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Categoria: escritores Page 20 of 31

Depoimento sobre Hilda Hilst

Eu estava enrolando tanto (desde Maio) para responder às perguntas da jornalista Laura Folgueira, a respeito da minha amizade com Hilda Hilst, que acabei decidindo não fazê-lo por escrito — o que é muito trabalhoso e repetitivo, para mim, e conveniente, para a jornalista — mas através duma gravação em áudio. O arquivo MP3 referente à primeira pergunta pode ser baixado no meu audioblog. Responderei às demais assim que possível.

Ecce femina…

Olavo de Carvalho é genial, ponto

Olavo de Carvalho

Graças à gentileza de sua filha Maria Inês e à do próprio Olavo de Carvalho, pude assistir, há cinco anos, a duas e apenas duas de suas aulas para logo concluir: esse cara é o professor que, sem sucesso, busquei anos a fio por todos os cursos universitários em que estive matriculado. Sim. Na universidade, há sempre pós-graduados, mestres e doutores em algo, mas nunca Mestres de fato. E a vida do Olavo de Carvalho se encaixa perfeitamente no conceito de genialidade de Oswald Spengler — “a força fecundante do varão que ilumina toda uma época” — e no de guru dos indianos, onde “gu” é trevas e “ru”, o que dissipa. Olavo é um dissipador de trevas e isto ficou patente após ler oito de seus livros: “O Jardim das Aflições”, “O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras”, “A Nova Era e a Revolução Cultural”, “Fronteiras da Tradição”, “Aristóteles em nova perspectiva”, “Os gêneros literários”, “Astrologia e religião” e “Símbolos e Mitos no Filme ‘O Silêncio dos Inocentes'”. (Conheça todos os livros.) Aliás, fiquei muito espantado quando descobri que ele assina boa parte dos melhores artigos publicados pela revista Planeta dos anos 1970, cuja coleção meu pai ainda mantém. Sem esquecer, é claro, sua tradução do livro “Tabu”, de Alan Watts, que marcou minha primeira juventude.

Por essas e outras, não posso deixar de rir ao me lembrar que, em 2000, na festa de aniversário de 70 anos da escritora Hilda Hilst, um casal de jornalistas da Agência Estado — amigos de um amigo próximo — ficou tentando me convencer de que Olavo é um representante do “mal absoluto”!  (Foi a expressão maniqueísta que eles usaram.) Eu olhava para os dois sem acreditar que alguém pudesse conceber tamanha bobagem, e o pior: sem nunca sequer terem lido um livro dele. E, por fim, vaticinaram: “Esse Olavo é um idiota que irá estragar todo o benefício que o PT prepara para o Brasil”. Ah, pensei, agora entendi tudo. Todos sabemos — e o Olavo já sabia desde meados dos anos 1990 — que benefício era esse.

(A propósito: Olavo é touro com ascendente em aquário, a mesma combinação astrológica da Hilda Hilst, escritora com quem mantive as conversas mais viajantes da minha vida.)

Papillon, a grande farsa

Após ler meu conto Memórias da Ilha do Capeta, o internauta Platão Arantes me enviou o seguinte email:

Lendo seu conto sobre “A ilha do Capeta” e o seu comentário sobre Henri Charrière, quero informá-lo de que Henri Charrière jamais escreveu livros, ele se apropriou dos manuscritos de seu companheiro de prisão René Belbenoit, e, para dar-se a entender ter sido ele o autor, pagou para que outra pessoa os modificasse. Mas, ao se apresentar na França para promover o livro “Papillon”, entrou em muitas contradições, chegando ao desespero de afirmar que o livro era uma obra coletiva e que ele não vivenciara aqueles fatos.

Estou há 12 anos investigando esse assunto. Já publiquei dois livros: A Farsa de Um Papillon – A Historia Que A França Quer Esquecer , editado em 1999, e a continuação: Papillon O Homem Que Enganou O Mundo, editado em 2002. Continuo a investigar e em breve estarei reeditando “Papillon O Homem Que Enganou O Mundo”, que foi atualizado. Além de muitas fotos e documentos teremos os “laudos” de peritos da Suíça e da Policia Federal de Brasília, considerados os melhores da “América Latina”.

