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Borges sobre o Barraco

Sigo em minha grande cruzada contra o barraquismo deste blog e em dia de escritores argentinos. De Jorge Luís Borges:

“… la idea de que alguien gane en una discusión es un error, porque, qué importa; si se llega a descubrir una verdad, poco importa que salga de “a”, de “b”, de “c”, de “d” o de “e”. Lo importante es llegar a esa verdad o es indagar esa posible verdad. Pero, en general, se ve a la conversación como una polémica, ¿no?; es decir, se entiende que una persona pierde y otra gana, lo cual es un modo de estorbar la verdad o de hacerla imposible. Esa mera vanidad personal de tener razón; por qué tener razón. Lo importante es llegar a la razón, y si alguien puede ayudarnos mejor.”

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3 Comments

  1. Sabe aquele ditado popular, o “quando um não quer, dois não brigam”? Acho que se pode dizer também: “quando o assunto não é unívoco, dois não debatem”. Não adianta uma discussão quando dois querem debater sobre dois objetos diferentes ao mesmo tempo. Porque quando há humildade e unidade de conceitos, isto é, quando realmente estão falando da mesma coisa, e não de duas miragens dum suposto objeto único, não há como virar barraco. Só que a gente não tem paciência, a gente é imatura, afinal, 80% do tempo de qualquer discussão, hoje em dia, precisa ser dedicado ao esclarecimento de conceitos. Vivemos mesmo a Era do Caos, a Era dos Solipsistas. Cada um no seu mundinho, cada qual dando um significado pessoal à palavra comum. Por isso acho que não dá pra colocar aqui no podcast aquele “Cueca Apertada” que gravamos. As pessoas morreriam de tédio, os mais esclarecidos, de compaixão. É possível nos reunirmos todos para gravar outro programa daquele? É. Com o Daniel, o Juliano e tudo mais. Mas precisaríamos dum bom banho socrático antes, não dá pra começar dos círculos de consciência mais amplos sem entrar primeiro através do buraquinho aberto pelo soldado grego. Daí minha conclusão: ou falamos sobre casos muito específicos – isto é, objetos artísticos definidos, fatos políticos, sociais, etc. do cotidiano – enfim, sobre amenidades, ou não chegaremos a lugar algum. Os caras do Instituto Millenium, por exemplo, poderiam gravar um excelente podcast. Porque a “causa final” de suas discussões seria a mesma. Mas e quanto a nós? O que nos une? Apenas a amizade, nossas visões de mundo são muito distintas. O Paulo anda animado com essa coisa de grupo de discussão porque tem se aproximado de idéias e ideais que me são caros há muito tempo. Nossos papos não têm necessitado de grandes paradas para definições de conceitos e pentelhações do gênero. Nossa conversa tem sido mais fluida e, pelo jeito, ele deve estar achando que isso pode se generalizar entre nós, coisa de que duvido. Claro que o choque honesto entre visões de mundo distintas é muito mais enriquecedor. Mas, sempre que tentamos algo assim, sinto que não passamos de meninos de trinta e poucos anos de idade. É como se até hoje não conhecêssemos os limites de nossos egos. A certa altura, sempre deixamos de lado a tentativa de atingir uma unidade conceitual – sem a qual todo debate é inútil – e partimos pro confronto. Mas a gente ainda vai aprender. Um dia a gente chega lá. É como jogar capoeira. No começo, a gente tenta entrar na roda, mas não consegue. De fato, só é mesmo possível jogar com o mestre – que por ser mestre sabe jogar com novatos sem lhes quebrar a cabeça involuntariamente – ou com outro novato com o mesmo grau de incompetência…
    {}’s

  2. Brother, eu concordo no geral e discordo no específico de você. Não acho que precise haver unidade de conceitos, precisa haver interesse e abertura genuínos. Nada mais. Eu e o Paulo discordamos em um punhado de coisas, mas nós conversamos muito civilizadamente e acabamos concordando em um monte de coisas. Porque eu não estou mais interessado em ganhar uma discussão dele, nem ele de mim, mas em tentar chegar à verdade, ou questioná-la, como diz o Borges. Eu acho que é possível, eu você e ele sentarmos e termos uma discussão honesta e rica. Identificar onde realmente estão nossos pontos de discordância insolúveis e onde estão os de consenso. Isso só é impossível se realmente houver alguém que quer ganhar a discussão, como havia naquele dia na sua casa. Algumas pessoas vivem da discordância. É isso que as alimenta…Aí, não tem jeito. Vira barraco. Abs.

  3. Parece piada, Pedro. Vc não pode estar falando sério. Concorda com tudo menos que seja necessária uma unidade de conceitos? Ora, “unidade de conceitos” significa simplesmente que cada um deve perceber, em cada palavra, o mesmo significado que seu interlocutor percebe. Não adianta nada eu falar “preto” e você entender “branco”. Onde chegaremos com isso? Tem de haver essa unidade sim. Do contrário, simplesmente não há comunicação real, ao menos não no nível humano. Tudo bem, cada qual pode pensar o que quiser do mundo, da vida, do escambau. Mas se as palavras não possuírem os mesmos significados, fodeu, jamais alguém entenderá a visão de mundo alheia. Qualquer debate feito dessa forma seria, como diria minha avó, um encontro entre cães a cheirar um o cu do outro. Quando o cheiro lhes parecesse agradável, chamariam isso de “concordância”. Isso poderia até ser agradável ao discutir com a Jamila, por exemplo, que é uma gata. Mas não estou afim de passar uma tarde cheirando cu de machos.
    Abração!

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