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Olavo de Carvalho, Hilda Hilst e… o diabo?

Domingo, fiquei uma hora e meia ao telefone com Olavo de Carvalho (viva o SkypeOut!) e, recheada por todo tipo de assunto, tivemos uma boa conversa entremeada por boas risadas. Quando chegamos ao tema “sociedades secretas”, perguntei se ele de fato não ouvira mais nada a respeito do famigerado Livro de Urântia — do qual ele leu, anos atrás, e instigado por mim, apenas um trecho. Ele acha que semelhante leitura é um desses empreendimentos que pode ocupar toda uma vida e, com grande probabilidade, redundar em nada; isso caso o livro se mostre na verdade justamente o contrário do que diz ser, a saber, uma “revelação”. (Olavo, Hilda Hilst e Bruno Tolentino — afora alguns amigos e três ex-namoradas — ainda que eu não os tenha convencido a ler o livro por completo, foram as únicas pessoas que não riram da minha cara ao me ouvir falar dele. Gente fina é outra coisa.) Voltando. A certa altura, disse que me dedico a esse livro porque, entre outras coisas, ele fez parte da minha conversão à fé em Cristo. Replicou Olavo: “Pois é, muita gente chega a Deus e a Cristo por intermédio do diabo…” Tive de rir, o cara é fueda. Só esqueci de acrescentar que, sendo ou não autêntico, creio que esse livro ainda arrebatará o planeta inteiro, não importa se em 10, 100 ou 1000 anos, mais ou menos como faz o Orbis Tertius do conto do Borges. Aliás, acho que só ele pode enfrentar o Corão e os jihadistas. Bem, o Olavo acha que com esses aí só uma boa dose de mísseis, balas e bombas…

Em tempo: antes que algum amigo comum, meu e da Hilda, apareça para me dizer que ela não aprovava o Livro de Urântia, eu sei qual era de fato o caso. Quando lhe mostrei o livro, ela leu todo um “documento” sozinha — salvo engano, a parte que falava do “Monitor residente” — e, mais tarde, lemos outro juntos. Por fim, ela me disse: “Yuri, esse livro é tão louco, tãão louco, tããão louco — e eu sou tão velha, tãão velha, tããão velha — que eu tenho medo de, se continuar a leitura, ficar completamente gagá”. Rimos e, em seguida, ela me disse: “Fulano me disse que esse livro está te deixando pra lá de gling-glang”, e os olhos dela brilharam com aquela mistura de ironia e de admiração que tinha por gente doida. Sim, meu bróder, a fofoca funcionou ao contrário.

Solidão molhada

Se ela entrasse agora, se ela rompesse o silêncio deste quarto e seu riso enchesse a casa com a graça de mil borboletas desgovernadas, não haveria choro esta tarde. O carinho morno, espesso, quase explosivo, que brota do meu peito, encontraria um pouso feliz no frescor dos seus ombros nus. Mas ela mora longe, ela tem de chegar cedo, ela não vai entrar por esta porta e espalhar o brilho das suas mil borboletas. E o meu carinho, já pálido e desamparado, vai escorrer vagaroso, com o suor, e deixar no lençol molhado apenas a marca efêmera de mais uma solidão.

Günter Grass foi da SS

O escritor alemão Günter Grass, 78 – prêmio Nobel de 1999, autor de O Tambor e do chatérrimo A Ratazana – confessou esta semana ter feito parte da Waffen SS nazista. O tribunal da consciência dele deve ter-lhe dado um veredito.
Antes tarde do que nunca.

Sobre o matrimônio

Depois de passar dos trinta, vejo que são tantos os casais amigos já casados ou se preparando para casar que gostaria de sugerir a leitura desses dois documentos urantianos: A instituição do matrimônio e O Matrimônio e a vida familiar.

Talvez eu faça, na próxima “encadernação”, uma comparação do que é dito nesses textos com o que Swedenborg escreveu a respeito.

