blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Arte Page 24 of 112

A Guerrilha do Araguaia

Trailer do documentário dirigido por nosso amigo Eduardo Castro, que, ano passado, trabalhou conosco no making of da Goiânia Mostra Curtas. Guerrilha do Araguaia – As Faces Ocultas da História, segundo me disse o próprio Eduardo, mostra, em primeiro lugar, como os camponeses foram sacaneados por guerrilheiros e militares; em segundo, como ingênuos estudantes travestidos de guerrilheiros foram iludidos e traídos pelo Partido Comunista; e, finalmente, como foram todos pulverizados pelo Exército.

Best shortfilms on You Tube

Resolvi buscar no You Tube: “best short films” (melhores curtas-metragens). E então descobri a lista com o título acima: Best shortfilms on youtube. Qual não foi minha surpresa ao encontrar, entre esses melhores curtas, o vídeo “From Goyaz to Glauber Rocha“, cujo roteiro escrevi com o Pedro Novaes, e que realizamos com a ajuda de Dib Lutfi e João Paulo Carvalho. Bem, verifiquei – não sem uma pontinha de desapontamento, confesso – que o dono da lista é brasileiro, afinal, seria muito estranho um vídeo em língua portuguesa, e sem legendas, tocar a mente de um estrangeiro. (O brasileiro costuma ter um comportamento de torcida de futebol que sempre me faz duvidar de sua isenção crítica.) Em contrapartida, estamos em contato com a organização de um evento em Barcelona, uma mostra sobre o Glauber Rocha, que nos convidou a apresentar por lá o mesmo vídeo. Quem estiver na Catalunya…

Um mergulho aristotélico-stanislavskiano

Trecho de mais um artigo imprescindível, Quando a alma é pequena:

“(…) Esse medo, por sua vez, revela-se da maneira mais inconfundível na literatura de ficção nacional. Repassando mentalmente as produções maiores da nossa criação romanesca – índice seguro da imaginação das classes letradas –, o que me chama a atenção em primeiro lugar é a falta absoluta de problemas, de enigmas, de perplexidades. O romancista brasileiro limita-se a retratar situações vistas segundo a ótica de uma filosofia ou ideologia preexistente, de modo que tudo no fim parece óbvio e explicado. Não estou falando de escritores ruins, mas justamente dos melhores. Tomem o excelente Graciliano Ramos no mais bem sucedido dos seu livros, São Bernardo , no mais popular, Vidas Secas , ou no mais ambicioso, Angústia . O que se vê nos dois primeiros são equações de sociologia desenvolvidas com a lógica de uma demonstração matemática, a condição de classe dos personagens determinando suas escolhas e produzindo inevitavelmente o destino correspondente: o senhor de terras age como um senhor de terras, a professorinha como uma professorinha, o camponês diante da autoridade como um camponês diante da autoridade. É tudo muito bem observado, muito bem construído, mas não suscita um único “por que?”. No terceiro romance a fórmula parece complicar-se um pouco mediante a introdução de elementos de psicopatologia, mas no cômputo final estes se somam aos dados sociológicos e explicam tudo. Ninguém nega que esses livros sejam obras-primas à sua maneira, mas, se eles nos ensinam algo sobre a vida brasileira e algo sobre como se escreve um romance, não abrem nossa inteligência para nenhuma questão que ali já não esteja de algum modo respondida. Não têm a força fecundante da grande arte literária. O mesmo pode-se dizer de quase toda a produção de Raul Pompéia, José Lins do Rego, Jorge Amado, Lima Barreto, Guimarães Rosa, José J. Veiga, Antônio Callado, Herberto Sales, Josué Montello e outros tantos.

