Ah, sim, agora entendi. De fato eu me lembrava de que a Viacom havia feito elogios ao You Tube meses atrás. Daí eu não conseguir entender esse processo de 1 bilhão de dólares, já que a partilha da publicidade entre os produtores e o site nunca passou duma questão técnica a ser viabilizada. Mas é que agora há o anti-pirata Joost, supostamente muito mais apropriado às grandes empresas! Mmmmmm. E os caras já pretendem iniciar enfraquecendo o concorrente… Neguinho é foda!
Autor: yuri vieira Page 22 of 107
Michel de Montaigne, homem público em Bordéus:
(…) Quem não me quiser ser devedor da ordem e da doce tranqüilidade que acompanharam minha gestão, pelo menos não me poderá negar a parte que nelas me cabe por temperamento. Por natureza tanto amo a felicidade quanto a sabedoria, e prefiro dever meus êxitos à graça de Deus a devê-los à intromissão de minha vontade. Já disse bastante de minha incapacidade para os negócios públicos; há pior porém: essa incapacidade não me desagrada e não procuro curar-me dela. Tampouco me satisfiz a mim mesmo com o desempenho desse cargo, porém cheguei mais ou menos ao que me propusera, tendo ido mesmo além do que prometera; pois em geral prometo menos do que posso e espero cumprir. Tenho para mim que não deixei nem ofensas nem ódios; quanto a deixar saudades, foi coisa a que não aspirei demasiado. (…)
Ensaios, Livro III, Cap. 10: Do controle da vontade.
Morra de vergonha, Lula.
O Estadão é muito carinhoso com o Hugo Chávez…
Uma certa treta interna devida a uma “b-word”, me lembrou do caso ocorrido este mês, nos EUA, referente a uma “n-word”: a turma do South Park andou sacaneando com o termo nigger. Num programa de TV a là Sílvio Santos, o pai do Stan, para vencer o jogo, acaba dizendo em rede nacional a famigerada palavra tabu. Daí em diante, ele passa a sofrer um enorme preconceito por parte de toda a sociedade, sendo tratado tal qual, em filmes do tipo Mississipi em Chamas, vemos os negros sendo tratados: “ih, lá vem o nigger guy…”
Via Olavo:
(…) a coerência petista na busca da democracia sexual é ainda mais profunda do que eu poderia ter imaginado.
Se você duvida, faça o seguinte experimento. Dá um pouco de trabalho mas é tremendamente elucidativo. Primeiro, vá ao seu computador e abra a página oficial da Presidência da República. Chegando la, clique no link “Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres”. Vai dar nesta página. Agora clique em “Links”, depois em “Governo Federal e Mulheres”, aí em “Mulheres” e por fim em “Grupo Transas do Corpo”. Pronto: você chegou ao site da loja de produtos eróticos Erosmania. Não tema: o estabelecimento deve ser confiável, já que o link vale como recomendação oficial. O produto em destaque na página chama-se “Anal Slim Jim”. É – quem diria? — um pênis de borracha cor-de-rosa, com vibrador, de uns quinze centímetros de comprimento por dois e meio de largura. Não sei se a esta altura o emprego de instrumento tão útil já se disseminou entre os altos escalões da República, mas imagino que o sr. Presidente da República e seus ministros não seriam levianos ao ponto de pregar uma coisa e fazer outra. Não digo que o empreguem necessariamente em si próprios – isso é uma questão de preferência pessoal na qual não desejo interferir –, mas sempre haverá em torno pessoas amigas interessadas em beneficiar-se da oportunidade democraticamente oferecida a todos, ou todas, pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Em caso de dificuldade no manejo do equipamento, a loja sugere o apelo ao lubrificante “Lubrigel Intimus”. Para maior esclarecimento, os visitantes da página poderão também adquirir ali filmes educativos como “O Estuprador de Coroas” e alguns de interesse médico, como “A Síndrome do Furor Uterino”. (…)
E por falar no making of da Mostra Curtas, quero tocar rapidamente no nome do nosso amigo Eduardo Castro, autor das imagens do dito cujo e diretor do divertidíssimo documentário A Resistência do Vinil. Foi ótimo dirigir o Eduardo. Tudo o que eu tinha a fazer era interromper a conversa que ele estava tendo com alguém, em geral comigo mesmo, e lhe pedir para gravar. O resto era praticamente automático. Daí o apelido “piloto automático” e tal. 🙂 Aliás, logo logo o cara vai arrebentar com um documentário bomba que está montando – com dez anos de imagens e entrevistas gravadas (em VHS, miniDV e HDV) – sobre a Guerrilha do Araguaia.
