blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: literatura Page 37 of 49

A fuga

“A fuga dos intelectuais para a solidão do ermo é a marca das épocas em que o mundo cai: orbis ruit.”
Jakob Burckhardt

Frustração

“Vejo entrevista em televisão com Gabriel García Márquez e me convenço de que o cinema, no caso do nosso Gabriel, deu uma grande contribuição cultural à humanidade. É simples: recusou dezenas de scripts de Gabriel, que, frustrado, sentou-se e escreveu Cem Anos de Solidão.”
(Paulo Francis)

Chico Xavier e o LSD

Depois de ler uma biografia do Albert Schweitzer, decidi ler a de Chico Xavier, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior. (Atenção: não sou espírita.) A fé e o espírito caritativo do médium estavam dentro do que eu esperava. (O cara era praticamente um santo.) Suas experiências sobrenaturais estavam acima das minhas expectativas. (Sua infância foi muito mais dramática que a do garoto do filme O sexto sentido. Suas experiências psíquicas, puro realismo fantástico. Sua juventude e vida adulta, pura ralação.)

Agora, o que realmente me espantou foi esta informação: “Em outubro de 1958, Chico tomou uma decisão surpreendente: iria experimentar o ácido lisérgico. Perguntou a Emmanuel (nota: seu guia espiritual, desencarnado) se ele poderia fazer a experiência com amigos de Belo Horizonte. O guia se ofereceu para promover a “viagem” “.

No ar

“(…) as idéias estão no ar. A originalidade está em sua configuração, na força com que são agarradas e se lhes dá forma.”
Ernst Jünger

Idem

“Gosto de estar nos lugares, mas ir aos lugares me fere visceralmente. Viagem é, para mim, metáfora de morte.”
Paulo Francis

Coincidência

Eu ainda não havia percebido tal sincronicidade: a Hilda Hilst faleceu exatamente sete anos depois do Paulo Francis, ambos num dia 4 de Fevereiro. Ele em 1997, ela em 2004.

Ontem e hoje

“Na imprensa e nos livros que circulavam em Berlim, Albert Schweitzer notou a mesma disposição para aceitar aquilo que era moralmente inaceitável, como já havia notado nos jornais e livros de Estrasburgo e de Paris; o mesmo senso de fadiga moral e espiritual, aliado ao mesmo otimismo quanto ao futuro.”
O profeta das selvas, de Hermann Hagedorn.
O mais interessante é saber que Schweitzer detectou um futuro sombrio para a Europa não simplesmente antes da Primeira e Segunda Grandes Guerras, mas antes mesmo do final da última década do século XIX. E, caso não fosse trágico, seria engraçado ver como no final do século XX, a imprensa e a intelectualidade brasileiras também apresentavam – e ainda apresentam – o mesmo otimismo babão no messianismo político. A história brasileira, por enquanto, não passa de pura farsa.

Schweitzer e o Estado

Albert Schweitzer deixou a Europa para servir a seus semelhantes na África equatorial. Um dos motivos que o levou a tão radical mudança foi o impedimento que sofreu, da parte do Estado alemão, ao tentar levar adiante seus projetos de serviço social voluntário, afinal, já “havia uma repartição do governo encarregada desses assuntos, e isso era suficiente – muito obrigado. Mesmo quando o orfanato de Estrasburgo foi destruído por um incêndio, a espinha oficial permaneceu rígida. Schweitzer ofereceu abrigo para alguns dos que haviam ficado sem teto, mas nem lhe permitiram terminar a frase com que fazia o convite. O Estado não precisava do auxílio do jovem doutor”.
O profeta das selvas, de Hermann Hagedorn.

Schweitzer

“Aqui e ali, na imprensa, (Schweitzer) notava idéias desumanas apresentadas por homens públicos, e esperava ansiosamente o indignado repúdio do público; mas esperava em vão. Ninguém parecia chocado quando governos e nações propunham e faziam coisas que a geração anterior teria julgado intoleráveis.”
O profeta das selvas, de Hermann Hagedorn.

Esotérico

Alguns amigos andam pensando que me tornei “esotérico” – naquele sentido mais ordinário e vulgar que a palavra adquiriu nas últimas duas décadas – simplesmente porque o personagem de um livro que venho escrevendo é passível de se encaixar nessa definição. Nada mais bobo do que identificar totalmente um autor a um de seus personagens. Se, pronto o livro, alguém ainda insistir no rótulo, só poderei mesmo é dar boas risadas. Como já dizia o Henry Miller, “os últimos a compreender o que vai pela cabeça do escritor são seus velhos amigos”.

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