Com este – cujo nome não vem ao caso – já são quatro os amigos que cometeram suicídio nesses últimos dezesseis anos. (Há outros três que tentaram e não obtiveram sucesso.) Dentre os quatro, três tinham excelente senso de humor, o que certamente significa que saber rir de si mesmo e do mundo não é a conquista máxima da existência humana. Ainda bem que descobri isto logo após escrever minha própria carta de despedida em 1996. Deu chabu. Graças a Deus.
Categoria: amigos Page 1 of 17
O escritor e artista plástico paulista J. Toledo, com quem costumava conversar ao telefone menos do que deveria, faleceu sábado passado. Eu o conheci quando eu ainda morava com a escritora Hilda Hilst, na Casa do Sol (1998-2000). Naquela época, falávamos quase todas as manhãs. Cheguei inclusive a contribuir com alguns dos verbetes de seu Dicionário de Suicidas Ilustres, editado pela Record. (Ele também publicou livros de crônicas e uma biografia sobre o artista plástico Flávio de Carvalho, a quem conheceu, e que traz um prefácio de Jorge Amado.) Toledo era um amigo extremamente atencioso e tinha um excelente senso de humor. Aliás, como costumo dizer, ele ainda o é e ainda o tem. Está vivo em algum lugar, dando risadas com a Hilda.
Logo mais colocarei em meu podcast uma gravação que fizemos juntos por telefone. Nada de mais, apenas para dar uma idéia de sua personalidade.
Vaya con Dios, hermano!
Como já dizia aquele sábio “kazaquistanês”, Borat, great success!!! O lançamento do nosso curta-metragem – ESPELHO – superou nossas expectativas (duas sessões, muuuita gente, show de blues, etc.) e agora vamos partir para o circuito dos festivais de cinema. Quero agradecer a todos os amigos, amigos de amigos, amigos de amigos de amigos, familiares e interessados em geral pela presença e pelas risadas que pontuaram o filme. De coração, muito obrigado.
Qualquer hora escreverei sobre a experiência de escrever e dirigir um filme no nosso pobre Burajiru, e a sensação maluca que é assistir à platéia, que assiste, com visível satisfação, a um trabalho que exigiu tanto de nós.
(Feliz aniversário, Michael de Nebadon!!)
Links:
Comunidade do curta-metragem ESPELHO no Orkut.
Cartaz do filme.
Eis uma matéria no Correio Brasiliense sobre a peça que estou adaptando com a diretora teatral Miriam Virna – Admirável Ainda – a partir do romance Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Hoje, em Brasília, rolará a primeira leitura pública.
Trailer do documentário dirigido por nosso amigo Eduardo Castro, que, ano passado, trabalhou conosco no making of da Goiânia Mostra Curtas. Guerrilha do Araguaia – As Faces Ocultas da História, segundo me disse o próprio Eduardo, mostra, em primeiro lugar, como os camponeses foram sacaneados por guerrilheiros e militares; em segundo, como ingênuos estudantes travestidos de guerrilheiros foram iludidos e traídos pelo Partido Comunista; e, finalmente, como foram todos pulverizados pelo Exército.
Nosso curta-metragem Espelho – cujo roteiro escrevi e que dirigi com a Cássia Queiroz – está quase terminado. No momento, estamos à espera da trilha sonora. Assim que tiver notícias sobre – como dizer? a estréia? o lançamento? a avant-première? – darei um toque aqui. (Vale lembrar que dois colaboradores deste blog participaram como atores: o Pedro e o Paulo. Não, não é um filme sobre apóstolos…)
Abaixo, no escurinho do cinema, os excelentes atores Renata Mello e Sandro Torres.
Pô, ninguém mais escreve nada neste blog? Estão todos demitidos! Demitidos!! (Hehehe.)
Ontem, por exemplo, estreou na TV Cultura o documentário Xingu, do jornalista Washington Novaes – do qual o Pedro foi assistente de direção – e ele, o Pedro, nem pra soltar uma notinha aqui… Bem, cheguei a tempo de assistir à metade final, pois tive de acompanhar meu pai ao hospital. Sabe como é esse pessoal urbano que resolve morar num sítio: meu pai se feriu ao tentar depilar a perna com uma motosserra…
(Demitidos! Demitidos!!)