Segue abaixo A Resistência do Vinil, em duas partes de 10 minutos cada. (Tem um bobo lá dizendo que o capitalismo é culpado pelo “fim” do vinil. O problema é que ele adquire seus discos velhos em lojas/sebos, isto é, no mercado. Cada um…)
Segunda parte:
Eis o making of, que dirigi, da 6a. Goiânia Mostra Curtas, mais conhecido entre nós como “Onde está o Paulo Paiva?”, hehehe.
Vale lembrar que a cena onde Paulo César Peréio aparece com o dedo em riste foi excluída por motivos bastante claros – bastante claros para quem viu em que trecho tal cena aparecia…
Gosto muito da entrevista com o Juliano Moraes, durante os créditos finais. 🙂
Mais detalhes, logo abaixo do vídeo.
Making of da sexta edição da Goiânia Mostra Curtas – que inclui a 5.a Mostrinha (infantil) e a Mostra Cinema nos Bairros (exibições ao ar livre) – ocorrida entre 10 e 15 de Outubro de 2006, sob coordenação de Maria Abdala (ICUMAM). O tema da mostra foi o cinema experimental, tendo contado com as presenças de Edgar Navarro, Joel Pizzini, Jomard Muniz de Britto, Christian Saghaard e José Eduardo Belmonte. Estes dois últimos, juntamente com o compositor André Abujamra, foram os responsáveis pelas oficinas de Cinema Experimental, Direção Cinematográfica e Música para cinema, respectivamente. Dos 590 curtas-metragens inscritos, 127 foram selecionados e distribuídos em 5 mostras competitivas. Além destes, foram exibidos 19 filmes convidados dentro da mostra Cinema Experimental. A direção do making of e as entrevistas são de Yuri Vieira, com imagens de Eduardo Castro, produção de Paulo Paiva e Cássia Queiroz, e edição de Aline Nóbrega, pela Cora Filmes. A produção executiva é de Pedro Novaes.
Um poema de Alberto Cortez (no vídeo, a primeira voz) e Facundo Cabral (a segunda voz), dois argentinos que deveriam deixar envergonhados todos aqueles que, ao falar da Argentina, só se lembram de Che Guevara e Maradona, esses amantes de Castro. Aliás, o Facundo Cabral, a quem ouço desde 1989, e que é uma espécie de Bob Dylan da América do Sul, aceitou gravar um podcast comigo, hehe. (Algo me diz que só o Ronaldo vai curtir o poeminha…)
O Digestivo Cultural vem publicando uma série de artigos sobre Paulo Francis, que morreu a 4 de Fevereiro de 1997. (A Hilda Hilst morreu a 4 de Fevereiro de 2004.) Eu o admirava muito, li um de seus livros e acompanhei por anos suas colunas. Sua presença no Manhattan Connection era impagável. Mas eu só quero mesmo ressaltar estes dois trechos extraídos de textos dele:
“Tudo menos o Lula. Se um dia ele virar presidente vai haver uma guerra civil. O PT é o maior atraso de vida que já houve na política. Durante anos fiz vista grossa às implausibilidades e desconversas da esquerda. A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem.”
“Para encontrarmos rivais e superiores a Machado [de Assis] temos que ler os russos, alguns franceses e ingleses, estes do século 19 e Proust. É isso aí. Mas o mistério supremo, que Susan e Victor desconhecem, é como o autor do soporífero Helena escreveu Dom Casmurro e Memórias Póstumas. Se há alguma biografia crítica que explique, desconheço. Claro, se Machado fosse americano, sairia uma biografia “definitiva” sobre ele por ano, milhares de ensaios de todos os tipos. Imaginem, um mulato, casado com uma branca, que se fingia de branco, que ‘brownosed’ alguém para ser funcionário público. Tenho até a quase certeza de que o veredito seria contra ele, pelas modas bocós da época do asno, que é como chamarei o advento de Lula. Afinal, Machado rejeitou sua cor e tinha 50 anos, diz Susan, quando foi proclamada a emancipação. Seu Machado, onde está o orgulho negro, o poder negro? É facílimo compará-lo a Flaubert ou a Turguenev (melhor do que). E ninguém mais europeizado do que Machado, sua obra é uma recusa só do que seria chamado Terceiro Mundo e suas tolices e pretensões. E, no entanto, é o nosso maior escritor com exceção de Euclides da Cunha, que é de primeiro time. E Euclides era também modernizador. Falando nisso, a bichinha, aquela, Almodóvar, disse que Gabriel García Márquez não é cinemático. Nunca tinha pensado nisso e agora que penso, concordo. Machado também não é, acho como Proust.”
Eu sempre dou muita risada ao ver o Erik Cartman, o gordinho do South Park, xingando alguém de hippie. (Isso sempre me lembra uma ex-namorada que, ao passear por feiras de artesanato, costumava reclamar: “ai, que cheiro de hippie”.) O que eu nunca imaginei é que alguém chegaria um dia a me chamar – sim, a mim, limpinho e cheiroso – de “hippie reacionário”. Pois é, isso rolou.
