blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Na América Latina, a vida imita a arte

A Folha de hoje noticia que o exército equatoriano tem um serviço de garotas de programa para “aliviar a barra” dos soldados em operações na selva. Vargas Llosa inspirando a vida.

Até soldados carregaram “lembranças”

DA ENVIADA ANGOSTURA

A cena do bombardeio visitada ontem pela comissão da OEA já era o resultado das intervenções pós-ataque das forças colombianas e equatorianas e ainda das caravanas de jornalistas que passaram pelo local desde 1º de março. Os próprios militares carregavam “lembranças”.
Na quarta-feira, primeiro dia em que a Folha visitou a área, um soldado se esforçava para arrancar um aplique com o rosto de Che Guevara de uma tenda militar. Destroços foram movidos de lugar e a chuva modificava as crateras deixadas pelas bombas. A OEA minimizou as alterações, dizendo que sua vistoria era “política” e não técnica.
O Exército equatoriano fez um esforço para dar à imprensa acesso ao local. A repórter pernoitou em um acampamento militar. Os soldados queriam contar as agruras da selva e seus atenuantes. Um deles é um “serviço de garotas”, gerido pelo Exército, mas pago com desconto no soldo, como em “Pantaleão e as Visitadoras”, de Mario Vargas Llosa.
Ex-responsável pelo serviço, o capitão Pablo Cortéz aceitou o satisfeito o apelido de “Pantaleão equatoriano”. “Católico que sou, vivia xingando as prostitutas. Agora sei que elas têm um trabalho difícil e muito útil”, justificou. As mulheres recrutadas pelo Exército ganham US$ 4 por programa, disse Cortéz, e há as que saem com até US$ 3.000 depois de 15 dias de serviço. “O nosso salário em média é de US$ 600.” (FLÁVIA MARREIRO)

Isaac Bashevis Singer

Li meu segundo livro desse ganhador do Nobel de 1978, a coletânea de contos “Um amigo de Kafka”. Simplesmente nota dez! Isaac Bashevis Singer é uma prova de que talento, humor, imaginação e religiosidade podem se fundir num mesmo autor e mexer fundo com nossa cabeça. A genialidade desse cara, sublinhada por uma tensão dialética entre fé e despudor, deixaria o judeu “esclarecido” Woody Allen morrendo de inveja. Veja o que ele diz, em poucas palavras, durante seu discurso ao receber o Nobel, sobre o porquê de insistir em escrever numa língua quase morta, o iídiche.

Saudade dos Mineiros

4 Mineiros

Na foto acima, já incluída em outro post de dois anos atrás, troco idéia com os quatro mineiros – Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e meu padrinho, Hélio Pellegrino – na Praça da Liberdade em Belo Horizonte.

Completaram-se, no último dia 28, 15 anos da morte do Otto.

Este Brasil tão bagunçado sente muita falta destas quatro figuras brilhantes e generosas.

A propósito, reproduzo abaixo artigo do meu pai publicado ontem em O Popular.

A falta que o Otto faz

Washington Novaes

Passou desapercebido da comunicação, na última semana de dezembro, o 15º aniversário da morte do escritor e jornalista Otto Lara Resende, vítima de uma inacreditável infecção hospitalar no pós-operatório de uma cirurgia banal na coluna. Pena que tenha sido assim. Deixou-se de trazer à memória dos mais antigos e ao conhecimento dos mais novos algo da carreira de uma figura que faz falta – seja como escritor (O Braço Direito, Tabuleiro de Damas, Bom Dia para Nascer, Lado Humano, Boca do Inferno, O Retrato na Gaveta, As Pompas do Mundo, a Testemunha Silenciosa, entre outros), como jornalista, como conversador brilhante.

