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Categoria: Arte Page 76 of 112
Comentei ano passado sobre a entrevista dada por Robin Williams ao James Lipton no Inside Actors Studio. Foi fenomenal, nunca ri tanto na minha vida, as lágrimas correram. Mas o que eu não sabia é que um membro do público teve de sair de ambulância daquele teatro: deu tanta risada que lhe acometeu uma hérnia, isto é, quase morreu de rir – literalmente. Preciso dizer algo mais?
Cá entre nós – não conte para ninguém – a melhor personagem da Lygia Fagundes Telles é a empregada que ela finge ser quando não está a fim de atender ao telefone. Hilda Hilst já havia me falado a respeito, mas houve um dia em que confirmei a tática:
“A dona Lygia num tá! Acho que foi ver o filho dela…”, diz a escritora, sem me reconhecer, com uma voz das mais engraçadas.
“É o Yuri, Lygia, o amigo da Hilda Hilst…”, e aí a gente percebe a figura engolindo em seco. Instantes de hesitação.
“Seo Yuri, desculpe, eu digo préla que o senhor ligô”, retorna a personagem um tanto quanto sem graça.
“OK, então. Não se esqueça de mandar um beijão para ela, viu?”
Ela desliga. Sorrio: “A fama é mesmo uma gaiola de ouro”, já dizia o cantor argentino Facundo Cabral…
Uma amiga me contou que, anos atrás, costumava despertar fora do corpo, isto é, “sofria” projeções astrais espontâneas e involuntárias. (Sim, no jargão da psicologia, alucinações.)
“Que demais!!”, eu disse.
“Demais nada, quase morria de medo…”
E descreveu o pânico que sentia cada vez que isso rolava e a ansiedade que ia nutrindo por acreditar que enlouquecia, por achar que estava perdendo seus parafusos um a um. Nessas ocasiões, nunca saía de seu quarto e muito menos de perto da cama. Fechava os olhos e rezava para voltar ao aconchegante corpo.
“Ai, era horrível!”
Mas um dia, abriu os olhos e viu um desconhecido em seu quarto, parado bem aos pés da cama: “E aí? Quer ir comigo na Biblioteca de Alexandria?”
“E você foi?”, perguntei eu, empolgadíssimo.
Monteiro Lobato (1882-1948) leu Nietzsche (1844-1900) e sua vida então mudou: finalmente tornou-se ele mesmo. Nietzsche leu Monteiro Lobato e… nunca mais foi o mesmo.
Dessa eu não me lembrava. (Claro, o Dr. Jekyll nunca tem plena consciência dos atos do Mr. Hyde.) O Pedro Novaes conseguiu me flagrar num dia em que o Señor Recóndito, numa festa na chácara do Gustavo Lima, tomou não apenas meu corpo mas também o microfone. Quando ele viu que a banda tinha bateria, guitarra e teclado, mas não um vocalista, deu o golpe de estado, tornou-se o MC da noite. Depois me contaram como ele (alguns pensam que era mesmo eu, mas não era) como ele inventou, em tempo-real, as letras das músicas que cantou. Uma doideira. Para ver como esse cara aí se parece comigo, mas não sou eu, veja como sua presença encaracola meus cabelos e dá um ar sinistro às minhas meigas feições. Sério, veja em meu perfil (ou na foto do casamento da minha irmã) como sou de fato. Ninguém entende como é duro levar essa vida dupla…
Eis um interessante artigo de Aluizio Alves Filho – Nietzsche e Lobato – que pode servir de ponto de partida para quem quiser estudar a influência que o primeiro exerceu sobre o segundo.
Tudo bem. O cemitério Père-Lachaise possui os “indícios” de Apollinaire, Balzac, Sarah Bernhardt, Chopin, Delacroix, Saint-Hilaire, Ingres, Kardec, la Fontaine, Méliès, Molière, Édith Piaf, Oscar Wilde, Proust, Pissarro, Yves Montand, Jim Morrison, Rossini, etc. e tal — até Abelardo e Heloísa estão ali, imagine — mas… mas… ele, o Père Lachaise, está morrendo de inveja do cemitério da Consolação, sim, o cemitério paulistano. Simplesmente porque este o impediu de abrilhantar ainda mais sua coleção de figurinhas fúnebres. Talvez seja porque o dono do defunto em questão, isto é, o espírito que o habitou, tenha combatido a influência opressiva da cultura francesa nas letras e nas artes brasileiras do princípio do século XX. Claro, também ele bebeu dela, mas sabia que a monotonia francesa enfraquecia nossa expressão. Quem é a figurinha que o Père-Lachaise perdeu? Ora, quem…
Fui ao Cemitério da Consolação pela primeira vez, creio, no carnaval de 1998. Eu acabara de chegar duma viagem que fizera a São Tomé das Letras com M.C., minha então namorada, e, naquela manhã de carnaval, acordei com a figura novamente arrumando as malas.
“Onde a gente vai agora?”, perguntei.
“A gente não – eu!”. Fiquei aliviado. Eu, tão escorpiano quanto ela, também estava intoxicado com a relação. Muitas risadas, muito papo, muito prazer, mas, claro, ferroadas em excesso. Só havia um problema: estávamos no apartamento dela e eu não estava nem um pouquinho interessado em sair da cama. Deixar o apartamento e voltar para minha casa naquela hora então? Nem pensar.