“Você não pode ler o teatro grego, Shakespeare ou Dostoiévski sem perceber que ali se encontra algo de perfeitamente real e ao mesmo tempo inexplicável, lógico e ao mesmo tempo absurdo. Os ensaios de interpretação podem se multiplicar ao longo dos séculos sem jamais dar conta do mistério. A grande literatura de ficção mostra-nos como é a vida humana, mas não pode nos explicar o porquê. Para fazê-lo, teria de subir um grau na escala de abstração, tornando-se análise e teoria, abandonando portanto a contemplação da vida concreta, que é o seu terreno específico. Mesmo os romances mais complexos do século XX, que incorporam elementos de análise filosófica, como A Montanha Mágica de Thomas Mann, Os Sonâmbulos de Hermann Broch, O Homem Sem Qualidades de Robert Musil ou a trilogia de Jacob Wassermann ( O Processo Maurizius , Etzel Andesgast e A Terceira Existência de Joseph Kerkhoven ) não têm por resultado uma teoria explicativa mas a expressão formal concreta de um aglomerado de tensões sem solução. Daí o fascínio mágico que continuam exercendo sobre o leitor por mais que este, eventualmente filósofo ele próprio, se esmere em transformar o egnima em equação. A equação resolvida é sempre genérica, não esgota nunca a infinidade de sugestões embutidas na trama particular e concreta.

“Nada disso se observa em geral na ficção brasileira, uma literatura de segunda mão que nasce do recorte da experiência pelo molde de explicações previamente dadas. A análise das obras esgota rapidamente a problematicidade da sua cosmovisão, não sobrando outro enigma senão, é claro, o do talento individual que encontrou soluções tão boas para a transposição estética de uma vivência espiritual tão pobre.(…)”

Sicko

Ainda não assisti ao novo documentário do Michael Moore – Sicko – mas já ouvi alguns comentários. O cara agora está pegando no pé das empresas de convênio médico que, conforme sabemos, costumam merecer as críticas que recebem. Contudo, cá entre nós, o cara levar um grupo de voluntários que trabalhou no resgate das vítimas do WTC, e que teve seqüelas por isso, para se tratar “gratuitamente” em Cuba diz mais sobre o próprio Michael Moore do que sobre as empresas de saúde norte-americanas…

Espelho – quase lá

Nosso curta-metragem Espelho – cujo roteiro escrevi e que dirigi com a Cássia Queiroz – está quase terminado. No momento, estamos à espera da trilha sonora. Assim que tiver notícias sobre – como dizer? a estréia? o lançamento? a avant-première? – darei um toque aqui. (Vale lembrar que dois colaboradores deste blog participaram como atores: o Pedro e o Paulo. Não, não é um filme sobre apóstolos…)

Abaixo, no escurinho do cinema, os excelentes atores Renata Mello e Sandro Torres.

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O artigo do Rubem Fonseca

O artigo do maestro Rubem Fonseca no Digestivo CulturalA literatura de ficção morreu? – me lembrou esta máxima do Oscar Wilde (cito de memória): “A vida artística não é senão o desenvolvimento da própria personalidade”. Ora, porque viveram outras personalidades antes de mim minha vida não faz sentido e por isso não mereço viver? Um escritor contemporâneo deve apenas responder a essa questão. Quanto a ser sua personalidade – sua imaginação! – vasta ou medíocre, eis um problema para o leitor, não para ele. Um dedo não pode tocar a própria ponta.

Connie

Nem o aeroporto…

Nos últimos anos, tenho ouvido esporadicamente que a única saída para o Brasil é mesmo o aeroporto. Bem, graças aos últimos vinte anos de governos desgovernados, nem isso é verdade. (Vide esse último ano de caos nos aeroportos e os dois acidentes envolvendo a Gol e, agora, a Tam.) Vós, que aqui estiverdes, abandonai todas as esperanças e enfrentai a realidade: viveis em um país de terceiro mundo caindo para o quarto. Aliás, o Brasil já está no quarto, de quatro na cama, sendo sodomizado pela corrupção moral de seus governantes, de sua elite intelectual, política e financeira e até mesmo pela corrupção de boa parte de seu próprio povo.

(Quando me lembro que havia um grupo desviando dinheiro da bilheteria do Cristo Redentor, penso: meu Pai, agora fodeu de vez.)

Não há outra solução fora da máxima de Krishnamurti: “a única revolução fundamental é revolucionar-se”. (Não é revolução no sentido político, por favor.) De fato, faz-se necessário um recrudescimento moral e uma auto-observação implacável: “quais serão as conseqüências de meus atos?” Em seguida, de modo complementar, talvez fosse preciso puxar a orelha de amigos e parentes que por ventura estejam praticando suas pequenas ações imorais e anti-éticas, pouco importando que se enfureçam consigo. Isso talvez levasse o país a uma reação moral em cadeia. Sim, apenas talvez. Porque nunca se sabe qual o tamanho da trave que cada um traz em seus próprios olhos. Recentemente me ocorreu um desses casos.

