escolas particulares. Não houve aula no dia e a classe média saiu às ruas pelo valor do seu rico – e minguado – dinheirinho. Paramos também o Ateneu Dom Bosco, o Carlos Chagas, o Objetivo da Avenida Goiás e outros. Imaginem: a avenida Tocantins tomada por estudantes de escolas particulares, mobilizados por alunos destas mesmas escolas, para horror de seus pais, no final da década de 80. O que quero dizer: era um movimento sem malícia. Lembro-me de comentar com o Leon, meu amigo, o quão excitante era fazer parte daquilo tudo, daquela idéia de construir um sonho em conjunto. Mas não tínhamos carro de som. E o problema começou quando conseguimos arranjar um.

Dentre as lideranças dos colégios particulares mobilizados estava a filha de um famoso político da cidade. Sem que soubéssemos, ela “vendeu” nossa causa para o movimento sindical e para políticos de esquerda. Como não tínhamos o tal carro de som, tomamos um emprestado ao Sindicato dos Professores e, com ele, vieram reinvidicações externas ao movimento. Em palavras menos polidas: botaram uma canga na gente. Um punhado de gente falou um punhado de coisas alheias à manifestação. Professores, políticos, sindicalistas. Ao final, lá na Praça Cívica, a futura elite goiana assistiu ao gozo pleno e mesquinho da esquerda do pequi. Gente que poderia ter sido ganha para o debate político ouviu a então vereadora, Denise Carvalho, encher a voz de orgulho ao pronunciar “Nós”. “Nós” estamos mobilizados; “Nós” protestamos contra o capitalismo; “Nós” resistimos. “Nós quem, cara pálida?” pensávamos. Alguns amigos perguntaram se eu não queria discursar. Se fosse o caso, me colocariam no caminhão a marra. Disse que não. Afinal, para quê? Nada daquilo era nosso mais. Talvez nunca tivesse sido, na verdade.

A quem pertence, de fato, o movimento “Cansei”? Não tenho idéia. Meu ele não é.