Otto transformou-se em figura mitológica na imprensa do Rio de Janeiro logo que para lá se transferiu, quase à mesma época em que seus inseparáveis amigos Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos, que já haviam assombrado Belo Horizonte com seu talento e suas estripulias. Corriam de boca em boca as histórias e façanhas do Otto, como a capacidade de escrever editoriais para o Diário de Notícias, onde trabalhava de manhã, e respondê-los no dia seguinte em O Globo, onde trabalhava à tarde, e que tinha posições políticas diferentes. Essa capacidade ficou ainda mais evidente quando, na Rede Globo, escreveu a carta com o pedido de demissão do diretor-geral, Walter Clark, e a resposta do proprietário, Roberto Marinho, num episódio muito difícil.

O Poder da Atração do Fiofó

Sexo Anal

Olhaí, eu falo e ocêis não m’iscuta.

Se depois eu fizer um filme desse livro e ficar famoso, não vão dizer que eu não avisei. Saiu a edição de bolso do Sexo Anal pela Os Viralata. São só 50 exemplares. Garanta o seu porque daqui a uns anos vai valer ouro. Além de tudo, um excelente presente pro Natal em família.

Porque eu não escreveria Virgínia Berlim

VB

Conforme prometido, li anteontem o Virgínia Berlim, último livro do Biajoni, autor do já incensado Sexo Anal. Servi-me de um copo de uísque e deitei no sofá. O primeiro detalhe bacana é o CD que acompanha o livreto, que conta ainda com as letras, originais e traduzidas, das canções prensadas no disco: uma trilha sonora para a própria história, que tem Bing Crosby, Lou Reed e outros. Uma linda seleção, perfeita para acompanhar o affair de um camarada imobilizado em seu apartamento por um pé cortado e a escriturária Virgínia que irrompe em sua vida e dá título ao livro.

A leitura transcorre fácil, menos de 50 páginas, ao longo de meia hora ou pouco mais. Que não se espere outro Sexo Anal porque VB é bem diferente. Como já se disse por aí, é como se nos fosse permitido espiar um fragmento de uma vida durante algum tempo. É bonito e impactante. Termina-se a leitura com uma tristezinha. Enquanto o Sexo Anal mexe com a gente pelo que tem de cru, violento e libidinoso, Virgínia Berlim emociona de verdade por uma outra crueza, relacionada ao sentido e à banalidade de nossas vidas e das vidas dos outros, e por falar de arrependimento e de falta de respostas. Sexo Anal é irônico e de um excelente humor negro. VB é composto de notas tristes e meio perplexas.

Eu não escreveria VB porque sou idiota e volta e meio tenho uma estúpida tendência à idealização e ao melodramatismo, à autocomiseração e para colocar nos personagens a pena que sinto de mim mesmo, vítima do mundo. O Bia, ao contrário, não tem pena dos seus personagens: eles são feios, têm espinhas e hemorróidas, estrias, peitos caídos, trabalham em repartições e têm vidas comuns e tacanhas. Se isso soa meio Bukowiskiano, o Biajoni se separa do mestre californiano porque suas histórias não passam qualquer rancor. Não há ressentimento com a humanidade. Estão mais pra Almodóvar.

Compra lá.

Com Biajoni, no Rio (II)

Biajoni e Pedro

O Biajoni – vulgo Camarão – e eu, testando a qualidade dos serviços no Rio de Janeiro.

No Rio, com o Biajoni

SA

Domingão, umidade a 105% e calor de 57 graus, tive o enorme prazer de desfrutar do excelente serviço dos bares cariocas (post sobre isso brevemente) na companhia de ninguém mais, ninguém menos, que o Luiz Biajoni, autor do imperdível Sexo Anal – Uma Novela Marrom, sobre o qual já falei aqui, e agora de Virgina Berlim que, se nenhum chato vier me pentelhar, vou ler hoje à noite, tomando um whiskey e ouvindo o CD de trilha sonora que o acompanha. Todo o mundo que leu, diz que é do caralho. Aliás, se você não baixou Sexo Anal, meio que se ferrou porque o livro não está mais disponível pra daunloudi. Em comemoração aos 10 mil daunloudis e 16 recusas por editoras, a Os Viralata vai lançar uma edição comemorativa de bolso. Corre lá e encomenda o seu (são só 100 exemplares): excelente presente pro Natal em família.