Já pensou? O primeiro tijolão que li – Papillon, o homem que fugiu do inferno – provavelmente não passa de um grande plágio. Isto é, Charrière, que viveu seus últimos dias na Venezuela, talvez devesse ter voltado para a cadeia…

Uma solução para a África

(Ainda sobre a entrevista publicada na Der Spiegel, “Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África!“)

Eu conversei em duas ocasiões com o Bruno Tolentino sobre a África – onde ele esteve várias vezes – e tentei empurrar a idéia de que o problema era a educação. Ele então me falou de dois países africanos (não me lembro quais), que receberam ajuda de grupos ligados a Oxford para melhoria de seus colégios e instituições de ensino. Segundo ele, todas as vezes que as tribos se levantavam umas contra as outras, a primeira coisa que, juntas, destruíam eram os tais colégios e instituições. O Bruno me dizia não ver qualquer solução identificável para a África. Já o explorador e escritor inglês Richard Francis Burton dizia que a única coisa capaz de tornar os nativos africanos confiáveis, trabalhadores e dignos de respeito era o islamismo, segundo ele, uma religião mais condizente com a natureza tosca daqueles povos, uma vez que não respeitavam e costumavam deitar e rolar sobre os caridosos cristãos, os quais achavam ingênuos. (Temiam – perceba, temiam e não respeitavam – apenas os cristãos de fachada, aqueles que se impunham pela força, uma “linguagem” comum entre as tribos.) Pois então: islamismo… Já pensou? A solução para a África poderia ser uma ameaça para o Ocidente…

Arendt e a Internet

Outra questão que poderia ser levantada é o possível papel – em constante atualização – da Internet enquanto veículo de uma “esfera pública”. Quando escreveu seu livro (anos 1950), Hannah Arendt conhecia o crescente isolamento dos indivíduos na sociedade moderna, mas, tal como muitos autores de ficção científica, a quem ela dedica respeito, tampouco conseguiu prever o advento da “rede mundial de comunicação”. Embora a Internet ainda seja um mero campo onde brotam, aqui e ali, arremedos mais ou menos relevantes de “esferas públicas”, no futuro, talvez não tão distante, ela é bem capaz de abrigar ou ao menos propiciar o surgimento da verdadeira “esfera pública” mundial. Não é difícil imaginar assembléias de debates realizadas em grandes arenas – reais ou virtuais – interconectadas mundo afora como numa gigantesca video-conferência. A democracia pode ser representativa, mas a palavra e o testemunho devem ser de todos.

As imagens da Casa

Nossa, mal escrevi a entrada anterior e já me escreveram dizendo que nem todo mundo tem um computador compatível com o Google Earth. É verdade, me desculpe. Então seguem duas fotos de satélite da Casa do Sol, a saudosa chácara da ascensionada Hilda Hilst: clique aqui para ver a primeira; e aqui para ver a segunda.

Casa do Sol

Quem quiser conhecer a chácara da Hilda Hilst – vista pelos satélites que alimentam o Google Earth – vá até esta página e baixe o arquivo anexo ao thread. Claro, após executar o referido programa.

Machado rejeitado

Segundo o Pedro Novaes, há cerca de dois anos a Folha de São Paulo (salvo engano) enviou, para publicação em coletâneas, um conto não muito conhecido do Machado de Assis, mas sob um nome falso, a diversas editoras. Foi recusado em todas. (Será que acharam o texto ruim? Ou será que o acharam muito… machadiano?)

Zaratustra

Terminei de reler um livro para todos e para ninguém: Assim falava Zaratustra, de Friedrich Nietzsche. Desta vez, foi a tradução de Mário Ferreira dos Santos, com notas explicativas da simbólica nitzscheana. Eu diria que a leitura do Mário Ferreira é das mais luminosas – ele é fã do Nietzsche – mas sob uma ótica totalmente distinta das que costumamos ver por aí. A maioria vê o copo ou meio vazio ou toma o vazio pelo cheio. Mário Ferreira consegue ver com exatidão o copo cheio e aponta com real sabedoria onde o próprio Nietzsche demonstra confusão de conceitos: “Como Nietzsche pouco conhecia a Teologia escolástica, tinha do Deus dos cristãos uma visão falsa. A culpa não era dele, mas sim do seu século, ignorante da filosofia medieval (do que não isentamos o nosso), e que tinha da religião uma visão exotérica, que em parte a culpa cabe à mentalidade de sacristia de muitos crentes e muitos padres, que cooperam, desta forma, para que se faça do Deus cristão uma verdadeira caricatura, fácil, depois, para combater. Nietzsche desprezava os estudos escolásticos, como o fazem hoje muitos, que pensam haver ultrapassado a filosofia medieval e, no entanto, patinam nos velhos erros já refutados”. Mário Ferreira também escreveu, a respeito de Nietzsche, outro livro: “O Homem que Nasceu Póstumo“, que ainda não li. E não pensem que ele se limita a corrigir o pensador prussiano. Não. Ele o esclarece e purifica. “O meu amor à obra desse grande poeta e a minha lealdade para com o seu pensamento não me permitiram que procedesse de outro modo.”

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