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O xixi do vizinho

Ao passar alguns dias na casa de um amigo de infância, em São Paulo, no mesmo bairro onde cresci, acabei por protagonizar uma verdadeira cena de novela das sete, daquelas com brigas de vizinho italiano do tipo “Guerra dos Sexos” ou “Vereda Tropical”. Minha antiga rua tinha italianos (seo Emílio e esposa), iugoslavos (Dona Draga, marido e filhas), japoneses (com uma cadela fêmea que se chamava Yuri!!), além de brasileiros de quase todos os estados. E, claro, havia brigas e cenas homéricas entre os vizinhos, as quais eu me limitava a assistir. Mas nesse último final de semana não deu pra evitar. Estávamos numa reunião com amigos, ouvindo um sarau com flauta transversal e violão, tomando um vinho, curtindo um frio paulistano de final de inverno, quando o vizinho, insano como sempre, resolveu jogar um copo de plástico cheio de urina – sua forma corrente de protestar contra a zoeira das festas – no quintal desse meu amigo, onde agora estou hospedado. Isso já havia rolado em anos pregressos, na época em que eu mesmo morara naquela casa, mas foi a primeira vez que tal recipiente mau cheiroso encontrou minhas próprias roupas no varal. (!!!) Eu, que já estava mais pra lá do que pra cá, o cérebro embebido em Cabernet Sauvignon, mal recebi da Joana – esposa do meu amigo – a linda notícia, já fui correndo para o quintal. Enquanto retirava do varal as roupas, iniciei um longo e estridente sermão que certamente alcançou os ouvidos de todos os moradores do quarteirão. Bom, não nego que foi engraçado, principalmente a parte em que certa pessoa (não vou entregar quem), foi ao banheiro e produziu uma bomba de xixi semelhante, jogando-a em seguida de volta ao outro lado do muro, desautorizando todo o discurso que eu acabara de fazer em prol da sensatez, da cortesia, da razão, da tolerância, etc., etc. (Claro que isso tudo ainda há de virar um conto, né.)

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1 Comment

  1. Vin Durden

    Muito bom. Estava aqui no Estagio de péssimo humor e, ao ler este ensaio, dei altas risadas e este conseguiu tirar uma forma ruim do meu humor polimorfo.

    Tô na espera da crônica. Essas coisas à la barraqueiras são otimas. Só no Brasil tropical isso acontece, (risossss).

    Abração Yuri, Tu é fera.

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