Enviei meu curta-metragem de ficção — Espelho — a um compositor amigo encarregado da trilha sonora. Descobri mais tarde que ele e um outro amigo fizeram uma sessão particular em Brasília (só podia ter sido em Brasília) e exibiram o copião do meu filme — inacabado, falto de alguns planos de corte, sem o áudio final, sem os efeitos visuais planejados, sem o ajuste de cor e luz, etc. — para uma platéia de colegas de profissão e conhecidos lá deles. Fiquei indignado: que tipo de ética tem o profissional que sai por aí exibindo sem permissão o trabalho inacabado de um diretor? E ainda havia um agravante: este segundo amigo era o técnico de som preterido do nosso filme, ou seja, havia ali uma curiosidade que lindava com a, digamos, “espionagem industrial”.

Depois de chamar a atenção do compositor, que teve a decência de pedir desculpas, escrevi a este outro dizendo que não gostei nem um pouquinho de sua atitude, que a achei “FODA”. Ao invés de se desculpar, escreveu-me um email cheio de injúrias atacando minha postura como profissional de cinema (!!) e a qualidade do meu filme, como se este já estivesse concluído e pronto para a crítica. E o pior: ao contrário de mim, que lhe escrevi em privado, reencaminhou sua resposta a várias pessoas, algumas delas participantes do meu filme, apenas para feri-las junto comigo e supostamente humilhá-las diante dos demais. (Mal sabe ele o quanto estamos satisfeitos com o resultado.) Respondi dizendo que, a princípio, acreditei ser ele apenas alguém sem caráter — o autodomínio é a medida do caráter de uma pessoa –, mas que, no fundo, era ele realmente um mau caráter, já que, além de não conseguir dominar seus impulsos negativos, ainda era capaz de estimulá-los e amplificá-los, mesmo ao não ter razão diante de um fato notório. Enfim, sem ter qualquer argumento a seu favor, e sendo incapaz de assumir de forma madura o próprio erro, o cara preferiu intensificar sua postura maliciosa: seu próximo email foi uma ameaça à minha integridade física!!!

Yuri, agora a coisa é para valer. Se me ver por ai, corra seu palhaço sem picadeiro. Pois a coisa vai pegar. […] Então para eu te quebrar a cara com uma única porrada, não custa nada. Suma da minha frente, vc entendeu? suma!!!! Quando vc me acusa de mau caráter tenho motivos para tirar satisfações. E tenha certeza que farei isso quando te encontrar. E olha seu inrresponsável, não estou para bricadeiras. Pense no que dirá ao meu respeito pois terão sérias consequencias.

O que esperar de uma sociedade dentro da qual não se pode confiar em seus próprios amigos? Porra, é certo que não nos encontramos senão eventualmente na última década, mas o cara é meu amigo há quinze anos!! Quando você procura seu nome no Google, o primeiro texto que aparece é um que eu próprio escrevi a seu respeito anos atrás. (Está sem os créditos, mas eu o publiquei no caderno Pop do jornal O Popular, quando então vivia escrevendo sobre sonhos.) Mas ele prefere me ameaçar a assumir um erro. E por quê? Simplesmente porque perdeu completamente o senso moral e não acredita ter cometido um deslize ético, afinal, estava apenas assistindo com terceiros ao “filminho” de um amigo. Será que o filminho em questão não corresponde a uma “propriedade intelectual” que deva ser respeitada? Não estou falando de pirataria, estou falando da exibição indevida de um copião, de um filme inacabado, a outros profissionais de cinema que nem sequer conheço. Se os dois ainda o tivessem visto a sós sem exibi-lo a terceiros… mas não há sequer esse atenuante.

