blog do escritor yuri vieira e convidados...

anencéfalos & índios nazistas

Nãonãonão… Vamos esclarecer as coisas… Lá vem você com a alma e o nazismo… Eu já disse: ser a favor ou contra o aborto é uma coisa, a favor ou contra a legalização é outra! A questâo nâo é um ponto de vista pessoal sobre o aborto em si mas de ter a liberdade de escolher! Essa controvérsia se o camarão tem alma ou não deveria surgir no meio de uma discussâo sobre a legislaçâo… cadê a divisâo entre estado e igreja? Quero a liberdade de ser ateu, de acreditar que nem eu,nem o camarâo, nem o respeitàvel pùblico, ninguém tem alma!

A questão é de saúde pública! Vamos continuar tapando o sol com peneira, apoiando a utilização de agulhas de tricô pra livrar as mães recalcitrantes dos fetos indesejados ou vamos estabelecer uma estrutura médico-legal pra tratar o problema? Afinal, o aborto não vai parar de existir porque a gente proíbe ele, ou porque a gente decide que feto tem alma. Temos que encarar essa questâo sériamente e de uma vez por todas!

Respondendo outro ponto levantado, o estudante de medicina em questão não era anencéfalo, era hidrocéfalo. Certo, ele tinha pouco tecido cerebral comparado a um humano normal. È fato, espantoso que ele fosse capaz de cursar a universidade e coisa e tal. Mas o anencéfalo mais velho jamais registrado tinha alguns dias de vida e já é tão impressionante quanto o hidrocéfalo matemático… porque o anencéfalo não tem NADA no lugar do cérebro! Ele não apresenta nem o tecido nervoso da coluna vertebral! Não dá nem pra regular o ritmo cardíaco desse jeito! E um estudante anencéfalo seria rapidamente descoberto porque faltaría-lhe a calota craniana, difícil não notar uma coisa dessas! Eu sou muito partidário da idéia do cérebro como receptor (ver o artigo q o yuri apontou do estudante hidrocéfalo) mas daí a imaginar que dá pra viver sem cérebro nenhum é meio pular o corguinho de ré, né?

Ah, chegamos na questâo da alma, essa idéia fantástica… A priori, sou contra, claro, porque parto do pressuposto que se deus existisse a primeira coisa que ele nos diria seria:”façam como se eu não estivesse aqui”. Inclusive essa idéia do cérebro como receptor me agrada principalmente pela possibilidade de deslocalização da alma! Ao invés de alminhas pessoais, privadas, egoísticas e egocêntricas, que tal uma almona coletiva, captada diferentemente pelas antenas diferentemente reguladas de nossos cérebros estruturados e regulados diferentemente uns dos outros? É a única forma de aceitar a alma que eu posso conceber, meu velho… abaixo o gasparzinho, aquele homenzinho transparente que sai do corpo quando se morre em desenho animado!

E, pra finalizar, o nazismo e os índios: não, não, os narigudos não têm nada a temer de mim. Eu não sou a favor de eliminar população nenhuma. Mas sou muuuuito a favor do contrôle de natalidade… esse nosso apêgo sobrenatural á nossa pròpria espécie nos faz esquecer que nòs já somos demasiado numerosos. Todas essas alminhas que você protege arraigadamente estão por aí, se reproduzindo como células cancerosas, destruindo todo o planeta e cagando nos cantos. Acho mesmo que a eugenia negativa dos índios, apesar de exagerada (eles eliminavam malformaçôes mas, dependendo da etnia, também albinos, gêmeos e outras anomalias genéticas benignas) era condizente com a vida que eles levavam, e garantia um equilíbrio social e ecològico que não existe na nossa sociedade tão menos nazista. Por mim, rolava vasectomia reversível na hora do parto direto! Nasceu homem, vasectomia nele! Quando ficar adulto e tiver vontade de se reproduzir a gente vê. Faz uns testes básicos pra ver se o casal não é completamente louco, uma formação pesada pra preparar os dois pombinhos pra cuidar de criança e aí reverte a operaçâo.

Mas por enquanto eu ainda não domino a humanidade com mão de ferro, é pena. Vamos entâo pelo menos legalizar o aborto pra que ele pare de ser feito clandestinamente. Para que as pessoas tenham a possibilidade de escolher dignamente, porque como todo mundo sabe, lei não proíbe nada. Lei serve pra estipular penas, sò.

Sério, pergunte pra qualquer jurista. Todo mundo está aí, livre pra matar, roubar e fumar maconha o quanto quiser, não há como impedir. É aquele nosso amigo, o Livre Arbítrio. A questão é de saber quais atitudes vão contra o bem o comum e devem portanto ser castigadas de maneira a desencorajar os perpetradores potenciais. Existem coisas que podem ser evitadas assim, simplesmente. Matar, por exemplo. A gente estabelece na lei: matar é uma atitude desagradável que deve ser evitada em sociedade. O Zémané que for pêgo matando a gente vai trancar num quartinho mal decorado pro resto da vida!Bom, a menos que ele prove que foi em legítima defesa. Isso é suficiente pra evitar a maioria dos assassinatos (já que todo mundo tem vontade de matar alguém pelo menos uma vez por semana… ou sou sò eu?). O fato de baixar uma lei contra uma certa atitude serve pra botá-la no universo das coisas ilegais, no qual a gente vai pensar duas vezes antes de entrar. Afinal, esse universo é povoado de gente pouco frequentável que, como já estão na esfera do ilegal, gozam de um livre arbítrio sem fronteiras (até serem pêgos, claro… a partir desse momento, eles sâo privados de toda liberdade, teòricamente). A interdição do aborto força uma multidão de jovenzinhas despreparadas a penetrar nessa esfera e arriscar a saúde e a vida nessa empreitada. Desnecessário. Acho isso muito mais nocivo à sociedade que a descontinuação da gravidez em si. Bebês indesejados, mães solteiras, crianças abandonadas, abortos clandestinos, são coisas que deveriam e poderiam ser evitadas. Mas o brasileiro, atolado nas suas crenças como ele é, acha que é uma boa idéia impor à totalidade da população uma lei com consequências assim pesadas em nome de uma possibilidade mística fumacenta (no caso, a alma do camarâo).