Nos últimos anos, tenho ouvido esporadicamente que a única saída para o Brasil é mesmo o aeroporto. Bem, graças aos últimos vinte anos de governos desgovernados, nem isso é verdade. (Vide esse último ano de caos nos aeroportos e os dois acidentes envolvendo a Gol e, agora, a Tam.) Vós, que aqui estiverdes, abandonai todas as esperanças e enfrentai a realidade: viveis em um país de terceiro mundo caindo para o quarto. Aliás, o Brasil já está no quarto, de quatro na cama, sendo sodomizado pela corrupção moral de seus governantes, de sua elite intelectual, política e financeira e até mesmo pela corrupção de boa parte de seu próprio povo.
(Quando me lembro que havia um grupo desviando dinheiro da bilheteria do Cristo Redentor, penso: meu Pai, agora fodeu de vez.)
Não há outra solução fora da máxima de Krishnamurti: “a única revolução fundamental é revolucionar-se”. (Não é revolução no sentido político, por favor.) De fato, faz-se necessário um recrudescimento moral e uma auto-observação implacável: “quais serão as conseqüências de meus atos?” Em seguida, de modo complementar, talvez fosse preciso puxar a orelha de amigos e parentes que por ventura estejam praticando suas pequenas ações imorais e anti-éticas, pouco importando que se enfureçam consigo. Isso talvez levasse o país a uma reação moral em cadeia. Sim, apenas talvez. Porque nunca se sabe qual o tamanho da trave que cada um traz em seus próprios olhos. Recentemente me ocorreu um desses casos.
Enviei meu curta-metragem de ficção — Espelho — a um compositor amigo encarregado da trilha sonora. Descobri mais tarde que ele e um outro amigo fizeram uma sessão particular em Brasília (só podia ter sido em Brasília) e exibiram o copião do meu filme — inacabado, falto de alguns planos de corte, sem o áudio final, sem os efeitos visuais planejados, sem o ajuste de cor e luz, etc. — para uma platéia de colegas de profissão e conhecidos lá deles. Fiquei indignado: que tipo de ética tem o profissional que sai por aí exibindo sem permissão o trabalho inacabado de um diretor? E ainda havia um agravante: este segundo amigo era o técnico de som preterido do nosso filme, ou seja, havia ali uma curiosidade que lindava com a, digamos, “espionagem industrial”.
Depois de chamar a atenção do compositor, que teve a decência de pedir desculpas, escrevi a este outro dizendo que não gostei nem um pouquinho de sua atitude, que a achei “FODA”. Ao invés de se desculpar, escreveu-me um email cheio de injúrias atacando minha postura como profissional de cinema (!!) e a qualidade do meu filme, como se este já estivesse concluído e pronto para a crítica. E o pior: ao contrário de mim, que lhe escrevi em privado, reencaminhou sua resposta a várias pessoas, algumas delas participantes do meu filme, apenas para feri-las junto comigo e supostamente humilhá-las diante dos demais. (Mal sabe ele o quanto estamos satisfeitos com o resultado.) Respondi dizendo que, a princípio, acreditei ser ele apenas alguém sem caráter — o autodomínio é a medida do caráter de uma pessoa –, mas que, no fundo, era ele realmente um mau caráter, já que, além de não conseguir dominar seus impulsos negativos, ainda era capaz de estimulá-los e amplificá-los, mesmo ao não ter razão diante de um fato notório. Enfim, sem ter qualquer argumento a seu favor, e sendo incapaz de assumir de forma madura o próprio erro, o cara preferiu intensificar sua postura maliciosa: seu próximo email foi uma ameaça à minha integridade física!!!
Yuri, agora a coisa é para valer. Se me ver por ai, corra seu palhaço sem picadeiro. Pois a coisa vai pegar. […] Então para eu te quebrar a cara com uma única porrada, não custa nada. Suma da minha frente, vc entendeu? suma!!!! Quando vc me acusa de mau caráter tenho motivos para tirar satisfações. E tenha certeza que farei isso quando te encontrar. E olha seu inrresponsável, não estou para bricadeiras. Pense no que dirá ao meu respeito pois terão sérias consequencias.
O que esperar de uma sociedade dentro da qual não se pode confiar em seus próprios amigos? Porra, é certo que não nos encontramos senão eventualmente na última década, mas o cara é meu amigo há quinze anos!! Quando você procura seu nome no Google, o primeiro texto que aparece é um que eu próprio escrevi a seu respeito anos atrás. (Está sem os créditos, mas eu o publiquei no caderno Pop do jornal O Popular, quando então vivia escrevendo sobre sonhos.) Mas ele prefere me ameaçar a assumir um erro. E por quê? Simplesmente porque perdeu completamente o senso moral e não acredita ter cometido um deslize ético, afinal, estava apenas assistindo com terceiros ao “filminho” de um amigo. Será que o filminho em questão não corresponde a uma “propriedade intelectual” que deva ser respeitada? Não estou falando de pirataria, estou falando da exibição indevida de um copião, de um filme inacabado, a outros profissionais de cinema que nem sequer conheço. Se os dois ainda o tivessem visto a sós sem exibi-lo a terceiros… mas não há sequer esse atenuante.