“Eu vou pra Serra do Caparaó”, disse ela. “Você pode ficar aqui se quiser. Vou deixar a chave. Se trouxer alguém aqui, por favor, não deixe vestígios.”
Trocamos um beijo e ela saiu. Voltei a dormir. Mais tarde, já de pé, fui à janela: o que poderia fazer sozinho em São Paulo numa manhã de carnaval? Depois da viagem, eu queria tudo, menos badalação. Vi então, logo adiante, os ciprestes do Cemitério da Consolação. Pensei: dizem que São Paulo é o túmulo do samba. Bom, vou verificar… e saí. Circulei por quase duas horas ali dentro. Mil ex-presidentes, políticos ilustres, ricaços tradicionais, gente de livro de história. Parei, pois, para descansar nessa caixa de mármore: Monteiro Lobato 18/04/1882 – 04/07/1948. Fiquei um bom tempo ali, matutando. Eu não sabia que o cara havia deixado a “roupa” em São Paulo. Pensei que fosse em Taubaté ou algo assim. Lembrei então da primeira escola em que estudei: Jardim Escola Visconde de Sabugosa. Quando criança, eu sentia orgulho de estudar numa escola homônima de um dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Lembrei dos livros, claro. Graças ao anjo do filme “A felicidade não se compra” (Frank Capra), anjo este que fala sobre o mais recente livro de Mark Twain escrito “lá em cima”, fiquei imaginando: o que o cara não estará escrevendo agora? Ao contrário dos demais “mortos”, que faziam parte da história do país ou de São Paulo, aquele cara fazia parte da minha história. Foi um ótimo primeiro dia de Carnaval…

Esta semana, voltei ao local. Passei dois meses lendo vários livros do sujeito, precisava ir até ali prestar minhas homenagens. Agora eu tinha um novo Monteiro Lobato em mente. Era não o autor infantil, mas o autor de “Miscelânea”, “America”, “Negrinha”, “Na antevéspera”, “Onda verde”, “Mundo da Lua”, “Prefácios e entrevistas”, “Problema vital”, “A barca de Gleyre”, “Mister Slang e o Brasil”, “O escândalo do Petróleo e do Ferro”, “Urupês” e “Idéias de Jeca Tatu”. Alguns destes livros deveriam ser obrigatórios em todas as escolas. Atualíssimos. Reveladores da nossa história, do nosso país, desse grande vulto, Monteiro Lobato – um desses escritores com quem agora me sinto irmanado. Aliás, um cara a ser emulado, posto que se esforçou tanto pela Arte e por esse país de Jecas… Fiquei feliz por ver tantas flores sobre seu túmulo. Morra de inveja, Père-Lachaise.
Um trecho do artigo “Artur Neiva”, de Monteiro Lobato, a respeito do cientista de Manguinhos que pôs em prática suas idéias na chefia sanitária de São Paulo:
Certo dia, na universidade de Leipzig, um estudante japonês abordou o eminente Ostwald com esta pergunta estranha:
– Haverá meios de distingüirmos cedo os homens que um dia se notabilizarão nas ciências?
Esta pergunta, encomendada pelo governo nipônico, embaraçou deveras o grande professor alemão e ficou a verrumar-lhe os miolos por muitos dias. Mas ao cabo de longo matutar ele apreendeu finalmente o traço característico dos futuros grandes homens, o primeiro a revelar-se em anos verdes: horror à escola! Os alunos mais bem dotados nunca se mostram satisfeitos com o que lhes oferece o ensino, conformado sob medida para a mentalidade e o caráter do maior número, isto é, dos medíocres. As criaturas de exceção, essas sofrem a asfixia do ambiente estreito e revoltam-se. Passam a constituir a classe dos maus alunos, dos vadios, dos indisciplinados, e acabam, não raro, expulsos da escola.
O Alex Cojorian me enviou o link dessa entrevista com o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante, na qual há um comentário que justifica os três milhões de dólares que Lula ganhou de Fidel:
GMN: Entre suas admirações, alguém lhe decepcionou quando visto pessoalmente ?
Cabrera Infante: “Uma das pessoas com quem tive uma enorme decepção depois de vê-lo pela televisão e pelos jornais foi Fidel Castro. Tivemos contato íntimo. Em abril de 59, fomos a Washington, Nova Iorque, Montreal e ao Brasil, antes de seguirmos para Montevideu e Buenos Aires. A intimidade de estar num avião para apenas vinte pessoas em companhia de Fidel Castro durante tantos dias me convenceu de que aquele indivíduo era um horror. Era um avião de hélice. Em direção ao Rio, o avião baixou para que víssemos a floresta amazônica. O piloto disse : “Comandante, estamos voando sobre a floresta!”. Eu estava sentado no banco logo atrás de Fidel Castro. O que foi que aconteceu? Fidel ficou olhando a floresta não sei por quanto tempo. De repente, disse : “Que grande país!”. Eu pensava que era admiração pelo Brasil. Mas ele disse: “Aqui é que deveríamos ter feito a nossa Revolução!”. Neste momento, entendi que Cuba era pequena para ele. Fidel se achava um lider tão grande que necessitava de um continente, não de uma ilha…”
GMN: Se, num acaso digno de uma das páginas de Garcia Marquez, o senhor se encontrasse com Fidel Castro hoje, num saguão de aeroporto, o que é que o senhor diria a ele ?
Cabrera Infante: “Eu só diria uma frase : ‘Você não acha que já chega?'”.
(Fonte: http://www.geneton.com.br)
