Em janeiro, fiz um trabalho para o Governo. Não, uma macumba não. Escrevi um texto de 180 páginas para um processo de discussão. Evidentemente, como seria de se esperar, ainda não vi um centavo do merecido pagamento e sei que mais alguns meses se passarão antes que eu receba qualquer coisa. Sem contar a possibilidade real de não receber nada, em se tratando de ano eleitoral e de muitas mudanças nos cargos de comando que acontecerão doravante. Há alguma probabilidade de que um neo-poderoso olhe com escárnio para os valores e o propósito e engavete meu processo. Mais ainda, para receber preciso provindeciar nada menos que 15 documentos, entre eles seis certidões diferentes, o que me tem consumido boa fatia de tempo há algumas semanas. Tudo isso para, no final, o Palocci ainda ficar com um quinto do que ganhei.

Muito bem. Domingão passado, 11 horas da manhã, indo visitar a vovó da Juliana, no meio do nada com o lugar nenhum, nenhum carro à vista num raio de 850 km, avançei um inocente sinal vermelho. Escondido do outro lado da esquina, um corno filho-da-puta fardado com os 8 anos de estudo que Deus lhe deu, me apontou o dedo e um sorriso disfarçado.

“O sinal ainda vai demorar mais 10 segundos pra abrir”.

“Não é tão grave, vai? Domingo de manhã, não tem nenhum carro na rua?”

Faz cara de indignado:”Nãó é grave?! É gravíssimo pelo Código de Trânsito! Documentos.”

Ele vai, faz a ciranda de praxe lá atrás, calculando quando poderia me extorquir de propina. Volta:

“O senhor tem algum ponto na carteira?”

“Não senhor”

“Rárá, acaba de levar sete.” (Não estou brincando, ele de fato riu da minha cara).

“O senhor bem podia relevar, não? É domingo de manhã.”

Cara de indignado novamente: “É quando acontecem os acidentes mais graves”.

Ora, ora. Qual não foi minha surpresa quando, depois dessa lição de moral e tratamento de primeira classe, ontem, pouco mais de 72 horas após a infração, recebo a notificação pelo correio. E pasmem: fui multado pela Polícia Militar, braço do Governo Estadual, enquanto a notificação, por se tratar de infração de trânsito, é emitida e a multa cobrada pela Prefeitura. Que agilidade, não?

Queria que para me pagar o Estado tivesse a mesma agilidade. Eu ando cada vez com mais vontade de ir embora do Brasil. É melancólico.