Eu penso que o que difere a democracia da ditadura é justamente o centro da questâo aqui: ter o màximo de liberdade pra escolher o que fazer, ser o mais responsàvel possìvel pelos seus atos. Deixar pro cidadâo decidir o que é melhor pra ele e pra sociedade, e nâo impor comportamentos goela abaixo.

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5 Comments

  1. Tuliô, meu amigô, antes de te responder qualquer coisa, já vou adiantando: a França fez um mal danado à tua acentuação, esses acentos graves para indicar som aberto (crase não, gente, crase é uma “letra” “a” siamesa), essa troca de til por circunflexo, puts. O primeiro texto eu revisei, mas agora não faço isso mais não. Uma preguiiiiiiça….

    🙂

  2. Bruno Costa

    Yuri, meu velho, um esclarecimento: crase não é “letra”, e muito menos siamesa (pois marca a contração de um artigo definido e uma preposição, classes de palavras totalmente diferentes. Crase é o nome que se dá ao fenômeno dessa fusão. Mesmo chamar o acento grave de crase, por extensão de sentido, está errado. Algumas pessoas dizem que só o húngaro é mais difícil que o português: é o que nos consola, meu caro.

    Sérvio, mon vieux, eu temia muito que isso acontecesse, mas é perfeitamente natural para alguém que está há anos no estrangeiro. Tenho um livro inclusive que arrola inúmeros erros de português do Machado de Assis, sim!, ele errava, e como, até nos manuscritos!

    beijos pacíficos a todos

  3. Pô, Bruno, tá querendo ensinar macaco a comer banana? E agora a gente vai desviar e discutir o que é crase? Pelo amor de Deus… (Tá, o Monteiro Lobato discutia essas coisas por carta, mas ele não tinha sequer 26 anos nessa época. E nós já estamos “no meio do caminho” das nossas vidas.) Eu tô cansado de saber que crase é essa contração, mas eu conheço um mooonte de gente que acha que crase é o nome do acento grave. Só usei o termo “letra” – artigos e preposições são grafados por meio de…? isso, de letras – e “siamesas” – siamês aqui é um metáfora para…? isso, pra contração – enfim, só usei pra resumir a questão. (Aliás, “letra” e “a” estão entre aspas lá em cima.) Cruzes, ce tá precisando ler a “aula” do Bernardo Soares (Fernando Pessoa) sobre como os escritores que dominam a língua podem perverter – em benefício da expressão – a gramática…

    E eu nem tive tempo ainda de ler este post. Perdão, Sérvio, meu bróder!
    _____

    Atualizando: Li. E há tanta merda no seu post que, pelo jeito, passarei mais uma semana refutando-o — se é que isso vale a pena. E, aliás, já discutimos tanto sobre isso por aqui que, a meu ver, e sabendo que você já conhece minha posição, esse texto parece mais é uma provocação. Sinceramente? Cansei de falar com as paredes…

  4. Bruno Costa

    Não quis ensinar nada, apenas esclarecer, Yuri velho de guerra. Quanto barulho por nada, e quem começou com a história dos acentos, hein, seu patusco ranheta ;)? Você tem razão, nos desviamos do assunto, mas não foi proposital.
    ………………………………………………………………………………………………..
    Eu me posiciono assim, sobre o aborto: é preferível ouvir antes as mulheres. Podemos, homens, opinar, argumentar; no final das contas, só elas podem decidir. Por isso, não me posicionei antes (sou a favor em alguns casos). Acredito que a alma se forma ao longo da vida, não acredito que uma alma seja “endereçada” ao feto. Tudo bem, implica num conceito demasiado ‘funcional’ da alma, a alma não existe fora do corpo, no máximo uma reverberaçãozinha. Eu acredito nisso, não acho que seja mais ou menos despropositado do que acreditar no Livro de Urântia (brincadeirinha). Francamente, acho que feto não tem alma, que Deus me perdoe se eu estiver errado.

  5. tulio

    jovens amigos, quanto aos acentos, vou confessar pra vcs: com preguiça de verificar na internet quais combinaçôes acrobàticas de teclas eu devo utilizar pra descobrir como fazer a p… do acento agudo no teclado francês, e com mais preguiça ainda de bater AltCtrl 2 pra obter o til, eu prefiro achar substitutos bem à mâo… deixem o velhinho irascìvel q vos fala em paz, eu jà tenho que fazer esforços sobrehumanos pra bater o “e” d “de” e o “ue” de “que”!

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