A internet é uma maravilha

Entre neste site e ouça esse audiobook em flash (com ilustrações e texto) – It’s a wonderful Internet -, que não é senão uma paródia ao filme A felicidade não se compra (It’s a wonderful life), de Frank Capra, na minha opinião, um dos cinco melhores filmes da história do cinema. Bem, o audiobook é apenas engraçado…

Sobre o ato de escrever

Semana passada, recebi um email solicitando dicas sobre a arte de escrever, seja ficção ou não-ficção. Como ainda me considero mais aprendiz que professor, por enquanto vou me abster de dar conselhos próprios. No entanto, sugiro a leitura de alguns artigos do site Writing Information. Nem todos valem a pena, mas alguns são bem razoáveis.

(Bom mesmo é o livro Sobre o Ofício do Escritor, do Schopenhauer.)

O melhor software para roteiristas

Nos últimos anos, andei testando diversos programas para confecção de roteiros de cinema, textos literários e peças de teatro. Passei pelo Movie Magic Screenwriter, Final Draft, Hollywood Screenplay, New Novelist, StoryCraft, StoryView, Dramatica Pro e assim por diante. Alguns têm a função exclusiva de formatar o roteiro de modo profissional – Movie Magic Screenwriter, Final Draft (para mim, o melhor), Hollywood Screenplay – e os demais – New Novelist, StoryCraft, StoryView, Dramatica Pro -, de servir de orientação e guia na criação mesma de argumentos, enredos e personagens. Se você não é um matemático totalmente desprovido de espontaneidade, tentando ser um escritor, não mexa com estes últimos, principalmente com o Dramatica Pro, que é a coisa mais complexa que já vi na vida. Se Shakespeare fosse usar semelhante ferramenta teria escrito não mais que meia dúzia de peças, haja vista o tempo que consumiria perdido em meio às entranhas labirínticas do programa, com o qual – cá entre nós – é possível definir até mesmo o diâmetro do cu do protagonista e o comprimento do dedinho do pé do vilão.

Arte e Moral

Do Fernando Pessoa (1916):

As relações entre a arte e a moral são análogas às entre a arte e a ciência. Não há relação entre a arte e a moral, como a não há entre a arte e a ciência; mas um poema que viola as nossas noções morais impressiona idênticamente o homem são como um poema que viola a nossa noção da verdade.

Um poeta que canta, elogiando, o roubo, não fará com isso um bom poema; nem o fará um poeta moderno a quem lembre cantar o curso do sol á volta da terra, que é uma cousa falsa.

Viola a regra do agrado. Agradará a mais gente um poema que, sobre ser belo, seja moral, que um que, sendo belo, seja imoral. As épocas têm mais de comum as suas ideias morais que as suas imoralidades. Só nas épocas de decadência é que a moralidade deixou de ser um ideal; e, mesmo nessas, reconhece-se o seu valor ideal.

As relações são entre o artista e o moralista, não entre a arte e a moral. Como é improvável que um grande artista, por isso mesmo que é um grande artista, falseie a verdade, é improvável que falseie a moral. Não pertence esse característico aos de um cérebro típico de criador.

O criador de arte para influenciar tem, em geral, como motivo o interesse de influenciar; ao qual falha se cria obra com elementos que tendem a limitar a acção da obra.

A tendência moral é reconhecida pela espécie humana como superior à realidade imoral. O poeta imoral corre portanto, na proporção em que é imoral, o risco de não influenciar os espíritos superiores (quando não da sua época, porventura decadente), das outras épocas pelo menos.

Epígrafe – I

Epígrafe da primeira parte do livro Gravity’s Rainbow, de Thomas Pynchon:

“A Natureza não conhece a extinção; tudo o que conhece é transformação. Todas as coisas que a ciência me ensinou, e continua a me ensinar, fortalecem minha crença na continuidade da nossa existência espiritual após a morte.”

Werner von Braun

A Sílvia morreu

Cada vez que morre um dos cães da Hilda Hilst sinto uma estranha pressão no peito: é como se a Hilda ainda não tivesse terminado de morrer. Agora foi a vez da Sílvia, filha do Zidane, o cachorrão com quem eu “lutava kung fu”. Na foto abaixo, de 1999: a diretora teatral Ana Kfouri, Hilda, eu e a Sílvia, sob a figueira da Casa do Sol.

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