Recebi o email de um internauta querendo saber qual é, na minha opinião, o melhor manual para confecção de roteiros. Olha, pra ser sincero, acho grande parte dos “manuais” que rolam por aí inúteis, uma vez que a maioria apenas se limita a listar mil e um termos técnicos e mostrar a diferença entre sinopse, argumento, roteiro cena por cena, decupagem técnica, etc. e tal. Tudo isso se aprende simplesmente escrevendo um roteiro, trabalhando. O melhor a fazer é comprar o roteiro de um filme que se curta – como o Pulp Fiction, que é fácil de encontrar – e lê-lo. Se quiser dicas de como estruturar uma história, como envolver o público, causar pathos, etc. leia então o melhor manual já escrito: A Poética, de Aristóteles. Platão dizia que a realidade é uma “mímese” do mundo das idéias, uma imitação. E a arte seria uma imitação da realidade. Na Poética, Aristóteles mostra como se dá a imitação dos “atos” humanos na epopéia, tragédia, comédia, etc. É uma leitura que vale a pena. Claro, se você já se tocou de que não basta imitar os atos, senão também o interior humano, leia os “roteiros” do melhor “roteirista” que existiu: Shakespeare. Quanto à formatação, resolva o problema adquirindo o Final Draft ou o Movie Magic Screenwriter. E pronto. O resto se resume em não esquecer a regra de ouro – “escreva somente o que pode ser visto e, se necessário, ouvido” – e em não encher o saco do diretor escrevendo literariamente, afinal, um roteiro de cinema é como um roteiro de viagem: é preciso dar espaço para que o verdadeiro viajante – o diretor – possa criar. Se um roteiro fosse literatura, seria literatura minimalista.
______
P.S.: Não deixe de ler o post “O melhor software para roteiristas“.

Algo que venho notando na moçada da minha geração — nasci em 1971 — é que ninguém consegue evitar o impulso de ir ao cinema assistir ao filme The Matrix e — uma vez encerrada a sessão — se eximir de meter o pau — porque todos metem o pau, em geral um pau oco, ainda que cheio de sutilezas irônicas. Tudo bem, concordo que a vida em Zion é uma bela porcaria, mas a história é boa. Até o poeta Bruno Tolentino, com quem assisti ao primeiro filme lá na casa da Hilda Hilst, curtiu o dito cujo. Se bem que ele é suspeito: adora filme de Kung fu, diz que é ótimo para relaxar o cérebro…
Quanto à possibilidade ou não de se realizar “milagres” no mundo real — discussão inevitável após a parte final do Reloaded — afora os evangelhos e meu singelo artigo sobre
Semana passada assisti ao documentário dos irmãos Jules e Gedeon Naudet sobre o atentado ao World Trade Center. (Para um documentarista, nada como estar no lugar certo na hora certa – aliás, para os não-documentaristas, hora mais que errada.) Semelhante testemunho só seria rivalizado por alguém que tivesse filmado o naufrágio do Titanic ou, para ser mais exato – já que, indo além do que diz Baudrillard, um atentado terrorista pode parecer mas não é um evento da natureza, é só maldade mesmo -, ou por alguém que tivesse filmado a noite de 23 de Agosto de 1572, a Noite de São Bartolomeu, quando, instigado por sua mãe (Catarina de Médicis), o rei Carlos IX ordenou que se executassem todos os Huguenotes, todos os protestantes que se encontravam em Paris para o casamento de sua irmã com Henrique de Navarra. Morreram cerca de 25.000 pessoas. A grande diferença entre esses atentados de origem pseudo-religiosa estaria apenas na pirotecnia do mais recente, uma vez que este não se igualou ao primeiro, em número de vítimas, por uma mera questão de horário. E o mais interessante é que muita gente pressentiu o acontecimento…