E qual afinal foi a trave que encontrei em meu próprio olho ao apontar o cisco desse meu amigo? Ora, uma coisa bem simples: quando sou bom, sou muito bom, mas, quando sou mau, sou melhor ainda. Sacou? Não preciso dar maiores explicações. Basta dizer que tentei por duas vezes fazer uma tatuagem, a saber, a de um escorpião a segurar, com as tenazes, um livro aberto e a escrever nele com o ferrão uma frase de, salvo engano, Paracelso: “a diferença entre o veneno e o remédio é a dose”. Por sorte ou azar, nas duas ocasiões em que fui fazer essa tatuagem, com tatuadores diferentes em cidades diferentes, encontrei-os com o braço quebrado — ainda não tenho tatuagem… Enfim, talvez eu até saiba aplicar o corretivo em privado, mas ainda não sei dosar bem a quantidade de veneno. O cara certamente saiu intoxicado de nossa troca frenética de emails e por isso resolveu partir para a ignorância. Ele insistia em desviar a discussão para questões secundárias e pessoais, e eu então o trazia de volta ao cerne – a falta de ética. No entanto, por ele se recusar a ouvir, também eu acabava rebatendo seus ataques com outros de maior intensidade apenas para demonstrar que, se ele tinha um 44, eu tinha uma bomba atômica e que, por isso, seria melhor para ele deixar as fugas infantis de lado e enfrentar a situação como um adulto. Tenho um ótimo faro para localizar feridas e, se provocado, ainda sinto prazer em meter ali meu dedo. Um maldito prazer indescritível… É como se eu me sentisse uma espécie de Exterminador de missivistas mal-educados e presunçosos em missão sagrada, uma coisa doentia. Preciso parar com o exagero, ficar apenas no remédio, sem essa de mostrar que, na esgrima com palavras, sou fueda. Isto se chama soberba e é uma questão de caráter dominá-la. Do contrário, a sensação que fica depois é a de ter espancado uma menininha…
Em suma, parafraseando o Riobaldo, viver é muito perigoso. Principalmente num país como o nosso, no qual as pessoas se tornam cada dia mais mesquinhas, egoístas e irresponsáveis. “Quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito, e quem é iníquo no pouco é iníquo também no muito” (Lc 16,9´10), já dizia o Mestre. “Vigiai”, também dizia, principalmente nosso próprio comportamento e nossas inclinações. E não vos esqueçais: não tenteis fugir pelo aeroporto, tentai consertar as coisas aqui mesmo. Ou ainda confiais mais em nossa aviação que em vós mesmos?
Estive ajudando Miriam Virna — diretora teatral de Brasília — a adaptar o livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, para teatro. Eis um trecho bastante interessante quase ao final do livro (trata-se de um outro livro citado pelo personagem Mustafá):
“Envelhecemos, percebemos em nós aquele sentimento radical da fraqueza, da atonia, do mal-estar devido ao peso dos anos, e dizemo-nos doentes, embalamo-nos na idéia de que este estado penoso é devido a uma causa particular, de que esperamos curar-nos como nos curamos de uma doença. Vãs cogitações! A moléstia é a velhice, e ela é miserável. Precisamos de nos resignar… Diz-se que se os homens se tornam religiosos ou devotos com o avançar dos anos é porque têm medo da morte e do que a deve seguir. Mas tenho, quanto a mim, a consciência de que, sem nenhum terror semelhante, sem nenhum efeito de imaginação, o sentimento religioso se pode desenvolver à medida que avançamos em idade, porque, tendo-se acalmado as paixões, a imaginação e a sensibilidade menos excitadas ou excitáveis, a razão é menos perturbada no seu exercício, menos ofuscada pelas imagens ou afeições que a absorviam. Então Deus, Supremo Bem, sai de trás das nuvens, e a nossa alma sente-O, vê-O, voltando-se para Ele, fonte de toda a luz, porque, tudo desaparecendo no mundo sensível, a existência fenomenológica deixando de ser sustentada pelas impressões externas e internas, sentimos a necessidade de nos apoiarmos em qualquer coisa que permanece e não engane, numa realidade, numa verdade absoluta, eterna. Porque, enfim, este sentimento religioso, tão puro, tão doce de sentir, pode compensar todas as outras perdas…”