blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: HQs

O Plágio de Brokeback

O filme até que é bom, mas temos que reconhecer que O Segredo de Brokeback Mountain é um plágio descarado. Afinal, há alguns anos, o Brasil já tem um famoso casal de cowboys gays – Rocky e Hudson – nas tiras de Adão Iturrusgarai. No rústico mundo do Velho Oeste, eles tiveram a coragem de sair do armário muito antes de Ennis e Jack, personagens do filme de Ang Lee, vencedor do Leão de Ouro em Veneza e sério candidato ao Oscar de melhor filme.

Vai, o filme é bom, mas também não é nada demais. Que é legal abrir os armários do Texas e do Wyoming, isso é. Podíamos, quem sabe, fazer uma versão nacional ambientada em Goiânia…

José Luis Mora Fuentes

Em 1999, eu já morava com a escritora Hilda Hilst (sim, ela de novo) por cerca de um ano, quando veio juntar-se a nós o escritor José Luis Mora Fuentes, amigo dela desde 1968, que, em época pregressa, já havia residido por mais de 15 anos ali na Casa do Sol. Nós dois já nos conhecíamos desde Setembro de 1998, quando também conheci sua esposa, a artista plástica Olga Bilenky, mas eu não imaginava que iríamos dar tantas risadas em comum. Sim, porque, apesar de um excelente primeiro contato, havíamos trocado, via email, não apenas palavras amistosas, mas muitas farpas, advindas não apenas de diferenças de cunho político e do meu trabalho no site oficial da Hilda, mas, sobretudo, de sua preocupação com o bem estar da nossa amiga. Talvez ele achasse um tanto quanto contraproducente eu passar a maior parte do tempo em conversas mirabolantes com a Hilda, ou em leituras, em detrimento dos assuntos práticos da casa. Mas é que meu senso pragmático foi sempre meio ruinzinho mesmo…

Bem, acontece que o mais interessante da coisa toda é que, além de ser um escritor premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), o Zé Luis foi, durante alguns anos, um dos roteiristas responsáveis pelas histórias do Louco, personagem do Maurício de Souza. Minha geração, que nos anos setenta tinha o mundo da Turma da Mônica como uma realidade paralela, da qual os quadrinhos eram as notícias que chegavam, sabe muito bem o quão louco era o Louco. E alguém já imaginou o que seria conviver com um de seus roteiristas? Passei um ótimo segundo ano ali na Casa do Sol. Nunca dou tanta risada como quando converso com o Zé Luis. Basta passar uma tarde juntos e todas as farpas que trocamos são imediatamente esquecidas. Eu dizia pra Hilda: “Poxa, o Zé já tá me dando umas broncas de novo”. E ela: “Por que você acha que dei o apelido de Sapo pra ele? Você já apertou um sapo? O Zé é ótimo e querido, mas não o aperte não, Yuri.” Mas ela não sabia que eu só o apertava cada vez que, de alguma forma inconsciente e involuntária, em geral por omissão em questões de ordem prática, a apertava. O amor deles um pelo outro sempre foi muito grande. Prejudicar a Hilda era o mesmo que ingerir o curare do Zé. Mas sempre terei a vantagem de ser um escorpiano, outro sujeito bem venenoso. E quem se lembra da fábula do Sapo e do Escorpião sabe como ela termina. O famigerado artrópode prefere perder a vida a perder a ironia, prefere morrer a renunciar à oportunidade de dar uma sacaneada.

(Tá vendo, Zé, da primeira vez você não deixou, mas agora contei pra todo mundo: o apelido dele é Sapo, gente!)

Os chatos dos irmãos Caruso

Estou chocado: não existe nenhum site chamado “Eu odeio os irmãos Caruso”!!! Será possível que ninguém ainda percebeu que esses caras não têm a mínima graça? Meu Deus, há anos já que dou uma chance ao Paulo Caruso — sou gente boa — e tento encontrar pelo menos um sorriso em suas charges da revista Isto É, mas é impossível, o resultado chega a ser deprimente.

Às vezes penso que, se eu fosse um deputado do PDT, do PT (ou sei lá o quê), talvez eu até conseguisse um esgar dublê de sorriso. Mas não adianta, mesmo que você se interesse por política não achará graça alguma. Os caras desenham muito bem, fazem ótimas caricaturas, mas são incapazes de roteirizar por si mesmos. (Bom, verdade seja dita: o Chico é menos ruim que o Paulo.) E afinal, quem? Mas quem mesmo já conseguiu rir daquelas animações pentelhas durante o Jornal Nacional?? Parece até coisa do Andy Kaufman, que fazia piadas para que apenas ele mesmo desse risadas, mas não é: o Paulo é tão bobo (ou ishperto, vai saber) que acredita ser, para os outros, realmente engraçado!

E o pior de tudo: ele e o irmão ainda cantam (com uma voz cavernosa tão terrível quanto a minha), tocam piano e se acham compositores! Caraca, é realmente incrível. Em 2002 ou 2001, sei lá, assisti a uma apresentação desses dois lá no Teatro Nacional de Brasília. (Aliás, não fosse esse “show” e eu nem me daria ao trabalho de escrever este texto, afinal, chargista ruim é um elemento da natureza, há em todos os cantos.) Enfim, havia um estrangeiro com quem conversei que, mesmo falando um ótimo português, não entendia por que aquilo era engraçado para os demais. Do Monty Phyton qualquer um no mundo inteiro pode rir, mas desses dois? O show deles é puro engajamento político, pura catequese revolucionária, uma coisa chatérrima, e se você não souber as últimas fofocas daquele deputado do qual nunca ouviu falar… onde encontrará motivo para rir? Quando o artista é bom, por mais elementos políticos que ele venha a injetar em suas obras, elas acabarão por sobreviver a estas ideologias e convicções, o que, claro, não é o caso deles. E o “show” dos caras, em Brasília, não passava de um monte de frases feitas e comentários que só um militante da UNE poderia achar graça. (É evidente que muita gente — sim, muita gente, a maioria da minha querida UnB — ria, mas com aquele tipo de riso inteligentinho e cínico, saca?, o mesmo com que aquele apresentador rechonchudo e de óculos do Jornal Nacional finge achar graça das animações. Eu e minha querida Míriam Virna, com quem fui ao tal “show”, ficamos de cara com a deformação causada pela política no senso de humor das pessoas.)

