blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: cinema Page 30 of 31

O melhor manual de roteiro

Recebi o email de um internauta querendo saber qual é, na minha opinião, o melhor manual para confecção de roteiros. Olha, pra ser sincero, acho grande parte dos “manuais” que rolam por aí inúteis, uma vez que a maioria apenas se limita a listar mil e um termos técnicos e mostrar a diferença entre sinopse, argumento, roteiro cena por cena, decupagem técnica, etc. e tal. Tudo isso se aprende simplesmente escrevendo um roteiro, trabalhando. O melhor a fazer é comprar o roteiro de um filme que se curta – como o Pulp Fiction, que é fácil de encontrar – e lê-lo. Se quiser dicas de como estruturar uma história, como envolver o público, causar pathos, etc. leia então o melhor manual já escrito: A Poética, de Aristóteles. Platão dizia que a realidade é uma “mímese” do mundo das idéias, uma imitação. E a arte seria uma imitação da realidade. Na Poética, Aristóteles mostra como se dá a imitação dos “atos” humanos na epopéia, tragédia, comédia, etc. É uma leitura que vale a pena. Claro, se você já se tocou de que não basta imitar os atos, senão também o interior humano, leia os “roteiros” do melhor “roteirista” que existiu: Shakespeare. Quanto à formatação, resolva o problema adquirindo o Final Draft ou o Movie Magic Screenwriter. E pronto. O resto se resume em não esquecer a regra de ouro – “escreva somente o que pode ser visto e, se necessário, ouvido” – e em não encher o saco do diretor escrevendo literariamente, afinal, um roteiro de cinema é como um roteiro de viagem: é preciso dar espaço para que o verdadeiro viajante – o diretor – possa criar. Se um roteiro fosse literatura, seria literatura minimalista.

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P.S.: Não deixe de ler o post “O melhor software para roteiristas“.

[Ouvindo: Manguetown – Chico Science]

A taça do mundo é nossa

Ainda não assisti ao supracitado filme do Casseta & Planeta, mas a mera leitura do nome do personagem do Bussunda já me fez dar risadas: Wladimir Illitch Stalin Tse Tung Guevara. Melhor que isso só o nome real – sim, REAL – do delegado da cidade natal de minha mãe: Hitler Mussoline. Tem pai que é cego…

Glauber e Allen

Se Glauber Rocha tivesse se espelhado no exemplo de Woody Allen – que, com razão, sempre preferiu delirar diante da discrição profissional de um psicanalista que diante da voracidade espetacular de um jornalista – não teria desperdiçado tanta energia e atraído tantas invejas e ressentimentos. O peixe sempre morre pela boca. E Glauber, claro, era pisciano…

Glauber Rocha

Quem diria, Glauber Rocha concordava com Spengler: “O grande problema contemporâneo, que os críticos pseudo-materialistas não estão vendo, é que são as forças religiosas que movem o mundo, as forças subjetivas, psíquicas”.

Do diário secreto de Woody Allen

Seguem-se excertos do diário até então secreto de Woody Allen, que será publicado postumamente ou depois de sua morte, depende do que acontecer antes.

É cada vez mais difícil atravessar a noite. Ontem, eu tinha a estranha sensação de que vários homens tentavam invadir o meu quarto para me lavar com xampu. Mas por quê? Continuei a imaginar formas criadas pelas sombras, e às três da manhã as cuecas que eu pendurara numa cadeira pareciam o Kaiser de patins. Quando finalmente consegui dormir, tive o mesmo pesadelo apavorante de sempre: aquela marmota tentando tomar o meu prêmio na rifa. Desespero.

*

Acho que minha tuberculose piorou. Minha asma também. O chiado vai e vem, fico tonto toda hora. Começo a engasgar com violência e a desmaiar. Meu quarto é úmido, tenho arrepios e palpitações sem fim. Reparei, também, que estou sem guardanapos de papel. Quando isso terminará?

Pregação do semestre

Coloquei abaixo o trecho de um email, que escrevi a uma dessas listas de discussões inúteis (porque, claro, fui provocado), apenas porque nele cito um diálogo imperdível do imperdível filme Waking Life. (E, de quebra, um trecho da Ode à Alegria, de Schiller, musicada por São Beethoven na Nona.) Já o assunto principal da discussão não vem ao caso…

Waking Life – trecho

Quem não assistiu a esse filme tem que assistir…

– So I’m walking along, and Lady Gregory turns to me and says, “Let me explain to you the nature of the universe. Philip K. Dick is right about time, but he’s wrong that it’s 50 A.D. Actually, there’s only one instant, and it’s right now, and it’s eternity. And it’s an instant in which God is posing a question, and that question is basically, ‘Do you want to be one with eternity? Do you want to be in heaven?‘ And we’re all saying, ‘No thank you. Not just yet.’ And so time actually is just this constant saying No to God’s invitation. That’s what time is, and it’s no more 50 A.D. than it’s 2001. There’s just this one instant, and that’s what we’re always in.” Then she tells me that actually, this is the narrative of everyone’s life. That behind the phenomenal differences, there is but one story, and that’s the story of moving from No to Yes. All of life is like, “No thank you, no thank you, no thank you,” then ultimately it’s, “Yes, I give in, yes, I accept, yes, I embrace.” That’s the journey. Everyone gets to Yes in the end, right?
– Right.