Enfim, o Biajoni é uma besta: depois de 51 chopps (uma vitória conseguir esta marca com o mau humor e excelente serviço dos garçons cariocas), tínhamos tudo tramado para dominar o mundo, mas nem minha prima doida conseguiu convencer o Bia a dar o rabo, pois ela tem certeza de que a fixação dele com a Analtomia dos outros significa que, no fundo, ele quer doar o seu.

Furthermore, atesto, conforme já dito por aí pelo Alex Castro, que o Bia, decepção geral, é o cara mais normal do mundo, a despeito das evidências contrárias. Uma figuraça. Agora, sempre que for a São Paulo, vou ter que dar um jeito de parar em Americana.

“Literatura é para parasitas”

Diogo Mainardi, em entrevista ao Digestivo Cultural:

“Literatura é para desocupados e parasitas. Por muito tempo, fui um desocupado e um parasita. Eu era mantido por meus familiares e por minha mulher. Quando precisei ganhar dinheiro para sustentar meus filhos, arrumei um emprego e larguei os livros. Pode parecer uma explicação prosaica demais, mas foi o que aconteceu. Abandonar a literatura não foi uma decisão literária. E não teve nenhuma conseqüência, exceto para mim. Não sou um Rimbaud. Quanto ao comichão literário, não sei o que é isso. Nunca escrevi porque tinha a necessidade de escrever: escrevia porque era o que me interessava fazer.”

J. Toledo se despede

O escritor e artista plástico paulista J. Toledo, com quem costumava conversar ao telefone menos do que deveria, faleceu sábado passado. Eu o conheci quando eu ainda morava com a escritora Hilda Hilst, na Casa do Sol (1998-2000). Naquela época, falávamos quase todas as manhãs. Cheguei inclusive a contribuir com alguns dos verbetes de seu Dicionário de Suicidas Ilustres, editado pela Record. (Ele também publicou livros de crônicas e uma biografia sobre o artista plástico Flávio de Carvalho, a quem conheceu, e que traz um prefácio de Jorge Amado.) Toledo era um amigo extremamente atencioso e tinha um excelente senso de humor. Aliás, como costumo dizer, ele ainda o é e ainda o tem. Está vivo em algum lugar, dando risadas com a Hilda.

Logo mais colocarei em meu podcast uma gravação que fizemos juntos por telefone. Nada de mais, apenas para dar uma idéia de sua personalidade.

Vaya con Dios, hermano!

Provincianismo

Do blog do Martim Vasques:

Segundo T.S. Eliot, ser “provinciano” não significa “não possuir a cultura ou o requinte da capital”, muito menos ser “estreito no pensamento, na cultura e no credo”. É algo além – e muito mais trágico para a cultura de uma nação que se pretenda saudável. Refere-se “também a uma distorção de valores, à exclusão de alguns, ao exagero de outros, que resulta, não de uma falta de ampla circunscrição geográfica, mas da aplicação de padrões adquiridos dentro de uma área restrita, para a totalidade da experiência humana, que confundem o contingente com o essencial, o efêmero com o permanente. Em nossa época, quando os homens parecem mais do que propensos a confundir sabedoria com conhecimento, e conhecimento com informação, e a tentar resolver problemas da vida em termos de engenharia, começa a emergir na existência uma nova espécie de provincianismo que talvez mereça um novo nome. É um provincianismo, não de espaço, mas de tempo, aquele para o qual a história é simplesmente a crônica dos projetos humanos que têm estado a serviço de suas reviravoltas e que foram reduzidos à sucata, aquele para o qual o mundo constitui a propriedade exclusiva dos vivos, a propriedade da qual os mortos não partilham. A ameaça dessa espécie de provincianismo é que podemos todos, todos os povos do mundo, ser provincianos juntos; e aqueles que não estiverem satisfeitos podem apenas tornar-se eremitas” (ELIOT, T.S. “O que é um clássico”, in: De Poesia e Poetas, págs. 96-97).

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