Mas, enfim, o problema dos Caruso é que, no fundo no fundo, eles são é uns operários do desenho que, por rebeldia ideológica, não aceitam um patrão que pudesse lhes dar um par de boas idéias para realizar. Vezenquando podem até acertar — a evolução é para todos — mas o que esses figuras deveriam mesmo fazer é ir trabalhar para o Maurício de Souza…

[Ouvindo: Night in Tunisia – Miles Davis]

_____

Esclarecimento:

Entendam bem: não sou nem um palerma e muito menos tenho preguiça de pesquisar, de ler. Eu respeito o traço dos Caruso, já disse, eles desenham muito bem. Mas mesmo entendendo as piadas logo de cara, ou após me informar sobre as últimas fofocas políticas, continuo achando os caras sem graça. É uma questão de narrativa e, por que não dizer?, de estética. Não conseguem fazer cócegas no meu entendimento. E se o objetivo de uma charge é apenas fazer pensar, ao invés de fazer rir, tanto pior, porque ao final só me vem um pensamento: por que essa charge está na seção de humor da revista? E, aliás, só achei que mereciam um “Eu odeio…” depois de assistir ao vivo ao show da dupla. É de lascar, pura propaganda lulística, revolucionária não no sentido da revolução armada, claro, mas no da eterna mania de achar que o Estado pode transformar nossa vida pra melhor, ou seja, uma balela. Se não fosse por isso, tudo bem, realmente tem gente mil vezes pior do que eles por aí. Mas é que eu sempre pensei que um chargista deveria ser o mais imparcial possível. Quando um político faz uma besteira, merece dois tratamentos dos Caruso: se for, por exemplo, o Lula, é tratado com um carinho servil; se for algum idiota não petista, aí sim, o cara é mesmo idiota. E, enfim, esse “eu odeio…” não pretende ser um atentado pessoal, já que a conotação raivosa do termo “odiar” fica diluída no já famoso “eu odeio qualquer coisa” presente em vários sites da Internet. É apenas uma crítica. Vai saber, os caras devem ser gente boa pessoalmente, o que não quer dizer que sejam tão bons na charge quanto o Angeli, o Glauco, o Laerte, o Henfil, o Millôr, etc., que são engraçados sem precisar de temas exclusivamente políticos, que são engraçados além de nos fazer pensar. (Principalmente o Henfil, é claro, que já me fez dar vexame na Biblioteca da UnB e da UFG, deixando-me roxo de tanto rir.) Na verdade, meu erro foi dar uma abordagem de crítica de arte àquilo que não é arte de forma alguma. Por isso pego pesado. (Sem falar que eu havia tomado uns dois cafés e assistido, no Jornal Nacional, a uma certa animação que muito me desanimou…)
____

P.S.: Escrevi o esclarecimento acima após receber uma mensagem, bastante educada e sentida, da esposa de um dos irmãos Caruso. Desculpe se fui duro, J., mas o sentimento despertado em você por minha crítica é mais ou menos aquele que uma charge deveria causar à elite política que nos comanda. Com uma única diferença: fazendo rir aos demais.

Antes da Conversão

Posso dizer que antes eu era assim. Sim, porque ver coisas que supostamente não existem, além de pegar mal pra nossa imagem, ainda deixa esse mundo muito mais complicado do que já é. Mas agora convenhamos: viver fora da LEI, ignorando o SLTP (Spiritual Life Transfer Protocol), é que realmente dá uma puta paranóia…

Um menino na praia

No site do Quino, o criador da Mafalda, encontrei este cartum que me lembrou minha infância de invernos paulistas e verões cariocas. A pergunta do garoto, em português, é a seguinte: “Mamãe, sinto algo, não sei muito bem onde, que não sei o que é. O que é?”

Persepolis

A crescente opressão exercida pelos fundamentalistas islâmicos sobre certos povos pode ser sentida através da leitura de Persepolis, uma HQ de Marjane Satrapi. Em comparação com a protagonista de Satrapi, podemos dizer que Mafalda era feliz e não sabia…

A viagem de Sun Ra

Eis um cartoon que descreve como o jazzista norte-americano Sun Ra saiu a buscar livros…

Jô Soares e os ETs

Eis a charge que enviei, anos atrás, ao Jô Soares, depois de assistir a uma entrevista, em que ele sacaneou sem parar um suposto abduzido por extraterrestres.

Kama Loka

Amigos, não deixem de adquirir a revista Lounge – por enquanto distribuída apenas em São Paulo -, na qual está sendo publicada uma página com a HQ “Kama Loka”, de minha autoria, com ilustrações de Artur Garcia. É uma narrativa, digamos, “muderno-onírico-sexy-fantástica”, sacou?

Kama Loka vem do sânscrito e quer dizer: “mundo ou plano dos desejos”…

Page 3 of 3

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén