blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Umbigo

Se não aqui, ao menos lá

Bom, vou começar esta semana convidando meus poucos e fiéis leitores para a leitura da entrevista que concedi ao suplemento literário do jornal Nicaragüense La Prensa. Já vou dizendo que deveria ter me demorado mais em algumas questões, evitando assim ser mal interpretado em certos assuntos. O problema é que tive apenas um dia para responder – em espanhol – ao pacote de perguntas enviado pelo Ezequiel D’León Masís, aliás, gente finíssima. Ao ler novamente minhas respostas não fiquei plenamente satisfeito – comigo, é claro – mas… fazer o quê? Bom, taí pra quem quiser ver o que eu pensava de certas coisas naquele dia. (E você aí, rapaz!, é, você mesmo, não vem me dizer que por causa dessa última oração sou eu também um relativista! O Mais Importante será sempre o mais importante para mim.)

Ps.: A foto que ilustra a matéria foi tirada no dia do aniversário de 70 anos da Hilda Hilst (04/2000) – na casa dela, claro – por um alemão que me enganou com seu notebook-câmera-fotográfica. (Logo a mim que assistia a todos os episódios do Agente 86…)

Richard Wilhelm

Tenho estado ocupado com a ilusão de que conseguirei fazer TUDO AO MESMO TEMPO AGORA: escrever dois livrecos online, dois roteiros de cinema, uma peça de teatro e, como se não bastasse, traduzir este site para o espanhol. Estou com a cuca fundida, sem falar que – ao invés de dar seis passos no andamento de pelo menos um desses projetos – dou apenas um em cada um dos seis. Disciplina, cazzo! Disciplina!

Bom, pra compensar minha ausência, segue este “causo” – citado por Colin Wilson – a respeito de Richard Wilhelm, amigo de Carl G. Jung e tradutor do I Ching:

Richard Wilhelm

“Richard Wilhelm encontrava-se em um longínquo vilarejo chinês que sofria com a estiagem. Um fazedor de chuva foi mandado de um vilarejo distante. Pediu uma cabana nos arredores da vila e ali ficou por três dias. Caiu, então, uma forte chuva, seguida de neve – uma ocorrência jamais verificada naquela época do ano. Wilhelm perguntou ao velho homem como ele fizera aquilo; o velho respondeu que não havia feito. ‘Veja o senhor’, disse ele, ‘venho de uma região onde tudo está em ordem. Chove quando deve chover, o que é muito agradável quando se precisa. As próprias pessoas estão bem. Mas as pessoas neste vilarejo estão fora do Tao e de si mesmas. Logo que cheguei fui imediatamente afetado por este estado; por esta razão, pedi uma cabana nos arredores da vila, para que pudesse ficar sozinho. Quando retornei ao Tao, a chuva caiu.”

[Ouvindo: Over The Rainbow – Miles Davis, Ornette Coleman]

Mais um texto e mais…

Tentar sobreviver como escritor neste país é ridículo. Acho até que vou começar a usar um macacão tipo fórmula 1, cheio de anúncios publicitários. Se é possível escalar montanhas com patrocínios, por que não o seria escalar livros?

Bom, esta entrada é apenas para anunciar que coloquei uma carta de amor nos “textos seletos“.

Aos que me escreveram perguntando sobre minha amiga extraterrestre, por enquanto basta saber que é uma velhinha de setenta anos de idade – casada com um cara de vinte e cinco – ambos donos de uma padaria numa cidade do interior. Ela afirma ser uma “entrante” e me conta os “causos” mais improváveis. Alguns amigos me dizem que ou ela é louca ou é muito esperta. Eu a acho uma grande personagem. Logo mais falarei sobre ela.

Meu blog

Hesitei por muito tempo antes de iniciar meu próprio blog. Sim, pois não queria montar aqui um mero confessionário on line no qual meus parcos leitores não vissem senão o óbvio: que sou “apenas” um ser humano. (Talvez devesse acrescentar: um ser humano metido à besta, já que parece ser este o blogueiro típico.) Pois é, precisei antes definir uma linha, um alvo, sem ficar no banal do dia-a-dia. Afinal, as pessoas adoram comprar biografias só para descobrir, por exemplo, que Poe, além de “poedar”, também peidava (desculpe, não resisti); que Maupassant era, além de genial, um azarado que pirou graças à sífilis contraída muito provavelmente de uma prostituta (dizem as boas línguas que foi hereditária); que Freud desmaiava frescamente cada vez que se deparava ou com o porvir inexorável da própria morte, ou com a possível morte de seu legado; que Chaplin, em sua autobiografia, e talvez por trauma à pobreza passada, passa mais tempo falando de dinheiro que de sua família; que Chopin era, no dia-a-dia, a “esposa” da George Sand; que Henry Miller abandonou uma filhinha de três anos e só a reviu trinta anos depois; que Uccello largava na cama sua injuriada mulher para ficar suspirando diante de uma tela: “que coisa doce é a perspectiva!”; que Einstein, sem sofrer a mesma discriminação equívoca, era tão disléxico quanto George Bush jr; que Jimmi Hendrix foi paraquedista do exército e acreditava, para espanto dos integrantes de sua banda, que a ação norte-americana no Vietnã era legítima; que Albert Camus quase morreu de tédio em sua viagem pelo Brasil; que David Lynch guarda, sobre a lareira da sua casa, um vidrinho com o útero de uma amiga mergulhado em formol (eca!); que boa parte do tom rancoroso de Karl Marx, em “O Capital”, deve-se, segundo ele mesmo, aos doloridos furúnculos e carbúnculos que lhe infestavam a bunda; que Krishnamurti viveu um triângulo amoroso inusitado com um colaborador e a mulher deste; que certo “benfeitor” de Van Gogh usava seus quadros para tapar os buracos dum galinheiro; que Lima Barreto criou a Liga Brasileira Contra o Futebol e achava um absurdo a crença geral de que tal esporte “levaria longe o nome do Brasil”; que Goethe, para horror do pavio curto do Beethoven, inclinou-se reverentemente diante de Napoleão; que Mishima fazia protestos estudantis, não pintando a cara, mas o chão com suas próprias tripas; e, finalmente, que São Francisco de Assis, além de ser um grande homem, também peidava. Santamente.

Sim, é verdade, as pessoas amam descobrir as pequenezes alheias para se sentirem maiores por dentro. Querem rebaixar os grandes para elevarem-se a si mesmas. Mas eu… bem, não quero ser apenas um fofoqueiro de mim mesmo, não quero exibir minha mediocridade – ou pior, minha animalidade – para alcançar uma identificação rasteira com quem me lê. O que me atrai é o “fantástico”. (Não estou falando do programa da Globo não, engraçadinho.) Tampouco quis reunir um elenco de literatos viciados em Borges, Bioy Casares, Bulgakhov, Poe, Lovecraft, etc. para falar do “fantástico” de tabela. Prefiro ser direto, buscando as fontes, acreditando, como os antigos gregos, que se a Arte é um tipo de “cópia” (mímese) do mundo real, então vamos buscar o fantástico na realidade, sem fazer “cópia” da “cópia”, sem mimetizar, enquanto tema, as obras já consagradas.

E, claro, vezenquando não farei outra coisa senão falar e refalar de literatura, política, religião, arte, ciência, enfim, da realidade cotidiana, esse fluxo fantástico de tempo-espaço sobre um eixo eterno e transcendente: a Vida.

Seja o que Deus quiser!

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