E qual afinal foi a trave que encontrei em meu próprio olho ao apontar o cisco desse meu amigo? Ora, uma coisa bem simples: quando sou bom, sou muito bom, mas, quando sou mau, sou melhor ainda. Sacou? Não preciso dar maiores explicações. Basta dizer que tentei por duas vezes fazer uma tatuagem, a saber, a de um escorpião a segurar, com as tenazes, um livro aberto e a escrever nele com o ferrão uma frase de, salvo engano, Paracelso: “a diferença entre o veneno e o remédio é a dose”. Por sorte ou azar, nas duas ocasiões em que fui fazer essa tatuagem, com tatuadores diferentes em cidades diferentes, encontrei-os com o braço quebrado — ainda não tenho tatuagem… Enfim, talvez eu até saiba aplicar o corretivo em privado, mas ainda não sei dosar bem a quantidade de veneno. O cara certamente saiu intoxicado de nossa troca frenética de emails e por isso resolveu partir para a ignorância. Ele insistia em desviar a discussão para questões secundárias e pessoais, e eu então o trazia de volta ao cerne – a falta de ética. No entanto, por ele se recusar a ouvir, também eu acabava rebatendo seus ataques com outros de maior intensidade apenas para demonstrar que, se ele tinha um 44, eu tinha uma bomba atômica e que, por isso, seria melhor para ele deixar as fugas infantis de lado e enfrentar a situação como um adulto. Tenho um ótimo faro para localizar feridas e, se provocado, ainda sinto prazer em meter ali meu dedo. Um maldito prazer indescritível… É como se eu me sentisse uma espécie de Exterminador de missivistas mal-educados e presunçosos em missão sagrada, uma coisa doentia. Preciso parar com o exagero, ficar apenas no remédio, sem essa de mostrar que, na esgrima com palavras, sou fueda. Isto se chama soberba e é uma questão de caráter dominá-la. Do contrário, a sensação que fica depois é a de ter espancado uma menininha…

Em suma, parafraseando o Riobaldo, viver é muito perigoso. Principalmente num país como o nosso, no qual as pessoas se tornam cada dia mais mesquinhas, egoístas e irresponsáveis. “Quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito, e quem é iníquo no pouco é iníquo também no muito” (Lc 16,9´10), já dizia o Mestre. “Vigiai”, também dizia, principalmente nosso próprio comportamento e nossas inclinações. E não vos esqueçais: não tenteis fugir pelo aeroporto, tentai consertar as coisas aqui mesmo. Ou ainda confiais mais em nossa aviação que em vós mesmos?

Admirável argumento

Estive ajudando Miriam Virna — diretora teatral de Brasília — a adaptar o livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, para teatro. Eis um trecho bastante interessante quase ao final do livro (trata-se de um outro livro citado pelo personagem Mustafá):

“Envelhecemos, percebemos em nós aquele sentimento radical da fraqueza, da atonia, do mal-estar devido ao peso dos anos, e dizemo-nos doentes, embalamo-nos na idéia de que este estado penoso é devido a uma causa particular, de que esperamos curar-nos como nos curamos de uma doença. Vãs cogitações! A moléstia é a velhice, e ela é miserável. Precisamos de nos resignar… Diz-se que se os homens se tornam religiosos ou devotos com o avançar dos anos é porque têm medo da morte e do que a deve seguir. Mas tenho, quanto a mim, a consciência de que, sem nenhum terror semelhante, sem nenhum efeito de imaginação, o sentimento religioso se pode desenvolver à medida que avançamos em idade, porque, tendo-se acalmado as paixões, a imaginação e a sensibilidade menos excitadas ou excitáveis, a razão é menos perturbada no seu exercício, menos ofuscada pelas imagens ou afeições que a absorviam. Então Deus, Supremo Bem, sai de trás das nuvens, e a nossa alma sente-O, vê-O, voltando-se para Ele, fonte de toda a luz, porque, tudo desaparecendo no mundo sensível, a existência fenomenológica deixando de ser sustentada pelas impressões externas e internas, sentimos a necessidade de nos apoiarmos em qualquer coisa que permanece e não engane, numa realidade, numa verdade absoluta, eterna. Porque, enfim, este sentimento religioso, tão puro, tão doce de sentir, pode compensar todas as outras perdas…”

Meu livro no Flashpaper

Você conhece o Macromedia Flashpaper? Achei esse programa simplesmente genial. Você pode embutir um livro inteiro em seu site ou blog. Através da barra de ferramentas, é possível ampliá-lo e ocupar toda a tela do navegador, imprimi-lo, fazer buscas, etc. Muy bueno.

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