Eu, que não me considero de forma alguma um poeta, pelo menos não quanto ao meio de expressão, acabei me deparando com um soneto meu em destaque no site www.sonetos.com.br. Caso não fique nessa página por muito tempo, poderá ser lido aqui. Aos autores do site, meu muito obrigado. O estranho foi ter descoberto isso no dia da morte da Hilda.
Autor: yuri vieira (SSi) Page 54 of 72
Amigos, obrigado pelas palavras de carinho e conforto. Logo mais postarei meu próprio depoimento sobre essa figura maravilhosa que é – sei que ainda é – Hilda Hilst.
Quanto a você, Hildeta, saiba que apesar de todas as nossas conversas sobre morte, imortalidade da alma, Deus, transcomunicação instrumental, projeção astral, religiões, santidade, ovnis, cosmologias mil, enfim, sobre “aquelas coisas”, não pude deixar de chorar sua morte. O engraçado é que choro, imagino, mais por mim do que por você. Porque sei que você ficará muito bem, voltará a ter, como você desejava, suas formas jovens, voltará a ser na aparência a mulher linda que sempre foi interiormente. E eu ficarei aqui ainda um bom tempo, suponho. Nesse mundo louco. E você curtindo a liberdade do espírito. Fico até com ciúmes, imaginando que irá correndo atrás do seu pai, do Richard Francis Burton, do James Joyce, do Kafka, do Vinícius de Moraes, do Yogananda e de outros caras “deslumbrantes”. Espero que você possa se comunicar, conforme combinamos. Uma visita – vestida de vermelho, lembra? – um email, tanto faz. Não se esqueça de nós, do Dante Casarini, da Iara, do Zé Luis Mora Fuentes, da Olga, do Almeida Prado, do Toledo, do Vivo, do Araripe, da Inês Parada, do Gutenberg, do Jurandi, da Lygia Fagundes, da Shirley e de tantos outros seus amigos que merecem mais lembrança do que este que agora lhe escreve, apesar da minha sensação de ter entrado pra “família” no dia que me repetiu uma frase que, tenho certeza, já havia sido dita para alguns deles: “Yuri, obrigado por ser adepto da minha loucura”. Eu amo você, querida. Espero um dia me tornar um escritor digno da sua admiração. (Meu Deus, isto será dificílimo! Você é exigente demais. Tanta gente consagrada que você não curtia.) Em todo caso, já vou dizendo o que nunca senti ter moral para lhe dizer, mas que agora, sendo você uma recém nascida do espírito, irá entender: obrigado, Hildeta, por ter sido adepta da minha loucura. Se eu não a tivesse conhecido, se eu não tivesse descoberto que é possível ser um bom escritor em meio a todas “aquelas coisas”, e outras mais, eu teria ido parar num sanatório há algum tempo. Você me provou, nesses seis anos de amizade e dois de convivência diária, que é possível defrontar a loucura deste planeta sem perder a fé no Pai e na Arte. Aliás, obrigado também pelo chapéu de bobo, pela casa (do sol), pela comida e pela alma lavada. Nunca vou lhe esquecer. Fica com Deus.
Besos y besos y besos
Yuri
PS1.: Não sei se você percebeu, mas ontem eu e alguns amigos esvaziamos algumas garrafas de vinho – no apê do Pedro Novaes – em sua homenagem. A de vinho do Porto era da marca “Porto Seguro”. Pra lhe dar sorte.
PS2.: O Toledo já me havia escrito de madrugada avisando do seu passamento. Mas só fui me inteirar do ocorrido quando o Rodrigo Fiume, do Estadão, me telefonou. Eu estava justamente gravando um CD do Miles Davis pra você. Summertime é a primeira música. Vou mantê-lo para me lembrar que você partiu num verão.
PS3.: E veja se vai mudando de opinião com relação a que “gostar de mulher por cima é coisa de viado”. Poxa, tá querendo refutar todo o Kama Sutra, é? Diz isso pro Burton aí em cima pra você ver se ele não lhe dá uns tapas… 🙂
[Ouvindo: Angel – Massive Attack]
Um editor faz falta não apenas para nos dar trabalho, mas também para filtrar nossos textos. Se alguém me impedisse de divulgar nesse blog certos artigos, eu não precisaria ter de ler todo dia mil e um emails que abrem buracos em meu corpo emocional. Claro, muitos elogios também, mas como a gente prefere estes, aqueles são sempre mais dolorosos. Um dia aprenderei a ser meu próprio e-ditador. (Aliás, cá entre nós, e-ditador foi o apelido que meu amigo Sálvio Juliano, professor da UFG, me deu quando fui editor de um jornaleco no curso de jornalismo. Chamava-se Naraka Loka.)
