Foi durante uma conversa em que eu narrava minhas experiências de projeção astral que o Bruno Tolentino me definiu “honestidade intelectual”: nunca dizer que sabe o que não sabe, nem dizer que não sabe o que sabe. E eu lhe disse que aprendi isso com certa “brincadeira do copo”, quando então, em 1995, enganei dois amigos por quase duas horas de conversas com “espíritos”. Desmenti no dia seguinte, mas ainda hoje, sempre que “realmente me afogo”, eles pensam que sou aquele garoto que “finge se afogar”. Não pretendo mais perder meu crédito com ninguém. Aliás, o Waldo Vieira é honestíssimo e discorre acuradamente sobre os vários tipos e níveis de experiências extrafísicas. Acredite, Bruno: essas coisas acontecem.
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Recebi o email de um internauta querendo saber qual é, na minha opinião, o melhor manual para confecção de roteiros. Olha, pra ser sincero, acho grande parte dos “manuais” que rolam por aí inúteis, uma vez que a maioria apenas se limita a listar mil e um termos técnicos e mostrar a diferença entre sinopse, argumento, roteiro cena por cena, decupagem técnica, etc. e tal. Tudo isso se aprende simplesmente escrevendo um roteiro, trabalhando. O melhor a fazer é comprar o roteiro de um filme que se curta – como o Pulp Fiction, que é fácil de encontrar – e lê-lo. Se quiser dicas de como estruturar uma história, como envolver o público, causar pathos, etc. leia então o melhor manual já escrito: A Poética, de Aristóteles. Platão dizia que a realidade é uma “mímese” do mundo das idéias, uma imitação. E a arte seria uma imitação da realidade. Na Poética, Aristóteles mostra como se dá a imitação dos “atos” humanos na epopéia, tragédia, comédia, etc. É uma leitura que vale a pena. Claro, se você já se tocou de que não basta imitar os atos, senão também o interior humano, leia os “roteiros” do melhor “roteirista” que existiu: Shakespeare. Quanto à formatação, resolva o problema adquirindo o Final Draft ou o Movie Magic Screenwriter. E pronto. O resto se resume em não esquecer a regra de ouro – “escreva somente o que pode ser visto e, se necessário, ouvido” – e em não encher o saco do diretor escrevendo literariamente, afinal, um roteiro de cinema é como um roteiro de viagem: é preciso dar espaço para que o verdadeiro viajante – o diretor – possa criar. Se um roteiro fosse literatura, seria literatura minimalista.
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P.S.: Não deixe de ler o post “O melhor software para roteiristas“.
[Ouvindo: Manguetown – Chico Science]
A entrada anterior me fez lembrar de Almada Negreiros, poeta e pintor, amigo e retratista de Fernando Pessoa, que, ao entrar numa livraria, passou a contar quantos livros ainda precisava ler e quantos anos ainda tinha de vida. Sua conclusão: “Meu anos não dão nem pra metade da livraria…”
Um trecho do “Cânone Ocidental” que eu já havia sublinhado e que a Hilda Hilst voltou a ressaltar em caneta verde limão: “Todos vivemos para sempre, por isso haverá tempo para ler todos e tudo, como há em Back to Methuselah [Retorno a Matusalém] de Shaw, umas das fontes básicas de O Imortal“.
Se eu continuar nessa minha dureza acabarei tendo de leiloar no Mercado Livre meu exemplar de “O Cânone Ocidental” (Harold Bloom). O fato de a Hilda Hilst o ter enchido de rabiscos e anotações provavelmente o torna caro aos fetichistas culturais de plantão. 🙂 Sim, também o emprestei ao poeta Bruno Tolentino – que aliás foi colega de Bloom em Essex – quem talvez tenha deixado algumas marquinhas e impressões digitais… “Ah”, já dizia Dostoiévski, “o dinheiro… essa coisa maldita que a mim tanta falta faz…”
Noite passada tive um desses sonhos extremamente nítidos. Num antiquário, eu remexia numa caixa de moedas seculares em busca de uma com a qual me identificasse. Ainda tenho a visão de duas delas com uma nitidez espantosa: uma espanhola do século XVII e uma de prata com a efígie de Lord Alfred Tennyson, a qual escolhi por ter me parecido tão bonita. Mas, de súbito, veio a pergunta: mas por que se eu nunca li Tennyson? E então percebi que estava sonhando. O que veio a seguir entrará provavelmente no meu livro “Eu odeio terráqueos!!”…
Engraçado, foi só eu citar, numa entrada anterior, os livros que ando lendo que já apareceu uma ex-namorada – amiga querida – pedindo que eu lhe devolva um dos referidos. Coisas da Internet…
Outro dia estava ao telefone com um amigo, também escritor – inclusive premiado pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) – quando ele começou a me contar um fato picante que rolou entre ele e uma famosa escritora. De repente ele estacou no que dizia e soltou: “Peraí, Yuri, não vai botar isso no seu blog não que você já tá parecendo a Hebe Camargo da literatura…” Essa foi boa, até hoje dou risada. Mas não vou contar qual Prêmio Nobel da literatura latino-americana é um maconheiro inveterado e nem qual escritor brasileiro – ainda vivo (vivíssimo) – já foi líder de uma sociedade secreta. (Não, não se trata do Paulo Coelho.) Sou bem informado, mas também tenho meus princípios… 😀
No conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges, a fantástica enciclopédia sobre o planeta Tlön consegue mudar a face da Terra. Contudo, não era real, mas sim criada por uma sociedade secreta, bancada por um milionário sob a condição de “não compactuar com o impostor Jesus cristo”. O Livro de Urântia, por sua vez, também é praticamente uma enciclopédia. Quem o escreveu? Ninguém sabe. Mas adivinhe com quem ele compactua…
Estou lendo o livro “Memórias de um suicida”, psicografado por Yvonne A. Pereira e supostamente transmitido pelo escritor luso Camilo Castelo Branco. Coincidentemente faz um ano que o Ale Faljone, editor da revista Simples, enforcou-se em sua casa. (Aliás, na mesma época em que eu, sem saber do que rolava na cabeça do figura, coloquei neste site dois textos sobre suicídio do Dostoiévski.) Nos encontramos várias vezes no estúdio do qual fui sócio, em SP, e almoçamos juntos três ou quatro vezes. O cara era bacana. Pelas descrições do livro, deve estar passando por uns maus bocados. Que ele se abra à Luz.