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Quem fala o que quer…

Não sei até que ponto podemos dar um nó na semântica para escapar pela tangente. Sei apenas que a linguagem é um elemento vivo e entre o pensar e o expressar vai uma boa distância. Isso sem falar nos problemas de compreensão. Todavia, acho difícil alguém errar ao interpretar os textos do Reinaldo Azevedo como críticos ao governo – e, em boa parte deles, ele tem razão. Só que parece que o Tio Rei exagerou na dose e, apesar de todo seu cuidado moral, igualou os não-iguais.

Ele fez um balaio de gatos da questão dos cartões corporativos e o tiro lhe saiu pela culatra. Está lá um post de um funcionário de carreira do IBGE contestanto as ilações – e ele realmente fez estas ilações, só não foi saber se o dono do cartão era um indicado qualquer do lulismo, ou um sério funcionário público. E Tio Rei acusou o golpe, publicando, primeiro, o e-mail do funcionário (o meio mais correto de se evitar uma ação criminal por crimes contra a honra); mas se recusando a fazer uma retratação, porém, ao mesmo tempo, fazendo, ou seja, escreveu um post dizendo que não teria dito nada disso e que estava acusando o IBGE – como se, no caso dos cartões corporativos, a instituição não se confundisse com o funcionário (afinal este é exatamente o problema). Pois é, quem fala o que quer…

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4 Comments

  1. bruno costa

    Acho que não é bem assim não… A frase do Tio Rei: “Também em Minas, temos Júlio C. Cotta. Total do cartão: R$ 30.640,00. Total de saque na boca do caixa: R$ 30.640,00.” Contexto do post: evidentes disfunções na maneira como os cartões e os gastos foram distribuídos e (não)discriminados, o que pode ser verificado no Transparência. Muito bem: houve então, de fato, uma “contaminação”?

    O que ninguém questionou: não deveria estar discriminado os gastos relativos a cada um desses saques, que totalizaram mais de 30 mil reais, no portal? É óbvio que deveriam, e o espaço de tempo no qual foram gastos também. Temos de pedir a documentação a cada um para verificar? Então, é melhor economizar o $ gasto nesse Transparência.

    Não creio que o Reinaldo ofendeu o sujeito, não. No máximo, o exortou a justificar o gasto, o que ele, como eu (que pago impostos altíssimos) tem todo o direito. O fato de ele figurar em uma notícia que questiona a probidade do IBGE não significa necessariamente que a integridade dele foi atingida. Não houve nenhum julgamento explícito no dado fornecido, dado que não foi desmentido nem pelo interessado. Daniel, se um “acusou” sem provas, você não teria “inocentado” igualmente sem provas? Houve malversação? Como saber sem a lista completa de todos os gastos que ele efetuou? Impossível. Nem inocente, nem culpado. Agora, sem dúvida, seria obrigação do Reinaldo, por um lado, publicar cada um desses gastos, e do sr. Cotta, de outro, fornecê-los. Transparência não é isso?

  2. Você pode estar certo e eu posso estar implicando com o Tio Rei, mas deixa eu copiar o contexto do post.

    Por que essa conta per capita? Sei lá. Suponho que sejam emergências para fazer frente a despesas com pesquisas e levantamento de dados, né? Ah, sei: a “geografia” também conta nas “estatísticas”. Vai ver o Amazonas e seus igarapés demandam mais gastos com cartão corporativo…

    A falta de regras do IBGE parece ser a regra. Vejam lá: no Rio Grande do Sul, com uma população de 10.527.682 habitantes, há um único funcionário do instituto, Eron Barela, com direito ao cartão. Dos 37.770, 23 que ele gastou, R$ 11.900 foram saques na boca do caixa. Já em Minas, com 18.865.785 habitantes, há nada menos de 146 funcionários com essa prerrogativa. Escolhi um nome ao caso: Iron F. Ferreira, que responde por R$ 40.820,00. Parece brincadeira, mas há o comprovante de origem de apenas duas operações: em 5 de março de 2007 e 9 de abril: gastou num posto da rede Ipiranga, respectivamente, R$ 94,45 e R$ 25,55. Não dá para ter a menor idéia do que ele fez com R$ 40.700 em dinheiro vivo. Também em Minas, temos Júlio C. Cotta. Total do cartão: R$ 30.640,00. Total de saque na boca do caixa: R$ 30.640,00.

    Se você ler o primeiro parágrafo – pelo menos foi assim que eu li – há um tom irônico, quase debochado. Algo como “vocês acreditam mesmo que está tudo certo, meninos?”. Mas isso nunca é dito completamente. Acho que o servidor lá de Minas reagiu ao tom e não especificamente ao que foi dito (embora este tom cínico também tenha sido tido, não é?). No contexto em que o nome foi citado, há um quê de sacanagem e não de inocência. Como você diz, nada há de explícito mas subentendido. To escolado nisso, é assim que eu discuto com o Yuri e ele comigo. É o tal do subtexto.

    Por fim, pode muito bem ser que o senhor Cota seja culpado, mas que foi um chute do Tio Rei, isso foi. E eu sinceramente não acho que ele estava mirando no Cota e sim nas cotas…

  3. “É claro que, como os demais brasileiros, estou preocupado com a gastança federal em cartões de crédito. Mas acusar só por esse delito os autores do maior concurso de crimes já observado na América Latina é como punir um serial killer por infração de trânsito.”

    http://www.olavodecarvalho.org/semana/080207jb.html (“A reprodução dos textos é permitida e gratuita, desde que citada a fonte.”)

  4. bruno costa

    É verdade, ele chutou, mas a bola só conclui a trajetória quando tivermos a discriminação desses gastos, pode bater feio na trave, pode estufar a rede. O sr. Cotta poderia muito bem ter enviado logo a relação dos gastos, já que é tão ilibado, assim ficaríamos cientes que ao menos um usuário desses cartões corporativos, comprovadamente, não malversou o dinheiro de quem paga imposto. Torço para que o sr. Cotta seja honesto, e o Tio Rei se retrate publicamente. Só não acredito nisso. 30 mil reais sacados da boca do caixa e que dependem de recibos e notas fiscais para a sua comprovação? Pode até ser…

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