É tentação e perdição. Ou prenúncio do Paraíso. Aliás, curto muito essa canção do Zé Ramalho e do Otacílio Batista. Cantada na voz de Amelinha, em tom trovadoresco, nos causa a sensação de habitantes de uma das vilas “guimarães róseas” dos gerais, a ouvir de uma mensageira o relato de distantes e importantes ocorrências. Sem falar que o título-refrão, em contraste com o conteúdo da letra, é de um senso de humor absurdo. Leia e depois vá atraz do som.
Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor
(Zé Ramalho e Otacílio Batista)
Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
“O efeito de qualquer escrito no espírito do público pode medir-se matematicamente pela profundeza de seu pensamento. Que tiramos de sua leitura? Se nos leva até fazer-nos pensar, se nos faz despertar ante a voz da eloquência, então seu efeito será amplo, lento, permanente sobre o espírito dos homens; mas se não nos instrui, morrerá tão depressa quanto as moscas. A maneira de falar e de escrever que nunca passa de moda é a de falar e escrever sinceramente. Se a argumentação não tem força suficiente para influir em minha própria conduta é duvidoso que influa sobre a dos outros. Mas olhemos a máxima de Sidney: ‘Olha em teu coração e escreve’.”
Ralph Waldo Emerson
Diz-se que, na União Soviética, os operários só tinham uma maneira de burlar as proibições de fazer greve: sabotando a produção. Quando estavam insatisfeitos, colavam a sola do sapato ao contrário, costuravam o zíper da calça pelo lado de fora e assim por diante. Tudo depois era rejeitado por ser inadequado ao consumo. Aqui no Brasil ainda não somos comunistas, mas os caras já começaram a aderir a esse procedimento. Hoje fui comprar cuecas e, fora de brincadeira, no pacote hermeticamente fechado havia um enorme e inconfundível pentelho. Adorei a cara da vendedora quando lhe mostrei o produto.
Esta noite tive um sonho muito nítido. Estava num grupo que esperava a visita de Paramahansa Yogananda. Estávamos todos sentados num enorme tapete, num pátio ao ar livre. Yogananda chegou com sua irmã e um outro acompanhante que não sei quem era. Conversou com cada um de nós individualmente. Lembro de algumas coisas que ele me disse, mas não irei afirmar que acredito ter sido uma experiência real. (Extrafisicamente falando, é claro.) Ando muito relapso para merecer tais atenções. Depois, sonhei que estava no apartamento do João Gilberto! Claro, pura piração onírica. Passamos por três portas cheias de trancas e travas, uma coisa totalmente paranóica. Lá dentro rolava uma feijoada e tinha uma mulher pê da vida porque alguém estava soltando rojões dentro de casa…
Essa lei parece uma coisa muito linda, mas eu só quero ver de onde é que o governo vai tirar dinheiro para dar a essa gente toda. “Renda mínima”, “fome zero”, “viagens mil”. Qualquer dia o povo vai pagar essa onda toda com “paciência nula”. Só não sei quando isso irá rolar: se em dois ou em dez anos. Afinal, o povo ainda tá se achando no poder.
Ana Paula Arósio continua linda e tão cheia de talento quanto o Tarcísio Meira, mas eita nome de mini-série mais brega, meu! Deveria é se chamar “Celebridades do Passado Paulista”, já que apresenta mil e uma figurinhas, tipo Oswald de Andrade (e demais membros da gangue de 22), Santos Dumont (coloque uma foto ao lado do vídeo: o ator é pura reencarnação do dito cujo!), Assis Chateaubriand, etc. e tal. O enredo, contudo, é mais uma variação sobre o mesmo tema: amor romântico, tiranos sádicos e injustiçados sociais. Em tempo: a idéia de colocar uma governanta alemã iniciando um jovem nos mistérios da sexualidade e da hipocrisia humana foi extraída do romance “Amar, Verbo Intransitivo“, com a diferença de que no livro de Mário de Andrade essa “missão” só é sugerida ao final. A TV não nasceu mesmo para sutilezas.
Em Dezembro recebi uma mensagem do Redson, vocalista da mítica banda punk Cólera, na estrada desde 1979. Nos anos 80, cheguei a assistir a uns dois shows dos caras. (Aliás, precisei freqüentar muita rave para parar de pogar.) É até surreal me corresponder com o figura hoje em dia. Ir para um show punk era como sair para escalar um vulcão em erupção, principalmente se se tinha 14 ou 15 anos de idade. Como se diz hoje, no bom sentido, siniiiiiistro. E pensar que o cara curte algumas coisas que escrevo… Bom, hoje em dia não sou anarquista senão intelectualmente. Na minha consciência só mando eu. (Embora o Daniel Christino tenha razão quando diz que eu às vezes absorvo as idéias de quem prova dominar com excelência a língua portuguesa. Resquícios de esteticismo. É a vida literata.) Enfim, punk forever.