Um editor faz falta não apenas para nos dar trabalho, mas também para filtrar nossos textos. Se alguém me impedisse de divulgar nesse blog certos artigos, eu não precisaria ter de ler todo dia mil e um emails que abrem buracos em meu corpo emocional. Claro, muitos elogios também, mas como a gente prefere estes, aqueles são sempre mais dolorosos. Um dia aprenderei a ser meu próprio e-ditador. (Aliás, cá entre nós, e-ditador foi o apelido que meu amigo Sálvio Juliano, professor da UFG, me deu quando fui editor de um jornaleco no curso de jornalismo. Chamava-se Naraka Loka.)
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Em Dezembro recebi uma mensagem do Redson, vocalista da mítica banda punk Cólera, na estrada desde 1979. Nos anos 80, cheguei a assistir a uns dois shows dos caras. (Aliás, precisei freqüentar muita rave para parar de pogar.) É até surreal me corresponder com o figura hoje em dia. Ir para um show punk era como sair para escalar um vulcão em erupção, principalmente se se tinha 14 ou 15 anos de idade. Como se diz hoje, no bom sentido, siniiiiiistro. E pensar que o cara curte algumas coisas que escrevo… Bom, hoje em dia não sou anarquista senão intelectualmente. Na minha consciência só mando eu. (Embora o Daniel Christino tenha razão quando diz que eu às vezes absorvo as idéias de quem prova dominar com excelência a língua portuguesa. Resquícios de esteticismo. É a vida literata.) Enfim, punk forever.
“The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin’ hands, sayin’ “How do you do?”
They’re really saying ‘I love you’.”
Amigos, estou com um zilhão de emails pra responder. (Ô cara exagerado!) Se vc é uma dessas pessoas que me escreveram – e já está pensando em passar a me ignorar – please, paciência, logo mais meterei a cara no Outlook. Valeu! (E já respondendo às fãs do Friends: “How’re you doing?”)
Meu pai veio se lamentar comigo: a municipalidade – tentáculo estatal – não lhe deu ganho de causa. Dizem que ele invadiu, com uma pequena laje diante da porta de entrada de sua casa, um espaço público. Mentira, as fotos anexadas ao processo provam o contrário. Nunca aquele local foi mais público e bem tratado do que agora: mil e um transeuntes fugindo da chuva se abrigam ali naquele nicho. E o muro não avançou um centímetro sequer. Mas é claro que viver numa cidade sob o julgo do PT é assim mesmo: roubo atrás de roubo. (E o IPTU progressivo vem aí!) O pior é que mais tarde, bem mais tarde, essa corja de politiqueiros e funcionários – cheia de má vontade – ainda vai nos dar o maior dos trabalhos: teremos de contribuir para resgatá-la inteirinha do inferno. (Claro, se a ira não me dominar a ponto de acompanhá-la ao suplício.) Essa gente, quando desencarna, pesa feito chumbo…
Um amigo me escreveu de Florença dizendo que já está cansado de apreciar edifícios velhos e obras de arte. Para ele, o passeio já perdeu a graça, tendo confessado já estar com os sentidos embotados. Após lhe receitar uma rave (tratamento de choque), disse a ele que, se eu fosse embarcar semana que vem pra Europa, iria correndo reler pelo menos a “História da Arte” do Gombrich, o básico dos básicos. Sim, porque sair pelas cidades européias sem saber, por exemplo, a diferença entre o estilo românico e o renascentista fará com que tudo pareça uniforme. Seria semelhante à leitura de Proust por um analfabeto funcional. Ele pode até achar curioso, diferente ou, o mais provável, chato, mas não perceberá o que interessa, as sutilezas. A evolução dos estilos na arte – em particular na arquitetura – é pura expressão da alma de uma civilização. A mera apreciação dos sentidos, sem o apuro do conhecimento, só pode mesmo embotar: “ai, mais um prédio velho!” É, amigo, é duro viajar e, já longe, perceber que se deixou algo importante em casa…
PS.: Principalmente se esse “algo importante” for um cobertor de orelha feminino anti-frio europeu tabajara. Nem tudo é cultura…
Há alguns meses, encontrei um amigo no casamento de uma amiga comum. Ele é antropólogo e estava acompanhado de uma “jovem liderança indígena” – o Ripa, que aparece no filme “Cronicamente Inviável” -, ou seja, um índio Xavante que sabe se aproveitar muito bem do apoio de ONGs e demais organismos internacionais. O que me chamou a atenção foi o fato de meu amigo estar com uma roupa puída, a gola encardida e o tal índio estar vestido como um VJ da MTV, sem falar do lindo celular e demais apetrechos tecnológicos. Em certo momento meu amigo me disse: “Ele vai à Europa, talvez me leve junto…” E aí tive um insight: meu amigo agora é um Personal Antropologist Tabajara!! No futuro, imagino, todo índio terá o seu, todo índio finalmente terá sua chance de ser um patrão…
Não apenas a galera de Brasília, mas também a de outras cidades, deve se lembrar da excelente banda “Os cachorros das cachorras”. Os caras eram músicos de verdade, tocavam rock, jazz e alguns inclusive participavam da Orquestra Sinfônica de Brasília. O baixista, Alfredog Soriano – hoje, Alfredo bello – dividia apartamento comigo e mais dois amigos. Figuraça – às vezes ia no show de saia ou vestindo só a calcinha da mãe com um coração na bunda – sem falar em seu talento, força de vontade e disciplina. Chegou posteriormente a tocar com Oto e Naná Vasconcelos. Hoje, ele e sua garota, a percusionista Simone Soul, levam adiante o Projeto Cru. Não deixe de conferir.
Se eu continuar nessa minha dureza acabarei tendo de leiloar no Mercado Livre meu exemplar de “O Cânone Ocidental” (Harold Bloom). O fato de a Hilda Hilst o ter enchido de rabiscos e anotações provavelmente o torna caro aos fetichistas culturais de plantão. 🙂 Sim, também o emprestei ao poeta Bruno Tolentino – que aliás foi colega de Bloom em Essex – quem talvez tenha deixado algumas marquinhas e impressões digitais… “Ah”, já dizia Dostoiévski, “o dinheiro… essa coisa maldita que a mim tanta falta faz…”
Engraçado, foi só eu citar, numa entrada anterior, os livros que ando lendo que já apareceu uma ex-namorada – amiga querida – pedindo que eu lhe devolva um dos referidos. Coisas da Internet…