blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Arte Page 51 of 112

No more war

Qualquer dia farei um podcast especial sobre um amigo falecido há dois anos atrás: Sandro Soares. O cara é – sim, ainda é, conversamos durante um sonho lúcido que tive um mês após sua morte, ele está muito bem – como dizia, o cara é um excelente músico e compositor, guitarrista absurdamente genial que, por alguma misteriosa sincronicidade, nasceu no dia em que morreu Jimi Hendrix. (Aliás, o CD do qual retirei a faixa se chama Cause I’m back.) A música abaixo se chama No more war. Como o Sandro não conseguiu a performance desejada dos músicos da sua banda, dispensou a todos e gravou por si mesmo, além do vocal e da guitarra, todos os demais instrumentos. E isto em todas as faixas. Genialidade é isso aí…

P.S.: Aos irmãos e à mãe dele, meus respeitos. Espero que entendam minha homenagem.

    [audio:http://audio.karaloka.net/audio/no_more_war.mp3]

Arte e Moral

Do Fernando Pessoa (1916):

As relações entre a arte e a moral são análogas às entre a arte e a ciência. Não há relação entre a arte e a moral, como a não há entre a arte e a ciência; mas um poema que viola as nossas noções morais impressiona idênticamente o homem são como um poema que viola a nossa noção da verdade.

Um poeta que canta, elogiando, o roubo, não fará com isso um bom poema; nem o fará um poeta moderno a quem lembre cantar o curso do sol á volta da terra, que é uma cousa falsa.

Viola a regra do agrado. Agradará a mais gente um poema que, sobre ser belo, seja moral, que um que, sendo belo, seja imoral. As épocas têm mais de comum as suas ideias morais que as suas imoralidades. Só nas épocas de decadência é que a moralidade deixou de ser um ideal; e, mesmo nessas, reconhece-se o seu valor ideal.

As relações são entre o artista e o moralista, não entre a arte e a moral. Como é improvável que um grande artista, por isso mesmo que é um grande artista, falseie a verdade, é improvável que falseie a moral. Não pertence esse característico aos de um cérebro típico de criador.

O criador de arte para influenciar tem, em geral, como motivo o interesse de influenciar; ao qual falha se cria obra com elementos que tendem a limitar a acção da obra.

A tendência moral é reconhecida pela espécie humana como superior à realidade imoral. O poeta imoral corre portanto, na proporção em que é imoral, o risco de não influenciar os espíritos superiores (quando não da sua época, porventura decadente), das outras épocas pelo menos.

Música para a semana

medium_tom.4.jpeg Ando ouvindo de novo Tom Jobim Inédito (1987). Passei para o meu iPod o CD do meu pai – sempre ouvia quando ia pra Goiânia. A gravação é de 1987, mas o CD duplo só foi lançado em 1995 – daí o “inédito”. Estava fora de catálogo, mas relançaram no ano passado.

icn-seta_cima-11x11.gif Mais perfeito que este só Elis & Tom.

iconlisten.gif Ouça: A Felicidade

Epígrafe – I

Epígrafe da primeira parte do livro Gravity’s Rainbow, de Thomas Pynchon:

“A Natureza não conhece a extinção; tudo o que conhece é transformação. Todas as coisas que a ciência me ensinou, e continua a me ensinar, fortalecem minha crença na continuidade da nossa existência espiritual após a morte.”

Werner von Braun

A Sílvia morreu

Cada vez que morre um dos cães da Hilda Hilst sinto uma estranha pressão no peito: é como se a Hilda ainda não tivesse terminado de morrer. Agora foi a vez da Sílvia, filha do Zidane, o cachorrão com quem eu “lutava kung fu”. Na foto abaixo, de 1999: a diretora teatral Ana Kfouri, Hilda, eu e a Sílvia, sob a figueira da Casa do Sol.

Ricardo Fiume, 5 anos

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Frase de cinema — 13

aspas_vermelhas_abre.gif Quite an experience to

live in fear, isn’t it? That’s

what it is to be a slave. aspas_vermelhas_fecha.gif

Rutger Hauer para Harrison Ford, em Blade Runner (1982)

Zuzu e Chico

Tirei este texto do NoMinimo. Me pareceu uma boa análise do filme e de como ele retrata anos importantes da história brasileira. Me deu vontade de assistir ao filme de Sérgio Rezende.

Zuzu e Chico

Por Guilherme Fiuza

Santa Tereza

Rio 296x.jpg

Ele nunca disse a ninguém

Ele ficou chocado quando fez a descoberta. Estava na cama, o corpo nu recebia uma brisa suave de maio. Ela tinha ido ao banheiro, não gostava de ficar com sêmen entre as pernas. Quando voltou, deitou com a cabeça sobre o peito dele, disse as palavras carinhosas que costumava dizer nessa ocasião. Falou sobre casamento, sobre a felicidade de ter encontrado a pessoa certa. Ele se perguntava se devia lhe contar a novidade — a coisa acabava de se revelar, clara e serena como um reflexo de lua. Mas sua namorada era muito bonita, ele temia perdê-la. E o pior é que ela se culparia por tudo. Buscaria o motivo nalgum lugar do seu corpo, na barriga, nas mínimas estrias, na cor do cabelo — talvez no estranho cheiro de rosas queimadas, que ela exalava principalmente depois do sexo. Ela era mulher, não podia evitar o prazer misterioso da culpa. E por isso mesmo ele resolveu se calar. Não queria correr o risco de torná-la infeliz como uma divorciada. Se nunca mais pensasse no assunto, talvez a revelação passasse despercebida. Talvez desistisse de se mostrar, e bateria em outra porta, como essas pessoas que vêm pedir para campanhas de caridade. E, de fato, protegido pela rotina, Paulo conseguiu esquecer o assunto. Sua namorada não percebeu, e ele nunca disse a ela, nem a ninguém, que não gostava de sexo.

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