blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Sem livre-arbítrio?!

Em conversa com amigos “relativistas absolutos” percebi um detalhe que, não sei por que, nunca me havia ocorrido: há gente que não acredita que exista, em nível algum, o livre arbítrio da alma humana. Eu sabia que muita gente achava a tal “alma” um mero emaranhado de sinapses, um complexo e, por que não?, ordinário “processo” eletroquímico que finda com o corpo. Mas daí a ter de ouvir que não há livre arbítrio algum, mesmo enquanto materialmente ativo… puts, foi uma novidade. Para eles, o livre arbítrio – a liberdade de decisão! – é um mito, uma aparência que varia da mais enganosa e falsa liberdade à absoluta ausência de alternativas. E, detalhe, me deixaram entender que a medida é: quanto mais pobre for a pessoa, menor será seu nível aparente de livre arbítrio, até a miséria, onde a pessoa é absolutamente prisioneira das circunstâncias. Marxistas, claro. E tiveram a falta de simancol de me dizer que um garimpeiro nunca decidiu ser um garimpeiro, mas que a vida, a sociedade, o empurrou até o garimpo. (Discutíamos sobre o assassinato, por parte de índios, de um grande grupo de garimpeiros. Eles diziam que ambos não tiveram alternativas: os garimpeiros de ir fazer outra coisa, os índios, de não matar!!)

Mas – peraí!! – não é que eles, em certo ponto, têm alguma razão? Sim, têm, embora não percebam a arapuca em que se metem com isso. Se fôssemos somente esse sistema mecânico, eletroquímico ou sei lá eu, não poderia haver realmente livre-arbítrio. Seríamos como computadores a esperar o toque de dedos extrínsecos a nós que nos impulsionassem para lá e para cá. Mas o que eles não percebem é que já fomos “digitados” – vide o teto da Capela Sistina. Sem a alma não haveria livre-arbítrio e eles sequer poderiam decidir a tomar uma opinião distinta.

As besteiras que a gente tem de ouvir…

Único vício

Apenas Deus aplica certo em veias tortas…

A fé de Dostoiévski

“Muitas coisas deste mundo nos são dissimuladas, mas em compensação Deus nos concedeu a misteriosa sensação do laço vivo que nos une ao outro mundo, o mundo celeste, superior; e, aliás, as próprias raízes dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos não estão em nós, porém em outra parte. E é por isso que os filósofos dizem que não se pode conhecer na terra a essência das coisas. Deus tomou sementes que pertenciam a outros mundos. semeou-as nesta terra e cultivou o seu jardim. O que podia germinar cresceu, mas tudo que se podia desenvolver não viveu senão graças ao sentimento do seu contato com outros mundos misteriosos; se esse sentimento enfraquece ou desaparece da tua alma, tudo o que floriu dentro de ti morrerá.”
(Staretz Zossima em Os Irmãos Karamázovi.)

Outra carta de Yeats

“Tudo vai bem com George Russel. O seu fantasma não se comunicará porque não tinha relações humanas e apaixonadas que o chamassem para trás. Minha mulher disse-me uma destas noites: ‘George Russel era a pessoa mais próxima de um santo. Tu és melhor poeta, mas não és santo’. Suponho que cada um tem de escolher na vida o seu caminho.”
(William Butter Yeats em carta dirigida a Dorothy Wellesley, em 1935, por ocasião da morte de George Russel.)

Correio Noel

Segundo informação que circula na internet, se vc for ao Correio poderá solicitar a leitura de cartas enviadas por crianças ao Papai Noel. Assim, poderá escolher a que estiver mais próxima de suas possibilidades e atender ao desejo de uma criança. Uma amiga minha, Procuradora do Estado, costumava comemorar seus aniversários em orfanatos. Os presentes deveriam ser comprados para as crianças, não para ela. Sair das festas era difícil: meninos e meninas a nos agarrar pelas pernas, pescoços. A carência afetiva das crianças era acachapante, de desarmar o coração.

Ayahuasca 3

Uma curiosidade sobre o assunto é que o “Papa do Santo Daime”, de São Paulo, é o cartunista Glauco, autor do Geraldão e do Casal Neuras. Nada como um guia espiritual que sabe rir de si mesmo. (Nota: nunca consegui freqüentar o Santo Daime. Minha introspecção, nesses momentos, não suporta os bailes e hinos obrigatórios. Aliás, tenho um primo – professor universitário em Brasília – que é “Fardado”. É um “assessor para crentes vomitantes”…)

Ayahuasca 2

Outra coisa que percebi é que o, digamos, “índice de expelição e excreção” do “usuário” é diretamente proporcional ao seu nível de ceticismo. Quanto maior for sua aversão à ação de um poder transcendental em sua vida, mais volumoso será o chamamento do Hugo (ou Juca). Claro, isso também tem a ver com seu atual estado de pureza moral. Mas um amigo meu, por exemplo, engenheiro, cético até mandar parar – embora uma pessoa boa, justa e honesta – emitiu substâncias, segundo ele mesmo, por todos os orifícios do corpo. Vomitou, babou, chorou, suou, teve defluxo, mijou, cagou, derramou cera dos ouvidos e até soltou caspa. Ayahuasca é uma experiência de quase-morte. Não é curtição. Segure na mão de Deus e vá…

Ayahuasca

Meu amigo Rodrigo Fiume, jornalista do Estadão, me envia artigo informando que “o uso religioso da ayahuasca foi reconhecido ontem como prática legal pelo Conselho Nacional Antidrogas (Conad), depois de décadas de controvérsias entre consumidores e autoridades brasileiras sobre se seria ou não alucinógena”, (resolução n.º 4, de 4 de novembro, publicada ontem no Diário Oficial). Tudo bem. Mas eu ainda acho que deveria ser tomada de dois em dois anos e não toda semana, como é costume. Pode rolar muita ilusão no astral. Religião é outra coisa.

Felicidade 2

Numa noite de chuva, bebendo vinho com bons amigos, até bem tarde. A inteligência e o humor das conversas parecem aumentar a cada taça. Passa-se dos sofas para as almofadas e para o tapete em torno da mesa de centro. De repente surge o gatinho da casa, felpudo, elétrico como todo filhote, e desfia as meias da garota mais bonita e com as pernas mais compridas da reunião. Ah, não será isto a felicidade?

Santidade

A Hilda Hilst respondeu na entrevista que deu ao Cadernos de Literatura Brasileira – eu estava presente na ocasião – que não acredita em revolução política, e sim que “a verdadeira revolução é a santidade”. Instigado por ela li as biografias de Paramahansa Yogananda e Albert Schweitzer, dois verdadeiros santos do século XX. E, finalmente, neste ensaio – A lição de uma santa -, Otto Maria Carpeaux explica por que “são os santos que transformam o mundo”.

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