“O destino contra a liberdade, ou o determinismo contra a volição, eis a eterna dualidade da estrutura mental do homem.” (Arthur Koestler, O Iogue e o Comissário.)
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Sábado passado – ainda na cidade de Goiás, durante o FICA – estive presente no aniversário de 70 anos do jornalista Washington Novaes, onde conheci o escritor Zuenir Ventura. Ele acha que devo escrever mais detalhadamente sobre minha experiência com a Hilda Hilst. Isto, claro, não está fora dos meus projetos, mas ainda estou digerindo a idéia. A Casa do Sol deixou profundas marcas na minha pele interior. E muitas pulgas metafísicas também. 🙂
Scott Fitzgerald certamente concordaria que a Internet é, entre outras coisas, o maior fomentador do que ele chamou de “o mais limitado de todos os especialistas, o ‘homem bem informado'”. (Vide O Grande Gatsby.)
“Vivemos num mundo secular. Para adaptar-se a este mundo a criança renuncia ao seu êxtase.” (R.D. Laing)
“L’enfant abdique son extase.” (Mallarmé)
Jorge Luis Borges está numa biblioteca do mundo astral, onde se encontra o acervo (em duplo astral) do que antes foi a biblioteca de Alexandria – destruída pelos muçulmanos em 641DC. Pesquisa os livros que foram lidos, em Alexandria, por Jesus. (Por que não?)
Charles Baudelaire, que escreveu “a modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável”, também escreveu: “a oração é uma das grandes forças da dinâmica intelectual. Há, na oração, uma operação mágica”.
Observando “noveleiros” da minha família e amigos — a própria Hilda Hilst adorava uma novela — percebi que, no fim das contas, para eles novela não é senão um jogo de futebol mais longo e complexo. Mesmo quando a novela vai mal das pernas, quando as reviravoltas e peripécias são inverossímeis, continuam lá, firmes, assistindo e torcendo para uma melhora do enredo. Reclamar reclamam, mas não arredam pé da frente da TV. (Hilda, por exemplo, fazia críticas e comentários impagáveis. Por conta disso cheguei não exatamente a assistir com ela uma novela, mas a assisti-la assistindo uma novela.) Enfim, reclamam, criticam, mas continuam cheios de esperança. Não é este exatamente o comportamento dos torcedores de futebol?
Sempre que revejo “De olhos bem fechados”, do Kubrick, me lembro da primeira vez que, em Brasília, li Arthur Schnitzler. Seus contos são excelentes, sempre indicando a decadência moral através de uma narrativa que mistura realidade e sonho, lucidez e embriaguês, sanidade e loucura. (“De olhos bem fechados” é a adaptação de um de seus livros, TRAUMNOVELLE ou “Romance de Sonho”.) Freud foi amigo e fã desse médico e escritor austríaco, Schnitzler. Quem ainda não o conhece não sabe o que está perdendo.
“Alguma coisa grave aconteceu ou está para acontecer. Os falsos padres são tão numerosos quantos os falsos escritores.” Vintila Horia
É mais do que engraçado o Lula comparar o aprendizado da leitura com uma esteira de fitness. Aqui em casa tem uma esteira dessas. Não existe nada mais entediante. Se eu não abro um livro durante a suadeira, não fico nela mais que cinco minutos. Com um livro, já fiquei até 50 minutos. Pra depois sair, cair na ducha, e logo continuar a leitura. Nessas ocasiões, os melhores livros são os altos e largos, porque não escorregam das nossas mãos. O último que li assim é uma coletânea dos diálogos de Victor Hugo com as “mesas espirituais”, uma moda pré-espírita do século XIX. Nunca vi tanta bobagem junta, nunca vi “entidades” mais cheias de retórica e papo cabuloso. No entanto, não fosse isso, eu preferiria ir andar no parque mais próximo. Só o Lula para aguentar uma esteira sem um livro e ainda compará-los. E não me digam que é meditação. A meditação está noutro plano, tampouco pode ser comparada a um livro.