Nos anos 80 e começo dos 90, eu e alguns amigos costumávamos acampar em todo e qualquer lugar que nos dava na telha, tanto na praia quanto em cavernas, fazendas ou Parques. Na Chapada dos Veaderios – onde acampei pela primeira vez em 1986 – chegávamos a passar 15 dias andando para todos os lados, acampando onde quiséssemos, sem encontrar mais ninguém. Chamávamos isso de trekking ou camping selvagem. Fazíamos inclusive bivaque, dormindo ao relento.

Hoje, na maioria dos Parques Nacionais já não se pode desfrutar dessa liberdade, é preciso ficar na “área de camping”, uma chatice ecologicamente necessária. Por isso os adolescentes de hoje, não sem razão, inventam lá sua maneira de conseguir seu “camping selvagem”. Só que o adjetivo “selvagem” acabou mudando de conotação. Agora significa: cuidado não com as onças, mas com os psicopatas… Não seria preferível se o Estado permitisse – com restrições ao número de pessoas por grupo – o acampamento no interior dos Parques Nacionais? Ou será melhor arriscar a vida de pessoas a permitir que um eventual idiota jogue papel de balinha no chão da natureza? Casais gostam de privacidade, a área de camping dos Parques não tem graça para eles. Quando me lembro de que nem nos vulcões do Equador é possível estar hoje longe de surpresas criminosas – o país foi invadido por bandidos colombianos em fuga da guerra civil – me dá um alívio não ser mais adolescente, quanto mais o estudante de intercâmbio e andinista que fui.

Tristes países onde os inocentes é que devem ficar presos dentro de casa…

[Ouvindo: Alice – Tom Waits]