Como roteirista, fui apresentado a uma figura que pretende dirigir uma adaptação livre para cinema do Fausto, de Goethe. Conversamos por algum tempo sobre o livro e, ao tratarmos do final, ela me deixou claro que não quer nada semelhante a uma “redenção” do protagonista, que o cara tem é de se foder de modo absoluto, como na “vida real”. “Então não é Fausto”, eu disse. E ela me respondeu que, “como marxista”, não acredita nessas bobagens tipo “redenção”, “culpa cristã”, “alma imortal”, “pecado” e coisas do gênero. Eu ri, claro. E discordei. Pra quê… Iniciou-se um daqueles debates infrutíferos, nos quais falamos com as paredes. (Imagino que isso tem a ver com a mania dos dirigentes marxistas de acabar com as discussões no paredão.) Coletivo pra lá, indivíduo pra cá, eternidade pra cá, História pra lá e assim por diante. Eu a compreendia, juro, mas a recíproca não parecia verdadeira – ela estava indignada! A figura, para completar, ainda é professora voluntária de literatura num acampamento do MST, onde, apesar da eterna desconfiança que os sem-terra mantêm para com pessoas de fora do movimento, e a despeito das “origens burguesas” dela, esforçam-se por aceitá-la. E ela entoava isso como se o fato de ter nascido numa família classe-média fosse… um pecado! Ficou muito claro que, em meio deles, ela se vê tão deslocada quanto uma menina pobre entre as patricinhas de Beverly Hills. E, tal como essa hipotética menina, “sabe” que a culpa dessa, digamos, ausência de comunhão é apenas dela, uma mera aprendiz de revolucionária que se põe feliz como um cachorrinho cada vez que um camponês (isto é, um pobre! um proletário! um membro real do povo!) lhe dá atenção. Mas o mais incrível mesmo era vê-la defender aquela gente que, em vista de seu próprio depoimento, jamais colocaria a mão no fogo por uma “burguesa”. Afinal, ela faz parte da classe injusta e eles, da classe dos justos, uma turma que, antes das sete da manhã, se reune para berrar slogans revolucionários e dar gritos de guerra. (Segundo o documentário do João Salles, até o Lula ficou amedrontado ao presenciar isso.)
Conversa vai, conversa vem, insisti num final com a redenção de Fausto. Ela achava isso “ultrapassado” (!!), como se algo que dependesse da eternidade fosse condicionado pelo tempo. Mas explicar isto era inútil. “Ora”, repliquei, “até o Pulp Fiction do moderníssimo Tarantino, um filme de 1994, tem redenção e, de lá pra cá, ainda não conseguiram, nem mesmo o próprio Tarantino, rodar uma tragicomédia que fosse além desta, tanto em forma quanto em conteúdo”. E passei a descrever o início da conversão de Jules, capanga do Marsellus, que acreditava piamente não ter sido baleado graças a um milagre divino. E entrei, pois, a discorrer sobre fé, demostrando que a redenção de Jules foi comprovada por sua atitude corajosa e ponderada na parte final do filme.
Ela arregalou os olhos: “Yuri, você é um dos caras mais loucos que já conheci!”
“Ah, é? E por quê?”
“Cara, você é um hippie reacionário!!”
“Um hippie reacionário?!”, e desatei a rir. “Como assim?”
“Bom, segundo me disseram, você não tem onde cair morto, tá desempregado, não é mais empresário, vive de bicos “artístico-culturais”, seu pai é aposentado (ou seja, não é rico), você não tem diploma, nem sequer tem dinheiro pra ir ao cinema e tomar um chope… Você é praticamente um hippie, cara! Só que cheio de idéias anti-progressistas, conservadoras, capitalistas, liberais, religiosas, enfim, um autêntico reacionário.”
De fato, diante dela, eu era um escândalo a abalar sua fé marxista. Como era possível existir alguém cujas idéias e princípios não representavam a ideologia de sua suposta classe social? Se ela estivesse em meu lugar, certamente já teria se mudado para um acampamento do MST. Ela me encarava embasbacada. Não conseguia engolir o fato de que, se eu estava na merda financeira, isto se dava simplesmente por incapacidade e incompetência minhas – aliadas, é claro, à rapinagem e corrupção estatais (meu estúdio quebrou por ação da “máfia dos fiscais” de São Paulo) – e não por culpa dos “ianques”, dos “capitalistas exploradores” e dos “banqueiros bandidos”. Já eu não parava de pensar que “hippie reacionário” teria sido um ótimo nome para este blog…