Um roteiro de curta-metragem

Amigos, estou disponibilizando para download um roteiro que escrevi há três anos – Estou de Olho / Eye am the I – aliás, último trabalho que concluí enquanto ainda morava com a escritora Hilda Hilst. De lá pra cá, passou consecutivamente pela mão de três cineastas que, animadíssimos, quiseram “rodá-lo de qualquer maneira”. Por incidentes – e até acidentes – diversos, o dito cujo acabou não vindo à luz. O mais incrível é que foi aprovado por uma lei estadual e até pela Lei Rouanet. A turma da captação, claro, me deu o cano, até agora nada. E o já ex-diretor têm outras prioridades, já que finalmente encontrou a realização artística como DJ trance, tendo viajado a trabalho inclusive pela Alemanha e periferias semelhantes… Pois é, como não sou produtor executivo e muito menos gostaria de ser diretor iniciante de um roteiro tão complexo (embora seja um curta), fica ele aqui exposto aos interessados. Quem quiser plagiá-lo, fique sabendo que – além de ele já estar registrado há dois anos na Biblioteca Nacional – que isto seria ótimo, já que assim eu teria alguém para processar e finalmente descolar uma grana (ohohoho). Ah, mais uma coisa: se alguém aí resolver rodá-lo, já vou avisando que não mudarei o final do filho-da-mãe nem sob tortura. Boa leitura!

PS.: Para salvar o arquivo PDF em seu PC, clique no link acima com o botão direito do mouse e escolha “salvar destino como…”.

[Ouvindo: These Days – Nico]

Notas sobre Matrix Reloaded

Algo que venho notando na moçada da minha geração — nasci em 1971 — é que ninguém consegue evitar o impulso de ir ao cinema assistir ao filme The Matrix e — uma vez encerrada a sessão — se eximir de meter o pau — porque todos metem o pau, em geral um pau oco, ainda que cheio de sutilezas irônicas. Tudo bem, concordo que a vida em Zion é uma bela porcaria, mas a história é boa. Até o poeta Bruno Tolentino, com quem assisti ao primeiro filme lá na casa da Hilda Hilst, curtiu o dito cujo. Se bem que ele é suspeito: adora filme de Kung fu, diz que é ótimo para relaxar o cérebro…

Já eu, desde 2000, vinha preparando um ensaio a respeito, mas, devido a várias dúvidas quanto às possibilidades de desenvolvimento da trilogia — e à conseqüente modificação da minha interpretação — decidi esperar até o fim. Há apenas uma característica constante até agora: o gnosticismo expresso pelas idéias e ações dos personagens. Sem entrar em detalhes, por enquanto, digamos que a viagem dos figuras é basicamente a mesma de muitas seitas da idade média ditas hereges: o mundo foi criado e é controlado pelo demo (por um demiurgo), e precisamos nos mandar para o “mundo real”. E isto quer dizer: essa piração não é nova. Bom, pretendo desenvolver isso noutra ocasião. Por enquanto, sugiro que leiam o texto MATRIX CONFUSED, do Jovem Nerd, um artigo inteligente, honesto, sem babação de ovo retardada, que não é bem uma crítica de cinema mas uma investigação sobre o que afinal rola nessa história toda. Tenho essa preocupação porque conheço uma pessoa que acreditou ser o primeiro filme da série apenas uma mensagem cifrada para que ela descobrisse sua verdadeira identidade: ela era o Escolhido… Fico imaginando quantas vezes isso já rolou mundo afora. Tem maluco pra tudo. (Boa parte adora cruzar meu caminho.)

Quanto à possibilidade ou não de se realizar “milagres” no mundo real — discussão inevitável após a parte final do Reloaded — afora os evangelhos e meu singelo artigo sobre Li Hongzhi, leiam o livro “A Autobiografia de um Yogue Contemporâneo“, de Paramahansa Yogananda, escrito nos anos 50 do séc. XX. Há “causos” ali de deixar qualquer irmão Wachowski de cabelos em pé. E, claro, com um acréscimo: todos os “homens e mulheres santos” ali retratados sabem que não são senão veículos da vontade de Deus. E é sério: segundo Yogananda, Bábaji (que já tem mais de 300 anos de idade) e Lahiri Mahasaya são tão poderosos quanto Neo. Mas não saem voando por aí, em meio a um desesperado “amor romântico”, destruindo e matando meio mundo apenas para salvar a namoradinha. Aliás, ainda bem que Jesus não se envolveu nem com Rebeca — vide Livro de Urântia — nem com Maria Madalena…

P.S: Eis outra análise bem interessante.

[Ouvindo: Body And Soul – Charles Mingus]

9/11

O atentado visto do espaçoSemana passada assisti ao documentário dos irmãos Jules e Gedeon Naudet sobre o atentado ao World Trade Center. (Para um documentarista, nada como estar no lugar certo na hora certa – aliás, para os não-documentaristas, hora mais que errada.) Semelhante testemunho só seria rivalizado por alguém que tivesse filmado o naufrágio do Titanic ou, para ser mais exato – já que, indo além do que diz Baudrillard, um atentado terrorista pode parecer mas não é um evento da natureza, é só maldade mesmo -, ou por alguém que tivesse filmado a noite de 23 de Agosto de 1572, a Noite de São Bartolomeu, quando, instigado por sua mãe (Catarina de Médicis), o rei Carlos IX ordenou que se executassem todos os Huguenotes, todos os protestantes que se encontravam em Paris para o casamento de sua irmã com Henrique de Navarra. Morreram cerca de 25.000 pessoas. A grande diferença entre esses atentados de origem pseudo-religiosa estaria apenas na pirotecnia do mais recente, uma vez que este não se igualou ao primeiro, em número de vítimas, por uma mera questão de horário. E o mais interessante é que muita gente pressentiu o acontecimento…

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