Carol, uma amiga do Rio, me enviou “este surpreendente soneto de Bandeira, com nítida influência de Bocage, que faz parte da coleção de Obras Raras da Biblioteca da Universidade de Brasília. Foi publicado pela primeira vez na revista Bric a Brac, Brasília, 1986″.
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Num certo momento da conversa, Rubem Braga olhou para mim e disse: “Você sabe escrever uma carta de amor?” Hesitei um pouco. Eu nem sou escritor! Pensei em silêncio e respondi: “Olha, já escrevi algumas, mas não sei bem se realmente sei escrever uma boa carta de amor…”
Eu o tinha encontrado por acaso em Ipanema. Foi em 1987. Talvez 1988.
De certa forma foi engraçado. Ele já era uma pessoa de idade. A conversa foi breve. Começou quando eu me apresentei, dizendo que gostava muito de suas crônicas, etc. Mas, como disse, meio assim de repente, ele olhou para a minha acompanhante e veio com essa pergunta da carta de amor para mim. Foi algo inesperado.

Eu e os 4 Mineiros
Há algumas semanas, eu e Juliana, minha mulher, fizemos uma bela viagem pelas Minas Gerais dos quatro amigos. Fui correr a Volta da Pampulha, tradicional prova de corrida de rua em Belo Horizonte, e depois relaxamos por uma par de dias nos mil becos de Ouro Preto, seguindo então para a paisagem espetacular do Caraça.
Hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, o Caraça foi, até a década de 1960, um rigoroso internato católico, tradicional escola das Minas Gerais.
A amizade é, para mim, meio e fim da condição humana. É no seu exercício, exemplo maior da doação ao outro, que nos fundamos como merecedores da designação “humano”. Tudo o mais é anterior, é perdição narcísica. Espero que esse blog conjunto possa ser um humilde, porém eloqüente, exemplo das possibilidades do exercício da amizade. E para falar de amizade, nada melhor que invocar e homenagear os quatro mineiros – Hélio Pellegrino, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Rezende -, grandes provas precisamente de que a amizade é o centro de tudo e de que a doação a ela desvela e liberta o potencial mais bonito das pessoas. Afinal, os quatro eram amigos desde jovens (no caso de Hélio e Fernando, companheiros de jardim de infância), não se cansaram de exercer esse vínculo e de se dedicar a ele – inclusive em textos belíssimos – e o resultado foram quatro dos maiores talentos literários e intelectuais do século passado em nosso país.
Do resto eu falo outra hora.
De lo restante hablaré después….
Em 1997, um relâmpago de indignação cruzou o céu nublado da vida universitária brasileira. No Rio de Janeiro, Pedro Sette Câmara quase foi linchado (leia aqui) ao divulgar seu artigo onde provava que os politicamente corretos da Semana da Consciência Negra é que se comportavam como racistas. Em São Paulo, Julio Daio Borges publicava seu desabafo-manifesto “A Poli como Ela é“, causando polêmica entre seus colegas e professores e o reconhecimento quase solitário do jornalista Luis Nassif. Quanto a mim, em Brasília, eu finalizava o livro A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau, iniciado em Outubro de 1996, que não foi senão minha vingança literária contra a modorra e a alienação que nos são incutidas pelas universidades (estudei em três delas).
Escreveu Cláudio Humberto, em sua coluna de hoje:
O escritor Ariano Suassuna roubou a cena, na posse do deputado Eduardo Campos (PE), neto de Miguel Arraes, na presidência do PSB. Contou causos e fez uma revelação: sempre votou e continuará votando em Lula.
Isto me lembra o que me disse o Bruno Tolentino, em 1999, lá na casa da Hilda Hilst: “O Suassuna é sobretudo um cangaceiro intelectual…” Acho que o Bruno tem razão. Depois de tudo o que já vimos nessa infinita crise política, só mesmo um bandoleiro da moral para revelar algo assim. Votar no Lula?! Errar duas vezes é o que mesmo? E errar sempre? Que a Compadecida se compadeça dele.
Nossa, que coisa. Estou listado entre os 8.557 poetas brasileiros ainda à solta por aí. (Eu, claro, sou o Yuri V. Santos.) Bem, a lista é fruto duma pesquisa de Leila Míccolis para o Blocos online. Agora só falta o governo adotá-la e começar a nos cobrar impostos por estarmos assim, poetando livremente. (Eu obviamente deveria ser preso, pois enquanto poeta sou uma falcatrua, totalmente 171..)
Cá entre nós – não conte para ninguém – a melhor personagem da Lygia Fagundes Telles é a empregada que ela finge ser quando não está a fim de atender ao telefone. Hilda Hilst já havia me falado a respeito, mas houve um dia em que confirmei a tática:
“A dona Lygia num tá! Acho que foi ver o filho dela…”, diz a escritora, sem me reconhecer, com uma voz das mais engraçadas.
“É o Yuri, Lygia, o amigo da Hilda Hilst…”, e aí a gente percebe a figura engolindo em seco. Instantes de hesitação.
“Seo Yuri, desculpe, eu digo préla que o senhor ligô”, retorna a personagem um tanto quanto sem graça.
“OK, então. Não se esqueça de mandar um beijão para ela, viu?”
Ela desliga. Sorrio: “A fama é mesmo uma gaiola de ouro”, já dizia o cantor argentino Facundo Cabral…