“Embora vista como desgraçada insossa, a estupidez ainda grassa na paisagem”
    (lavra pessoal)

Impressionante! Embora habite um tronco oco no meio da floresta, nunca deixo de receber notícias frescas do que se passa no Orbe. Incrível! E, claro, isso tudo me leva a fazer a única coisa que os médicos ainda não proibiram, isto é: raciocinar. E como não fazê-lo vendo coisas tão exóticas existindo ao redor, hein?

Sucessivamente vejo coisas assim acontecer: em Lisboa, um gêmeo português tenta o suicídio e acaba matando o irmão por engano. Do outro lado do mundo, uma família inteira de — supostos idiotas — turcos anda de quatro o tempo todo enquanto que aqui, uma deputada erecta — e confirmadamente idiota — metida a saltatriz maluca, dança, comemorando a impunidade que rola solta.

Está aí o motivo para grandes lucubrações. No mesmo instante que pretendo iniciá-las, uma amiga cancela seu sagrado uisquezinho vespertino porque iria doar sangue no dia seguinte. Meu Deus! Todos enlouqueceram, menos o pequeno Toledo, é claro, que agora inicia o deambulatório filosófico das quintas lembrando-lhes que, bem antes dos ufanismos do astronauta brasileiro subir ao espaço, eu já estava com o saco na Lua.

Bem, mas voltando a assuntos mais tênues, como se sabe, Bruce Lee não morreu de brucelose. Apesar da conduta digna de cangurus, o bípede em questão parece ter distribuído porradas até se exaurir, o que o levou a contrariar as normas da vida silvestre habitual, porém, jamais deixando de embolsar fortunas.

Ciosa de sua boçalidade e portadora de tantas anomalias, a Humanidade parece esquecer-se dos detalhes impressionantes e aspectos serenos da existência, entregando-se com afinco à doentia diversão de assisti-lo pela TV, o que, aliás, sempre me pareceu coerente com o raciocínio de Jan Tzetzes, o sábio bizantino do século XII para quem a cabeça do Homem era a mais perfeita embalagem para se acondicionar tamanhas quantidades de merda.

Dito isto em perfeita sincronia com a ética tolediana e revendo a recente condenação à morte do esquizóide jamaicano, voltam a ocorrer-me as teorias eugênicas de Sir Francis Galton e, completamente aturdido com as descobertas noturnas, caio de joelhos e me entrego de todo às meditações que, afinal, levam-me diretamente ao pasmo de recordar que há pouco, astrônomos britânicos, histéricos como a maioria dos mestres de Cambridge e ainda sensibilizados com a morte prematura de Barbosa Lima Sobrinho, anunciaram ao mundo que o universo comemorava 14 bilhões de anos. Maravilha!

Contudo, dias atrás e em conversa com a Gringa, descobrimos que isso não passava de balela. Sim, munidos de reles binóculos de teatro observamos o céu noturno e, madrugada adentro, desvendamos o embuste, ponderando que o Cosmo não teria mais que 12 bilhões e meio de anos o que, hão de convir, é muito mais coerente, já que o bilhão e meio adicionados erroneamente deveriam ser abatidos por conta do resguardo cósmico pela ressaca que atingiu o bestunto dos deuses ao criá-lo.

Falando deles, deixando de lado minhas abstrações cosmológicas e retornando ao banal assunto terrestre, lembro o gentil leitor que ainda se comemoram 4 séculos do sumiço de Giordano Bruno, o erudito predicador italiano que olhou para cima, desvendou a aparente infinitude do universo, contrariou um punhado de parvoíces dogmáticas e, confirmando Copérnico, afirmou — preto no branco — que a terra girava em torno do Sol o que, é claro, embaraçava a turba ignara que rodava ao contrário. Tamanha obstinação fê-lo arder nas fogueiras da Inquisição, porém, sereno, manteve a palavra e virou carvão com dignidade, mas tendo sempre em mente que heliocentrismo nada teria a ver com o Dr. Hélio daqui.

Por conseguinte, aprendemos com seu gesto a não dizer coisas certas em lugares errados e genialidades momentâneas em horários impróprios, ainda porquê, insalubre, pode mesmo ser devastador à saúde.

Pensando nisso e teimando acrescentar um gladiador-pizzaiolo à estória da execução daquele sábio tão brutalmente agredido pela estupidez de seu tempo, concluo ser inútil remissões posteriores e desculpas inoportunas.

Assim e sob total prestidigitação, substituo prodígios siderais por proctologias mentais, onde o Buraco Negro do Bruce Lee oculte plenamente a Realidade insidiosa, tornando lendas juvenis como a do “ou dá ou desce” muito mais assimiláveis que o masoquismo social contemporâneo, cuja moral democrática, parece mesmo ser a de um simples “Rouba aí que eu vou votando aqui”.

Bom dia.